domingo, 28 de agosto de 2011

Oncologista americano diz que com o avanço da genética, há mais esperança para o câncer de mama

Quais são as principais dificuldades emocionais relacionadas ao câncer de mama entre as mulheres? Responder a essa pergunta era a missão do oncologista M. William Audeh, diretor médico do Samuel Oschin Cancer Center de Los Angeles, Califórnia (EUA), no encontro anual da American Psychiatric Association (APA), ocorrido em maio no Havaí.

Conferencista de uma sessão intitulada Avanços sobre o câncer e suas implicações, Audeh, que também dirige um programa de redução de risco para essa patologia, destacou a importância da existência de grupos de apoio para essas pacientes, para que elas possam expressar seus medos. “O único cuidado é que a integração deve acontecer entre mulheres com o mesmo tipo de prognóstico”, afirma. A boa notícia é que, “Com os avanços das pesquisas genéticas, há cada vez mais esperança para essa doença”, completa o médico. Confira a entrevista exclusiva que o oncologista concedeu ao UOL Ciência e Saúde, diretamente do hospital onde trabalha, em Los Angeles:

O que causa maior estresse entre as pacientes de câncer de mama, o medo da morte ou a perda do símbolo da maternidade, da feminilidade e sedução?
William Audeh – É a perda do controle sobre as coisas que têm valor na vida. O câncer causa esse sentimento para muitas pessoas porque é misterioso, embora o conhecimento sobre ele seja vasto. Problemas relativos à sexualidade, fertilidade, feminilidade e aparência sempre aparecem, mas eles variam em sua importância, de acordo com cada mulher. A aparência é causa de grande estresse, porque isso afeta como ela se relaciona com as outras pessoas, independente do gênero.

Após um diagnóstico de câncer, que tipo de ajuda é ideal para lidar com os problemas emocionais e físicos consequentes à doença?
Audeh - Acredito que um bom relacionamento com o oncologista é o mais importante, em razão das decisões que deverão ser tomadas em conjunto, sem que se perca o controle sobre a própria vida. Penso que os amigos e a família, muitas vezes, acabam sendo a causa de maior estresse, pois trazem informações erradas, ou pressionam a mulher para que ela faça coisas que não deseja fazer.

No Brasil há um mito sobre o abandono das mulheres após o diagnóstico do câncer de mama. Isso acontece nos EUA?
Audeh - Eu não vejo isso acontecer com muita frequência. E se acontece, é sinal de que se trata de um relacionamento frágil e pouco saudável. Mas todo tipo de estresse, como questões financeiras ou a saúde podem ser a gota d'água. Entretanto, não é comum que haja mudança na sexualidade, ou que a perda da mama influencie quem realmente ama sua parceira.

Como a família e os amigos podem ajudar?
Audeh - Podem ajudar apoiando e dando liberdade. Como disse, a maioria dessas pessoas aumenta o estresse, quando deveriam apenas ser solidários e incentivar, sem trazer novas informações como, por exemplo, novidades médicas, ou experiência de outras pessoas que podem ser diversas daquela vivida pela paciente em tratamento. Amor e apoio são as melhores coisas.

Qual é a sua opinião sobre a reposição hormonal, ela é correta para todas? A relação com o câncer de mama é real?
Audeh – É claro o aumento do risco para o câncer se a reposição hormonal é feita por mais de 2 anos. Trata-se de uma estratégia que suaviza a transição natural para a menopausa, mas não é um tratamento ou qualquer outra coisa. A menopausa não é uma doença. Algumas mulheres sentem que a reposição mantém sua juventude, mas ela não é diferente do tabagismo quando se pensa nos riscos a longo prazo. É possível que o estrógeno sozinho seja mais seguro do que estrógeno e a progesterona. Porém, para as mulheres que se submeteram a uma histerectomia somente o estrógeno deve ser utilizado.

As mulheres estão se submetendo a um excesso de exames?
Audeh - Eu não aceito esse argumento. Quando encontramos um câncer, nós não sabemos se ele será perigoso ou facilmente erradicado. Assim, a abordagem mais sábia é identificá-lo e gerenciá-lo apropriadamente. Pode até ocorrer um excesso de tratamento, mas isso desaparecerá tão logo a tecnologia genômica possa diferenciar cânceres mais graves de cânceres indolentes (de crescimento lento). Entendo que mulheres acima dos 40 anos devam ser examinadas por especialistas e devem fazer mamografias regularmente. Mulheres com histórico familiar deveriam começar a fazê-lo aos 35 anos. E se for conveniente, devem ainda se submeter à Ressonância Magnética.

Em tempos de tratamento personalizado, como saber qual é a melhor escolha para a paciente?
Audeh - Esse é um problema básico de confiança e comunicação. A mulher precisa ser capaz de fazer as seguintes perguntas ao seu médico: por que essa terapia foi escolhida para mim? Quais são as evidências que a embasam? Quais são as outras opções existentes? Quais são os efeitos colaterais ou danos que esse tratamento pode causar? Quais são os benefícios para mim nesse tratamento, ou o que pode acontecer se eu decidir não fazê-lo? Essas são as perguntas corretas a serem feitas, e todo oncologista deveria ficar feliz em respondê-las.

O que esperar para o futuro?
Audeh -Maiores índices de cura para cânceres no estágio inicial, maior sobrevivência para aqueles com metástase, bem como qualidade de vida, menos uso de quimioterapia e mais uso da targeted therapy, terapia que visa atuar sobre ou bloquear as funções de moléculas específicas das células cancerosas. Essa ação visa eliminar o câncer. Trata-se de uma terapia diversa da quimioterapia ou radiação, que indiscriminadamente procura alcançar as células cancerígenas, mas pode também alcançar as outras sãs. A esperança é que ela seja mais efetiva por ser mais específica para cada câncer, e também menos tóxica, pois é direcionada apenas às células cancerosas e não às demais. Além disso, espera-se ser difuso o uso do perfil genético para o câncer para dar suporte às decisões sobre o tratamento.

Fonte: UOL Ciência e Saúde / Cristina Almeida

Obesidade central aumenta o risco de câncer de mama

Sabemos que a obesidade associa-se ao desenvolvimento de diversas enfermidades crônicas, como a hipertensão arterial, colesterol elevado, diabetes, doença cardiovascular e câncer.

Um estudo realizado pela pesquisadora Jussara Beatriz Borre Felden (Universidade Luterana do Brasil, Canoas, Rio Grande do Sul) sugere que o acúmulo de gordura na parte superior do corpo (obesidade central), ou seja, uma circunferência da cintura (CC) maior que 88 cm, é um preditor de câncer de mama, especialmente em mulheres na pré-menopausa.

O presente estudo tem como objetivo verificar a associação entre a distribuição da gordura corporal e o câncer de mama em mulheres do Rio Grande do Sul. Para este estudo, utilizou-se um delineamento de caso-controle, no qual foram avaliadas cem mulheres com diagnóstico de câncer de mama em comparação com o grupo controle ambulatorial (400 mulheres sem diagnóstico câncer mamário) durante os meses de janeiro a outubro de 2005.

As variáveis antropométricas coletadas foram: pseo (kg), estatura, circunferência da cintura (CC) e perímetro do quadril. Não foi encontrada associação entre o índice de massa corporal (IMC) e a razão cintura/quadril (RCQ) com ocorrência de câncer de mama. Já para CC, observou-se que mulheres com essa medida elevada (maior que 88 cm) apresentam 2,08 vezes mais chance de desenvolver a doença do que aquelas com as medidas normais ou moderadas (menos que 80 com ou até 87 cm).

Quando essas mulheres foram agrupadas por estado menopausal (pré e pós) e variáveis antropométricas, somente a CC apresentou associação.

A autora do estudo concluiu que o acúmulo de gordura na parte superior do corpo (CC maior que 88 cm) é um preditor de câncer de mama, especialmente em mulheres na pré-menopausa.

Fatores de risco para o câncer de mama

Segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), um histórico familiar é um importante fator de risco para o câncer de mama, especialmente se um ou mais parentes de primeiro grau (mãe ou irmã) foram acometidas antes dos 50 anos de idade. Entretanto, o câncer de mama de caráter familiar corresponde a aproximadamente 10% do total de casos de cânceres de mama.

A idade constitui um outro importante fator de risco, havendo um aumento rápido da incidência com o aumento da idade. A menarca precoce (idade da primeira menstruação), a menopausa tardia (após os 50 anos de idade), a ocorrência da primeira gravidez após os 30 anos e a nuliparidade (não ter tido filhos), constituem também fatores de risco para o câncer de mama.

Ainda é controvertida a associação do uso de contraceptivos orais com o aumento do risco para o câncer de mama, apontando para certos subgrupos de mulheres como as que usaram contraceptivos orais de dosagens elevadas de estrogênio, as que fizeram uso da medicação por longo período e as que usaram anticoncepcional em idade precoce, antes da primeira gravidez.

A ingestão regular de álcool, mesmo que em quantidade moderada, é identificada como fator de risco para o câncer de mama, assim como a exposição a radiações ionizantes em idade inferior a 35 anos.

Fonte:Ciência & Saúde Coletiva p/ Dr. Tufi Dippe Jr



terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cientistas descobrem vaso sanguíneo que ajuda a erradicar tumor

Cientistas franceses descobriram que um tipo de vaso sanguíneo ajuda na erradicação dos tumores, ao facilitar o acesso às células cancerígenas dos glóbulos brancos encarregados de destruí-las, informou nesta terça-feira o Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS, na sigla em francês).

O estudo, publicado pela revista americana "Cancer Research", foi realizado com 150 pacientes com câncer de mama e revelou a presença nos tumores dos vasos sanguíneos chamados HEV (High Endothelial Venules).

Normalmente, estes corpos se encontram nos gânglios linfáticos e sua forma abaulada e redonda facilita a passagem dos linfócitos que chegam pelo sangue aos tecidos.

Os pesquisadores constataram que a presença de um grande número de linfócitos assassinos nos tumores correspondia à existência dos HEV, o que sugere que os responsáveis pelo ingresso dos glóbulos brancos ao câncer sejam estes vasos sanguíneos.

A equipe também observou que as probabilidades de cura dos pacientes aumentavam de acordo com a quantidade de HEV no tumor.

A próxima etapa para os cientistas será confirmar estes resultados em um maior número de doentes e estudar a influência dos HEV nos métodos terapêuticos atuais para tratar o câncer de mama, como a quimioterapia e a radioterapia.

Segundo o CNRS, outros trabalhos estão sendo realizados para examinar o papel destes corpos nos melanomas e nos cânceres de ovários e de cólon. A expectativa a longo prazo é aumentar ou desenvolver a presença dos HEV nos tumores para permitir que um maior número de linfócitos assassinos possa atacar as células cancerígenas.

Fonte: Folha

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Luta vencida

As histórias de quem derrotou o câncer comprovam que a força individual de cada um e os avanços da medicina tornam a cura uma realidade possível.


O câncer é uma doença democrática. Não escolhe raça, opção sexual ou religião para atacar. E ele agride com ferocidade assustadora, impondo um sofrimento raramente visto em outras doenças. Felizmente, no entanto, quem está assumindo o comando de uma guerra cada vez mais vitoriosa é a medicina. "Hoje, todos os tipos de câncer, desde que diagnosticados logo no início, podem ser curados", afirma Sérgio Simon, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Mas o melhor de tudo é que a ciência não tem vencido as batalhas sozinhas. As vitórias também se devem ao fato de que os pacientes estão aprendendo a reagir contra o diagnóstico aterrador e começam a escrever outro final para uma história que poderia ter um desfecho doloroso. É uma virada de importância fundamental na luta contra o câncer. Afinal, já se sabe que não é apenas com química e tecnologia que o organismo se recupera. É preciso acreditar na cura, como revelam os depoimentos de quem venceu o câncer destacados ao longo desta reportagem.

Os prognósticos mais favoráveis começam com a detecção rápida do problema. Isso é possível graças aos sofisticados equipamentos que desvendam o corpo humano e ao preparo cada vez maior dos especialistas. Foi o que aconteceu com a menina Louise Ginaid, 11 anos, moradora de Vitória, no Espírito Santo. Em janeiro de 1995, sua mãe, Lolita da Rocha Pimenta, 37 anos, correu para o médico assim que notou um pequeno aumento no lado esquerdo do peito de sua filha. O médico, ao examinar a garota, não hesitou.

"O pediatra olhou a costela dela, abriu um livro com fotos sobre tumores malignos e disse: ‘É para ontem! Tem que começar o tratamento já.’ Fomos na mesma hora para São Paulo, onde diagnosticaram o neuroblastoma (tumor no sistema nervoso simpático, responsável por reações de alerta no organismo). O tumor estava do tamanho de uma bola de futebol de salão e já tinha se espalhado para a perna. A chance de ela continuar vivendo era mínima. Se a quimioterapia não conseguisse reduzir o tumor, não daria para operar e nada mais poderia ser feito. A notícia nos abalou, mas seguimos em frente. As sessões duraram quatro meses e o tumor foi reduzido à metade (cerca de 8 centímetros de diâmetro). A operação para retirá-lo aumentou as chances de cura para 20%. Mas era um tipo de tumor tão agressivo que para evitar uma reincidência era preciso um novo ataque bem mais potente de quimioterapia. Por isso, foi feito o autotransplante ambulatorial de medula óssea. A Louise é uma criança abençoada e cooperava muito. Mantínhamos ela na ativa, pois cruzar os braços e ficar com dó não adianta nada. O tratamento durou seis meses. Voltamos para casa com Louise curada." Na época do diagnóstico Louise estava aprendendo a velejar. Hoje, depois de interromper os treinamentos por causa do tratamento, ela já participou de dois campeonatos brasileiros na classe Optimist e acabou de disputar, em Vitória, uma seletiva para o mundial. Bons ventos para Louise. "Adorei quando voltei para casa e pude ver a praia. Adoro velejar. Parece que estou voando. Nem parece que tem o mar", diz.

O autotransplante ambulatorial – um dos benefícios da ciência recebido por Louise – é uma técnica que permite ao paciente receber altas doses de quimioterapia (drogas que matam o tumor) e ter a medula óssea preservada. É um procedimento importante porque é ela que produz as células de defesa do corpo, que devem ser resguardadas de um ataque químico. Antes do bombardeio das drogas, células da medula são retiradas e ficam como uma reserva estratégica. Depois do tratamento, essas mesmas células são reinjetadas e passam a produzir novas células de medula. Na modalidade ambulatorial, o procedimento é feito sem a necessidade de internação. "Além de diminuir os custos e os riscos de infecção, o transplante ambulatorial ajuda na recuperação da criança", diz o oncologista Vicente Odone Filho, do Instituto da Criança, em São Paulo, e médico que cuidou da velejadora mirim.

Na verdade, manter o doente o mais próximo possível do seu mundo é apenas parte de uma nova abordagem no tratamento da doença. Hoje, o que já se começa a fazer é tratar o paciente – criança ou adulto – levando em conta sua história de vida. É aí que entra a ajuda da terapia e outros recursos, como até mesmo aulas de canto para diminuir o sofrimento. A própria doença também recebe uma visão multidisciplinar. O cronograma de tratamento, por exemplo, é estabelecido por vários especialistas envolvidos no caso, como patologista e radioterapeuta. "Esse tipo de abordagem é muito importante para a humanização do tratamento", explica o oncologista Antonio Petrilli, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Quem teve de vencer o câncer há alguns anos atrás não contava com esse apoio. O estudante e auxiliar administrativo Jackson Carlos Joaquim, 25 anos, submeteu-se ao tratamento de um linfoma de Hodgkin – um tipo de tumor que ataca os gânglios linfáticos, que fazem parte do sistema de defesa do corpo – em um tempo no qual a importância da psicologia não era muito valorizada no tratamento da doença. Os traumas foram tantos que um belo dia ele próprio resolveu se dar alta.

"Tinha oito anos quando começaram a aparecer gânglios no meu pescoço. Passei por vários médicos antes de descobrirem que eu tinha câncer. Senti muito medo quando disseram que iam operar a minha barriga para fazer uma biópsia do fígado e baço para saber se o tumor tinha se espalhado pelo corpo. O tempo em que fiquei internado foi muito duro, mas foi quando fiz as melhores amizades da minha vida. No quarto onde eu estava havia mais cinco garotos como eu. Nossa diversão predileta era jogar futebol no corredor do hospital com uma bola de papel. Passado algum tempo da operação voltei para o quarto. Fiquei abalado. Meus amigos não estavam mais lá. Só mais tarde descobri que tinham morrido. Saí do hospital, mas continuei a quimioterapia até os dez anos. Já não aguentava mais. Numa das sessões a enfermeira falou que teria que tomar uma injeção na coluna. Fugi. Desci as escadas correndo com o meu pai atrás de mim. Disse para ele que não queria fazer mais tratamento algum. Parei e meu pai aceitou, mas só porque já estava no final. Só reencontrei o médico que cuidou de mim nove anos depois, no mesmo hospital, onde consegui um emprego e trabalho há seis anos. Hoje, casado e com uma filha de quase dois anos, sei que estou curado."

Nessas histórias de sucesso contra o câncer, muitas vezes a doença desenha um novo caminho na vida do doente. Fábio Batista, 28 anos, médico residente em ortopedia na Unifesp escolheu a carreira por causa do drama que viveu. Em 1987 ele soube que estava com um tumor maligno no joelho esquerdo. Fábio tinha 16 anos e não fazia idéia de que carreira iria seguir.


"Tenho certeza de que se não tivesse passado pelo câncer não teria me tornado médico. E muito menos especialista em ortopedia. Já peguei pacientes com casos parecidos com o meu e faço questão de contar a eles a minha história. A doença me despertou para um mundo que não conhecia. Quando recebi o diagnóstico achei que era o fim da vida. Só me tranquilizei depois que o médico me explicou o que era. Passei a encarar a situação de frente. Assim que começou a cair o cabelo, não senti vergonha e raspei tudo. A quimioterapia é muito ruim. Mas passa. O importante é pensar positivo. Mantinha um astral ótimo e isso me ajudava a lutar. Sempre fui muito ativo. Praticava mil esportes. Tive que colocar uma prótese no joelho. Não posso correr, jogar futebol, pular. Em contrapartida, ando de bicicleta, nado e danço normalmente."


A lição de alto-astral de Fábio encoraja e dá uma idéia da importância de se acreditar na vitória sobre a doença. Essa esperança também foi o que alimentou a geógrafa Stela Goldenstein, 46 anos, secretária estadual adjunta do Meio Ambiente de São Paulo. Há nove anos, ela teve diagnosticado um tumor nos ovários. Os dois ovários e o útero foram retirados. Depois de seis meses de quimioterapia, uma segunda cirurgia para investigação e verificação constatou que o câncer ainda estava no organismo. Foi preciso mais seis meses de quimioterapia para debelá-lo.

"Fazia a quimioterapia no sábado, vomitava domingo e segunda e ia para o trabalho na terça. Meu marido me auxiliou muito. Busquei outros tratamentos, como a acupuntura e a antroposofia, que ajudaram a melhorar a minha condição geral. Tinha gente que ficava com pena de mim, mas não podemos nos sentir como coitados. Ficar bem era uma tarefa só minha. Apesar de já ter dois filhos, não queria perder os ovários, pois sempre gostei da possibilidade de ter filhos. Isso é um patrimônio muito especial da mulher. No entanto, não me senti menos feminina. O câncer me deu consciência de que era mortal, que é uma noção muito importante e que a todo tempo tentamos negar. Essa experiência fez com que eu passasse a ter menos medo da morte. E perder o medo da morte é fundamental para aproveitar melhor a vida.

Stela tem mesmo todos os motivos para comemorar. O câncer de ovário é um dos mais difíceis de ser detectado no estágio inicial e o seu índice de cura no Brasil não ultrapassava os 15% até o início dos anos 80. Foi apenas daí em diante que a taxa de cura duplicou, com o surgimento de uma droga quimioterápica chamada cisplatina. Seu uso, aliado a outros quimioterápicos, elevou para 80% a chance de cura de câncer de testículo. "A taxa de sucesso é tão alta que, se o tratamento der errado, não nos perdoamos", diz o oncologista paulista Antonio Carlos Buzaid. A cisplatina também é uma arma importante contra o tumor de bexiga. O governador de São Paulo, Mário Covas, se beneficia de sua eficácia. Hoje, quatro meses depois de ter sido submetido a uma cirurgia para retirada de um câncer na bexiga, Covas está bem e prepara-se parar fazer a última sessão de quimioterapia com a cisplatina e outros dois remédios.

O câncer de mama é outro tipo de tumor que tem perdido com os conhecimentos que a medicina lapida ano a ano. Somente durante o encontro anual da Associação Americana para a Pesquisa do Câncer, ocorrido na Filadélfia há duas semanas, foram divulgados três novos estudos a respeito do tema. Dois se referiam à identificação de genes relacionados ao desenvolvimento da doença. E o outro confirmava a eficácia da herceptina – quimioterápico mais moderno – no bloqueio de um gene que pode estimular mutações ligadas ao crescimento de tumores em até 30% das pacientes de câncer de mama. Os recursos para o tratamento, no entanto, não param aí. Umas das grandes aliadas da mulher nessa batalha é a cirurgia de reconstrução da mama, indicada para os casos em que é preciso retirar total ou parcialmente o seio. A reconstrução é um sinal de que, às portas do ano 2000, o combate ao câncer não procura só destruir os tumores, mas também está preocupado em dar qualidade de vida ao paciente que supera a doença. "Com a reconstrução, a mulher não fica mutilada e se sente com mais força para se dedicar ao tratamento", diz João Carlos Sampaio Góes, diretor do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC). No ano passado a secretária paulista Marlene Souza Silva, 38 anos, passou por uma mastectomia (retirada total da mama) no seio direito e fez a reconstrução mamária. Sua história mostra como se pode ir do fundo do poço à alegria na briga contra a doença, com a ajuda da ciência.

"Estava tomando banho quando senti uma pontada no seio direito. Passei a mão e percebi um caroço. Fiquei dois anos sem ter um diagnóstico exato. A mamografia não registrava o tumor e o médico que procurei achava que era uma displasia mamária (desenvolvimento anormal do tecido). O tumor só foi descoberto no ano passado e já estava com quase cinco centímetros. O médico me disse que eu teria que fazer radioterapia, quimioterapia e que talvez tivesse que tirar a mama. Sempre fui expansiva e brincalhona, mas naquele momento me senti morta. O aspecto emocional pesou. Sou muito feminina e vaidosa e a possibilidade de ficar mutilada me afetou demais. Minha primeira reação após a cirurgia foi olhar o seio reconstruído. Fiquei aliviada. A sensibilidade da mama não foi afetada. Uso decotes e continuo bonita."

O estímulo para tanta dedicação ao câncer de mama deve-se em grande parte aos números. A incidência dele na população é a segunda maior entre todos os tipos de tumor. Para este ano, a estimativa, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), é de que 31 mil novos casos surjam no País. O câncer que terá maior incidência é o de pele do tipo não-melanoma. Ou seja, é o mais inofensivo, ao contrário do melanoma, altamente letal. O câncer de colo de útero vem em terceiro lugar no ranking, com 20,6 mil novos casos, e o de estômago ocupa o quarto posto, com uma incidência estimada em 20,3 mil novos casos. A atriz Dercy Gonçalves, 92 anos, foi uma das pessoas que superaram esse tipo de câncer. O diagnóstico foi dado há oito anos e Dercy, com a força que sempre a caracterizou, nunca deixou de acreditar.

"Tô ferrada. Foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça quando descobri que estava com câncer. Mas sou privilegiada e não me aprofundo na tristeza. Só penso no amanhã. No dia seguinte ao diagnóstico saí para comprar um carro e comecei a pensar no que ia fazer depois que me curasse. Sempre acreditei que ia sair daquela. Fiquei boa porque fui logo fazer os exames assim que me senti mal. O câncer só estava em uma das paredes do estômago, mas tiveram que tirar quase metade dele. Estou ótima. Posso comer de tudo."

Um dos maiores desafios que ainda restam é conseguir a cura para o câncer de pulmão. Comum em homens – as estimativas do Inca para 1999 mostram que 14,8 mil novos casos devem surgir entre a população masculina – é também um dos mais perigosos. "É difícil diagnosticá-lo no início", explica o pneumologista paulista Wlademir Pereira Junior. "Normalmente, quando é detectado, ele está em um estágio que não dá para operar", completa. Por isso, nesses casos, quando a vitória acontece, ela tem um sabor ainda mais especial. Foi o que aconteceu com o jornalista carioca Victor Abramo, 46 anos, que durante a luta contra a doença esteve bem perto da morte.

"Sentia fortes dores de cabeça que chegavam a turvar a minha visão. Como a dor não passava, procurei um neurologista. A tomografia pedida por ele acusou um tumor no cérebro. Fui operado no dia seguinte. A cirurgia foi um sucesso. Mas quando estava me recuperando recebi a notícia de que o tumor no cérebro era uma metástase (quando o câncer se espalha pelo organismo) de um tumor no pulmão. Teria de ser operado de novo. Mas em nenhum momento pensei que fosse morrer. Não fiquei deprimido e minha família e amigos me deram muitas demonstrações de carinho. Minha atual esposa estava grávida de sete meses. Não podia abandoná-la. Fui operado dez dias após a primeira cirurgia. Um terço do meu pulmão direito foi retirado. Poucos dias depois, minha mulher foi me ver na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e falou no meu ouvido: ‘É menino!’ Ela havia acabado de receber o resultado do ultra-som. Pensei comigo: ‘Tenho que viver para conhecer esse filho.’ Hoje, além das cicatrizes, não tenho nenhuma sequela e, em outubro, comemoro cinco anos de batalha vencida. Fumei por 25 anos. Hoje não toco mais no cigarro. Até superei o meu problema de gagueira depois de passar por tudo isso. Falo normalmente."

São os desafios que fazem a medicina evoluir e o ser humano se superar. Prova disso é a história da guerra travada entre o analista de sistemas Maurício Andreta dos Santos, 30 anos, e o câncer. A razão de um linfoepitelioma na rinofaringe (tumor no sistema linfático localizado na parte da faringe situada atrás do nariz) tê-lo atacado não se sabe. Maurício praticou natação dos oito aos 21 anos de idade. Sempre dormiu e acordou cedo. Nunca bebeu, fumou ou usou drogas. Em 1994, recebeu a notícia do câncer. Maurício morava em Santos, no litoral de São Paulo, e durante o tratamento teve de se afastar do banco em que trabalha, em São Paulo. Depois de um ano de quimioterapia e radioterapia, exames de tomografia e ressonância magnética não acusaram mais a presença do tumor. Em outubro de 1995 o analista de sistemas passou por novos exames de controle. Os resultados assustaram: o câncer havia se espalhado para o pulmão. "Por quê?", pensou ele. "Queria fugir, mas não sabia para onde", relembra. Maurício retomou a quimioterapia. Fazia o tratamento em Santos e subia a serra para ir ao trabalho. Em fevereiro de 1996 não aguentou o ritmo e pediu nova licença no emprego.

"Descobri um novo tipo de quimioterapia que estava sendo testada no Hospital das Clínicas em São Paulo. Atacava mais o tumor e produzia menos efeitos colaterais. Passei dois anos me tratando lá, até a médica me dizer que o tratamento não estava mais surtindo efeito. ‘Maurício, não temos mais remédios para te dar’, ela me disse. Fui encaminhado para outro médico. Ele explicou que somente um caso no mundo como o meu, tão resistente à quimioterapia, tinha sido tratado com sucesso. Minha única chance era o transplante de medula óssea. Se não tentasse, talvez não sobrevivesse mais do que seis meses. Fui internado em 4 de março de 1998. Recebi uma quimioterapia 30 vezes mais forte do que a normal. Minha boca, esôfago e intestino ficaram destruídos. Não conseguia comer, beber nem dormir. Minha imunidade caiu a zero e fui para a ala de isolamento do hospital. Tive alta em maio, mas sofri uma recaída forte. Passei cinco dias na UTI com infecção generalizada. Meus pais e Flávia, minha namorada, rezavam muito. Saí da UTI e fizeram uma biópsia no meu pulmão. Voltei para casa no dia 8 de junho. Depois de uma semana fui pegar o resultado do exame. Chorei de emoção quando soube que estava livre da doença."

Maurício retomou o trabalho no banco, de quem contou com o apoio durante todo o tratamento. Transferiu-se para São Paulo e na semana passada completou um mês de casamento com Flávia. "Não se pode abaixar a cabeça", diz o hematologista Celso Massumoto, que realizou o transplante de medula óssea no analista de sistemas. Maurício também voltou a nadar. No primeiro mergulho, experimentou uma indescritível sensação de ter nascido de novo. "Quando caí na piscina parecia que nunca havia nadado antes."

Fonte: ISTOE
THIAGO LOTUFO
Colaborou Clarisse Meireles (RJ)





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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Tratamentos para a alma

Médicos e hospitais começam a adotar a espiritualidade e a esperança como recursos para o combate de doenças

Há uma revolução em curso na medicina que mudará para sempre a forma de tratar o paciente. Médicos e instituições hospitalares do mundo todo começam a incluir nas suas rotinas de maneira sistemática e definitiva a prática de estimular nos pacientes o fortalecimento da esperança, do otimismo, do bom humor e da espiritualidade. O objetivo é simples: despertar ou fortificar nos indivíduos condições emocionais positivas, já abalizadas pela ciência como recursos eficazes no combate a doenças. Esses elementos funcionariam, na verdade, como remédios para a alma – mas com repercussões benéficas para o corpo. No Brasil, a nova postura faz parte do cotidiano de instituições do porte do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, da Rede Sarah Kubitschek e do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio de Janeiro, três referências nacionais na área de reabilitação física. Nos Estados Unidos, o conceito integra a filosofia de trabalho, entre outros centros, do Instituto Nacional do Câncer, um dos mais importantes pólos de pesquisa sobre a enfermidade do planeta, e da renomada Clínica Mayo, conhecida por estudos de grande repercussão e tratamentos de primeira linha.

A adoção desta postura teve origem primeiro na constatação empírica de que atitudes mais positivas traziam benefício aos pacientes. Isso começou a ser observado principalmente em centros de tratamento de doenças graves como câncer e males que exigem do indivíduo uma força monumental. No dia-a-dia, os médicos percebiam que os doentes apoiados em algum tipo de fé e que mantinham a esperança na recuperação de fato apresentavam melhores prognósticos. A partir daí, pesquisadores ligados principalmente a essas instituições iniciaram estudos sobre o tema.
Hoje há dezenas deles. Um exemplo é um trabalho publicado na edição deste mês da revista científica BMC Câncer sugerindo que o otimismo é um fator de proteção contra o câncer de mama. “Verificamos que mulheres expostas a eventos negativos têm mais risco de contrair a doença do que aquelas que apresentam maiores sentimentos de felicidade e positivismo”, explicou Ronit Peled, da Universidade de Neguev, de Israel, autor da pesquisa. Na última edição do Annals of Family Medicine – publicação de várias sociedades científicas voltadas ao estudo de medicina da família – há outra mostra do que vem sendo obtido. Uma pesquisa divulgada na revista revelou que homens otimistas em relação à própria saúde de alguma forma ficaram mais protegidos de doenças cardiovasculares. Os cientistas acompanharam 2,8 mil voluntários durante 15 anos. Eles constataram que a incidência de morte por infarto ou acidente vascular cerebral foi três vezes menor entre aqueles que no início estavam mais confiantes em manter uma boa condição física. Provas dos efeitos da adoção da espiritualidade na melhora da saúde também começaram a surgir. Nos estudos sobre o tema, a prática aparece associada à redução da ansiedade, da depressão e à diminuição da dor, entre outras repercussões.


No Brasil, a inclusão da ferramenta na prática médica está mudando a rotina dos hospitais. No Instituto de Ortopedia, no Rio de Janeiro, por exemplo, o trabalho médico é acompanhado pelo suporte psicológico, dedicado especialmente a fortalecer uma atitude mais positiva. O trabalho, claro, não é simples. Os pacientes costumam ser vítimas de traumas medulares ocorridos em situações como acidentes ou quedas. De uma hora para outra, têm a vida totalmente limitada. “Por isso, precisamos ajudá-los a enfrentar a nova situação. Eles têm de passar por uma reabilitação física e emocional”, explica a psicóloga Fátima Alves, responsável pelo grupo. E quem faz isso usando o otimismo e a esperança como armas sai ganhando. “Mostramos principalmente aos mais descrentes que a postura positiva no enfrentamento da doença é um remédio”, afirma Tito Rocha, coordenador da unidade hospitalar do instituto. Em breve, eles abrirão um grupo para incentivar o cultivo da espiritualidade pelos doentes.

Na Rede Sarah, os pacientes são estimulados a participar de atividades que melhorem o humor e a disposição. Entre eles, estão o remo, a dança e os jogos. “No processo de reabilitação, esses recursos são fundamentais”, afirma Lúcia Willadino Braga, presidente da Rede Sarah e considerada uma das melhores neurocientistas do País. “A doença deixa de ser o foco. Quando isso acontece, a recuperação é acelerada. O paciente fica menos tempo internado e retorna às suas atividades mais rapidamente”, afirma. Constatações semelhantes são obtidas no InCor, em São Paulo. Lá, quem está internado recebe suporte psicológico para não entrar em depressão – já considerada fator de risco para doenças cardíacas – e manter o otimismo. “É preciso dar força para o espírito para que o corpo se recupere”, afirma o cardiologista Carlos Pastore, diretor de serviços médicos da instituição.

Talvez o símbolo mais emblemático do fim do preconceito da medicina ocidental contra questões relativas à emoções e espiritualidade seja o que está acontecendo na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a mais tradicional do País. Em novembro, a instituição sediará um evento para mostrar aos profissionais de saúde a importância de recursos como a espiritualidade e o bom humor na recuperação de pacientes. O curso será ministrado pelo geriatra Franklin dos Santos, professor de pós-graduação da disciplina de emergências médicas da universidade. No programa, há um bom espaço para ensinar os médicos e enfermeiros a usarem essas ferramentas. “Discutimos como isso deve ser aplicado na prática”, diz o médico, que tem dado palestras pelas escolas de medicina do País inteiro.

Nos Estados Unidos, também há um esforço para treinar os profissionais de saúde. Só para se ter uma idéia, o Instituto Nacional de Câncer americano criou uma espécie de guia para orientar médicos, enfermeiros e psicólogos sobre como usar a espiritualidade do paciente a seu favor. Todo esse interesse é o sinal mais patente de que a revolução vai durar. Por isso, ninguém deve se surpreender se quando chegar ao consultório médico for indagado sobre suas condições de saúde, obviamente, mas também sobre sua relação com a espiritualidade ou disposição de esperança. “Questões como essas devem começar a ser cada vez mais levantadas”, defende Brick Johnstone, professor de psicologia médica da Universidade Missouri-Columbia, nos EUA.

Fonte: ISTOÉ
ADRIANA PRADO E GREICE RODRIGUES Colaborou Cilene Pereira

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Capital tem maior risco de câncer de mama

Rosemary, que superou a doença, hoje percebe alguns fatores de risco em sua vida: era sedentária, não teve filhos e vivia estressada.

São esperados para este ano 5.760 novos casos de câncer de mama na capital, mais de um terço do total estimado para o Estado de São Paulo, que é de 15.080. Trata-se de um número que não se explica simplesmente pelo tamanho da população. Quando se considera a incidência esperada para cada 100 mil mulheres, por exemplo, as taxas relativas à cidade também são bem superiores aos números estaduais. Por aqui há um risco estimado de 89,91 casos a cada 100 mil mulheres, número que cai para 68,04 no Estado.

Os dados são do último levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca), chamado Estimativas 2010: Incidência de Câncer no Brasil, que traz informações de referência para os anos 2010 e 2011. Neste contexto, a região Sudeste surge como o local do País onde o câncer de mama é o tipo de neoplasia mais incidente entre as mulheres, com um risco médio estimado de 65 casos novos por 100 mil.

A situação da cidade não reflete apenas possíveis melhorias nas condições de diagnóstico em relação ao interior paulista: a maioria das outras neoplasias tem taxas semelhantes por 100 mil habitantes para capital e Estado: 5, 88 a 5,08, respectivamente, no caso da leucemia; 17,57 a 14,37 em relação ao câncer de colo de útero.

Especialistas ouvidos pelo JT atribuem o panorama da capital para a doença ao estilo de vida da paulistana. Isso porque o tumor de mama, diferentemente do que ocorre com outros tipos de câncer, tem relação direta com o estilo de vida urbano. Os fatores externos são, portanto, determinantes para essa neoplasia: apenas 10% delas têm origem genética.

“Vários estudos comprovam que, quanto maior o nível socioeconômico de uma população, mais altos são os índices de câncer de mama”, diz José Roberto Filassi, mastologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Nas capitais, ressalta, os hábitos diários costumam ser menos saudáveis. “Mulheres desses locais são mais sedentárias, ingerem mais álcool, fumam, têm filhos mais tarde e amamentam menos”, enumera, listando alguns dos fatores de risco da doença. Soma-se a isso a maior exposição à poluição e ao estresse.

A gerente de eventos Rosemary Amaral, de 45 anos, encaixa-se no perfil urbano. Nunca foi casada, não teve filhos. E conta que só deixou o sedentarismo em 2009, quando descobriu a doença. “Estava muito estressada com o meu trabalho, cuidava muito das pessoas e esquecia de cuidar de mim”, lembra (conheça a história dela ao lado).

A falta de exercícios físicos também era uma realidade na vida da cabeleireira Maria Aparecida Araújo, de 41 anos, que teve de mudar de hábitos após enfrentar o câncer. “Fiz um autoexame e detectei um carocinho do tamanho de uma bolinha de gude. Pouco tempo depois estava do tamanho de uma laranja. Mas procurei ajuda rápido”, lembra. O diagnóstico veio três meses após Maria perder o pai e a mãe, no mesmo dia – ele, vítima de um câncer de boca; ela, afetada por um acidente vascular cerebral.

A boa notícia é que o câncer de mama, se detectado no início, é curável na maioria dos casos. No Brasil, contudo, o diagnóstico tardio eleva as taxas de mortalidade. A Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) calcula que 30 mulheres morram por dia no País por causa da neoplasia. E quase metade (45,3%) é diagnosticada em estágio avançado.

A dona de casa Gisele Cifarelli, de 40 anos, sabe o quanto a rapidez é essencial contra o tumor. Passaram-se só três meses entre o autoexame que lhe indiciou um caroço no seio e a retirada da mama, em 2009. Ela teve o apoio da filha, de 8 anos, e de uma sobrinha que se mudou para sua casa apenas para auxiliá-la. “Encarei o problema, acreditei no tratamento. Hoje, estou livre da doença”, diz. Em julho, Gisele fez a cirurgia de reconstrução da mama e, além de recuperar a saúde, resgatou também sua autoestima.

Fonte: Estadão -> TATIANA PIVA