sábado, 20 de junho de 2020

Metástase: mulheres contam como é possível viver com diagnóstico




Metástase. A palavra, que informa que as células cancerígenas antes concentradas se espalharam por outras partes do corpo, mete medo. Faz tempo, entretanto, que o diagnóstico não é considerado o fim da linha. “Hoje, em virtude da evolução tecnológica da oncologia, conseguimos cronificar uma doença metastática, e a pessoa convive com ela, faz seu tratamento e tem um tempo de vida maior do que o previsto anteriormente”, explica Patrícia Werlang Shorn, coordenadora de oncologia do Hospital Santa Lúcia.

De acordo com o Instituto Oncoguia, o tumor metastático tem o mesmo nome e o mesmo tipo de células cancerígenas do tumor primário onde se originou. Por exemplo, o câncer de mama que se dissemina para o pulmão formando um tumor metastático é um câncer de mama metastático, não um câncer de pulmão.

Fernanda Santana Miranda, 39, convive com câncer metastático há quatro anos. A jornalista foi diagnosticada com câncer de mama em 2013. Dois anos depois, descobriu metástase no fígado e no pulmão e, em 2017, no cérebro. Desde então, ela faz parte do grupo Rede Mais Vida Oncoguia, formado por mulheres com câncer de mama metastático, e é uma defensora da conversa franca sobre o tema. “É comum associar o diagnóstico à morte imediata, mas não é verdade”, frisa.

No grupo de Fernanda há integrantes com câncer metastático há 10 anos. “Acredito que, futuramente, será como ter uma doença crônica, como hipertensão ou diabetes”, detalha. “É claro que estou vivendo um momento em que estou assustada, mas tenho fé e esperança de que novos tratamentos vão dar certo.”

Um dos tratamentos inovadores ao qual Fernanda será submetida em breve foi criado por Erlon Gil, rádio-oncologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo. A técnica é uma adaptação da RTC, tratamento padrão feito em casos de câncer cerebral. Ao contrário desse protocolo, em que a radiação atinge o cérebro como um todo, a adaptação ataca somente os tumores, preservando o hipocampo, área responsável pela cognição e memória recente.
A adaptação da RTC tem como vantagem o reforço nas lesões presentes. Ou seja, além de atacar os locais corretos, o procedimento se concentra nos tumores com mais força. “Isso aumenta o controle do crescimento dos tumores”, completa o radiologista. O tratamento é feito com 10 aplicações, com duração de 15 minutos cada. Até agora, 32 pacientes já se submeteram à técnica.

Por ser experimental, o tratamento não é coberto pelo plano de saúde de Fernanda e não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Amigos dela realizaram uma campanha de arrecadação para angariar os R$ 30 mil necessários. Nesse valor, não estão inclusos gastos com a passagem de avião para São Paulo, hospedagem e alimentação pelos 20 a 30 dias que a paciente terá que permanecer na cidade.

Após a campanha, que envolveu até nomes famosos, como Daniela Mercury e Astrid Fontenelle, Fernanda conseguiu bater a meta. “Mesmo assim, vou tentar obter o reembolso desse tratamento e doar o dinheiro para o Oncoguia e para a Associação dos Amigos da Oncologia”, planeja a jornalista.

Por causa dos tumores cerebrais, Fernanda está com a mobilidade reduzida. Não consegue se manter de pé por muito tempo, sente fraqueza e tontura. Ainda assim, é categórica: quanto mais se fala sobre metástase, mais fácil fica conviver com o diagnóstico. “Não estou romantizando o câncer. É uma doença difícil. Mas quando comecei a compartilhar minha história vi que não estava sozinha. O peso diminui quando se fala sobre o assunto.”

Tratamento individualizado

Patrícia Werlang Shorn, coordenadora de Oncologia do Hospital Santa Lúcia, explica que, a depender do tipo de câncer metastático apresentado pelo paciente, há estratégias de tratamento capazes de fazer com que a pessoa tenha uma sobrevida considerável. “Há um tempo, a mulher com câncer de mama poderia viver de um a dois anos quando a doença se tornava metastática. Hoje ela pode viver 10 ou mais”, compara.

Apesar de paliativo, o tratamento de pacientes com metástase não garante apenas a sobrevida, mas uma existência com qualidade. “Temos casos de pacientes vivendo bem, com tratamentos menos tóxicos e efeitos colaterais manejáveis”, completa Eduardo Vissotto, oncologista do Centro de Oncologia Santa Lúcia.

A depender da modalidade do câncer, o oncologista explica que podem ser necessárias algumas alterações na rotina. Mudanças na alimentação, na exposição solar e hidratação mais intensa são algumas recomendações gerais, porém os cuidados específicos vão depender do tipo de câncer apresentado.

Do ponto de vista psicológico, é normal que os pacientes fiquem assustados com o diagnóstico, segundo Ana Carolina Salles, oncologista clínica do Hospital Santa Lúcia e especialista em câncer de mama. “É um grande desafio para a paciente, para a rede de apoio dela, e também para os profissionais de saúde, mantê-la positiva para o enfrentamento da doença”, descreve.

O tratamento e, consequentemente, as limitações dependem do tipo de câncer, mas nada impede que a pessoa continue com suas atividades corriqueiras, como trabalhar, passear ou praticar atividades físicas. “Há pacientes cujos amigos nem sabem que estão em tratamento”, diz a médica. “De forma alguma o diagnóstico de metástase é uma sentença de morte. Muita coisa mudou e tem mudado nessa área.”

Assim como Fernanda, Alexandra Reschke, 56 anos, convive com câncer metastático. Em 2005, ela foi diagnosticada com câncer de mama. Foi tratada e o tumor sumiu, mas outros surgiram em 2014. Após diversas consultas, ela recebeu o diagnóstico de câncer metastático na coluna, no pulmão, no fígado, no pâncreas, na mama, nas linfas e no esterno.

Adepta de meditação, acupuntura, body talk, reiki e naturopatia, Alexandra deu início a um longo tratamento, mesclando as indicações médicas com práticas complementares. Também cortou todo açúcar da dieta, incluindo carboidratos, eliminou produtos ultraprocessados e retirou o que, de acordo com a naturopatia, deixa o sangue mais ácido ou pode causar reações alérgicas.

“A oncologista me disse que a boa notícia é que o tipo de câncer que eu estava tendo, então, era o mesmo de 2005. De lá para cá, já havia sido desenvolvido um tratamento com anticorpos que travam o crescimento dos tumores e dissolvem os com menos de 1 cm”, explica Alexandra.

Quando os resultados dos exames saíram, ela lembra que a oncologista estava com um sorriso de orelha a orelha. “Eu não tinha mais nada na coluna”, comemora. Nas outras partes do corpo, os tumores que ainda restavam tinham diminuído pela metade. “As pessoas devem ser protagonistas do próprio tratamento. Mesmo em um momento de intensa fragilidade, temos poder curativo dentro da gente. A metástase foi um processo de profunda aprendizagem.”

Matéria publicada pelo portal Metrópoles em 17/11/2019. Jornalista Glaucia Chaves.

Fonte: Oncoguia

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