Entenda quais são as fases de enfrentamento do câncer, do diagnóstico ao tratamento, e por que um atendimento integrativo e multidisciplinar é um facilitador para o paciente oncológico
Por: André Murad(foto: Klaus D. Peter, Wiehl/Wikipedia)
O processo de enfrentamento e de tratamento para combater o desenvolvimento do câncer é desgastante e cansativo por diferentes motivos, para o paciente e para seus familiares. Insegurança, medo e muitas dúvidas são comuns desde os primeiros momentos em que se pensa na possibilidade de se ter a doença.
Metade dessas emoções e medos se dissipa quando o paciente confia no médico à frente dessa investigação para esclarecer todas as dúvidas. Hoje, pretendo oferecer também algumas informações que poderão ajudar o paciente a se situar e, inclusive, a entender como conversar com seu médico.
Particularmente, defendo que o paciente deva ter nesse momento o maior conforto possível, com um atendimento multidisciplinar, multifuncional e integrativo que o ajudará a lidar com esse processo de forma mais leve.
Na primeira parte do processo, o próprio diagnóstico se mostra motivo de estresse desde a observação de sintomas pelo próprio paciente, que o levam, normalmente, a um clínico geral, ou especialista na área em que os sintomas aparecem, como gastroenterologista, ginecologista, otorrino, dermatologista e outros. Muitos pacientes, por medo, acabam negligenciando sintomas e elevando a gravidade da doença.
Após a primeira consulta, inicia-se a bateria de exames que podem incluir coleta de sangue, ultrassonografia, mamografia, endoscopia, raio-x, biópsia etc. Em meio à preocupação de estar ou não com uma doença grave, o paciente precisa se locomover, na maior parte das vezes, para lá e para cá durante a realização destes exames. Infelizmente, devido à quarentena tem ocorrido grande redução dos diagnósticos oncológicos, um perigo para a vida desses pacientes, pois o câncer não espera.
Pois bem, muitas vezes, a descoberta de um sintoma indicativo de câncer pode acontecer em uma consulta de rotina, como no caso do câncer de mama e de próstata. Daí, a importância também de se manter os exames preventivos e de rastreamento em dia. Na oncologia, o diagnóstico precoce faz toda diferença para se alcançar a cura.
Após a confirmação do diagnóstico e do choque de receber a notícia, o paciente é direcionado a um oncologista, que irá entender exatamente qual a situação do paciente, podendo até pedir exames complementares para, então, elaborar a estratégia de tratamento.
Hoje em dia, os pacientes têm à disposição as chamadas terapiaspersonalizadas e de precisão, como imunoterapia e drogas alvo, que podem ser utilizadas após a análise do perfil genético do tumor. Essa análise ocorre por meio de testes genéticos avançados que avaliam o DNA do tumor. A utilização dessas novas drogas ou combinação com terapias tradicionais, como quimioterapia, irá variar em cada caso.
Por isso, a partir disso, o tratamento oncológico se divide em diferentes caminhos, de acordo estagiamento da doença e do tipo de estratégia determinada pelo médico. Serão planejadas a frequência e a dosagem para tratamentos que envolvam a quimioterapia, hormonioterapia, terapia alvo e imunoterapia. Se for o caso de lançar mão da radioterapia, por exemplo, será necessária a realização de uma Tomografia Computadorizada de Planejamento.
Essa fase, desde o período sintomático até o planejamento do tratamento inicial, inclui inúmeros processos tanto para o paciente quanto para a família, como aprender a lidar com sintomas de incapacidade; adaptar-se ao ambiente de serviço de saúde e aos procedimentos do tratamento; estabelecer e manter relações de confiabilidade com a equipe de assistência médica.
É nesse sentido que defendo a equipe multidisciplinar, multifuncional e integrativa, para que esse processo de adaptação seja o mais tranquilo possível para o paciente, que terá em um mesmo local todas as especialidades e serviços de saúde de que precisa para o tratamento. Não precisará ficar se locomovendo para endereços diferentes e lidando com equipes diversas a cada fase. Isso, sem dúvida, reflete em maior conforto e confiança para passar pelo tratamento.
Pois bem, depois desse planejamento, enfim, é iniciada a administração do tratamento oncológico. Em alguns casos, o paciente precisará ir até a clínica ou hospital para receber a medicação. A quimioterapia intravenosa, por exemplo, pode ser feita com intervalos determinados pelo médico ao longo do mês. Já a radioterapia é geralmente feita todos os dias, e as sessões podem durar até 15 minutos, aproximadamente, dependendo dos fatores envolvidos.
No caso da quimioterapia via oral, a administração pode ser feita em casa, respeitando os horários e instruções médicas.
Destaco, sobretudo nessa fase de quarentena em que muitos pacientes estão receosos em sair de casa, a importância de se seguir o tratamento até o fim, sem interrupções. O paciente não deve faltar nos dias de tratamento ou pular sessões. Neste momento, recomendamos a manutenção do mesmo acompanhante em todas as consultas e sessões, assim como seguir todas as recomendações de segurança para se proteger de uma possível contaminação por coronavírus.
Após o fim do tratamento, tendo resultados positivos e até a cura, o paciente poderá ser liberado. Mas, se a doença persistir, pode ser necessário buscar alternativas para combater a doença. Somente a equipe médica, com base em exames, poderá dizer se ainda será necessária uma nova estratégia ou se a doença realmente foi combatida.
Se o prognóstico for de cura, os pacientes podem levar uma rotina normal, seguindo as orientações médicas ao longo dos primeiros meses pós-tratamento. A ressalva é que o “normal” na rotina de algumas pessoas, muitas vezes, é um comportamento completamente nocivo à saúde incluindo hábitos como tabagismo, dieta desequilibrada, etilismo etc. Nesses casos, não aconselho o retorno à rotina “normal”, que possivelmente foi decisiva para o desenvolvimento da doença. Então, até questiono, por que uma pessoa que lutou pela vida retornaria a esses hábitos?
Por outro lado, há aquelas pessoas cujos tumores se originaram devido às chamadas Síndromes Hereditárias de Predisposição ao Câncer. Para estes, é importante não só ter esse diagnóstico devidamente confirmado sobre risco de recorrência do tumor no mesmo local e até em outras partes do corpo, dependendo do tipo de síndrome, como também realizar uma investigação genética ou Check-up Oncológico de outros membros familiares, que poderiam, eventualmente, portar a mesma síndrome.
Dito isso, destaco que é importante, por mais difícil que seja, tentar manter uma visão otimista durante todo esse processo, percebendo o câncer como uma doença, não como um castigo. É uma doença que pode, sim, ser curada, sendo o diagnóstico em fase inicial um diferencial. Destaco, por fim, que é fundamental que o paciente confie em seu médico e que tire com ele todas as dúvidas que possam surgir. Tenha isso sempre em mente!
*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.
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Fonte: Saúde Plena
As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
É muito importante (sempre) procurar mais informações sobre os assuntos.
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