Acupuntura para pacientes com câncer
Por Natália Mancini
A acupuntura é uma antiga técnica chinesa que utiliza agulhas finas para estimular os nervos do corpo. Essas agulhas são inseridas em pontos específicos, gerando uma resposta neuro-hormonal, auxiliando no manejo de diversos sintomas. Um estudo publicado no Jama Oncology, um dos principais periódicos de Oncologia, mostrou que essa técnica pode ser utilizada para diminuir a dor oncológica.
Cerca de 50% dos pacientes oncológicos apresentam dor em todos os estágios da doença. Ela está presente em 25% dos pacientes recém-diagnosticados, 33% daqueles que estão realizando o tratamento antineoplásico e em até 75% no estágio avançado de câncer.
Este sintoma acontece por dois principais fatores, conta Marcus Pai, médico especialista em acupuntura e dor na Clínica Dr. Hong Jin Pai & Associados. O primeiro, é próprio tumor, que pode pressionar algumas estruturas do corpo, como ossos, nervos e alguns órgãos. Já o segundo motivo são os tratamentos antineoplásicos, como a quimioterapia e a radioterapia.
“A maioria dos pacientes que procuram acupuntura é para problemas relacionados à dor. Nos últimos 12 anos, a Oncologia Integrativa, um ramo da medicina integrativa, tentou combinar terapias complementares. Dessa forma, incluindo acupuntura, no tratamento convencional do câncer”, ele diz.
Agulhar um ponto de acupuntura do sistema nervoso central estimula a produção e liberação de endorfina, diminuindo o desconforto. Além disso, essa técnica também influencia na liberação de interleucinas, proteínas produzidas pelos leucócitos, e adenosina, responsável por auxiliar o metabolismo, causando um efeito analgésico.
Quais os benefícios da acupuntura?
A acupuntura pode ser utilizada pelos pacientes oncológicos para diversos objetivos, como amenizar ansiedade, náusea e estresse. Além disso, estudos têm mostrado a sua eficácia como tratamento adjuvante para a diminuição da dor.
O efeito analgésico foi apontado por um estudo de meta análise publicado no Jama Oncology. Durante a pesquisa foram analisados mais de vinte testes já realizados. Os pacientes que participaram de um desses testes classificaram seus níveis de dor antes de serem submetidos à acupuntura. A escala ia de zero (nenhuma dor) a dez (severa).
Parte deles recebeu uma acupuntura não real, na qual as agulhas foram colocadas em locais não relacionados com a melhora da dor, como se fosse um placebo. Já no outro grupo de pacientes, a técnica foi realizada nos locais corretos.
No final, os participantes classificaram novamente a dor e percebeu-se que o grupo que recebeu a acupuntura real apontou uma queda de 1,38 pontos na escala.
Em um outro teste analisado, as pessoas submetidas à acupuntura diminuíram em 30 miligramas as doses diárias de morfina.
“O tratamento com a acupuntura depende do diagnóstico, intensidade dos sintomas e terapias já realizadas. Para dores musculares, muitas vezes a acupuntura pode ser suficiente para trazer alívio de dor miofascial na coluna ou no pescoço. Enquanto que para pacientes com dor neuropática, realizamos uso complementar da acupuntura com medicamentos. Dessa forma, aceleramos o processo de reabilitação da pessoa”, explica Marcus.
Ou seja, é possível utilizar a acupuntura em diversas etapas do tratamento oncológico com diferentes objetivos.
Pontos de acupuntura para câncer
Os pontos a serem trabalhados variam de paciente para paciente e devem ser decididos em conjunto pelo oncologista e pelo especialista que aplicará a acupuntura. Os locais não necessariamente são fixos. É possível alterá-los em cada sessão, tornando o tratamento mais otimizado e dinâmico.
“Na acupuntura, trabalha-se pontos com efeitos locais e sistêmicos. Ou seja, existem pontos com efeito na região com sintomas, como o IG4 na mão para tratar neuropatia nas mãos. E há também pontos que apresentam efeitos difusos no organismo, como ponto PC6 no antebraço, que tem efeito para relaxamento. Podendo ajudar nas náuseas e vômitos”, exemplifica o especialista.
Cuidados necessários para realizar a acupuntura em pacientes oncológicos
Primeiramente, é essencial estar atento à higiene e assepsia do local e dos materiais para evitar riscos de infecções. Todos os equipamentos e agulhas devem ser descartáveis. Em segundo lugar, está a questão da condição da pele do paciente.
“Não se deve realizar acupuntura sobre a pele com sinais de lesões dermatológicas ou infecciosas agudas. Também não realizamos acupuntura em pessoas com linfedema”, Marcus fala.
De forma geral, a acupuntura é uma técnica segura e raramente apresenta efeitos colaterais, como dor no local da aplicação e pequenos sangramentos. Porém, os pacientes com cânceres hematológicos, em algumas situações, podem entrar na lista de quem não deve fazer acupuntura.
“A princípio, evitamos fazer acupuntura em pacientes com trombocitopenia e neutropenia, que podem ser da própria patologia ou secundárias a efeitos mielossupressores da quimioterapia ou radioterapia. Isso acontece porque há um maior risco de formação de pequenos hematomas locais na região do agulhamento”, ele alerta.
Pacientes que utilizam anticoagulantes devem receber um maior cuidado, considerando que estão mais propensos a terem sangramentos
Implantação da acupuntura no SUS
A acupuntura está disponível no SUS desde 1988, quando foram criadas diretrizes para o atendimento médico dessa técnica. Atualmente, é possível encontrá-la em vários níveis de serviços públicos.
“Existem centros de acupuntura em postos de saúde como UBS ou AME, além de grupos especializados em acupuntura em hospitais oncológicos. Por exemplo, pacientes que estão em tratamento no ICESP, e que necessitam de reabilitação ou controle de dor crônica, tem à disposição uma equipe de médicos especialistas no tratamento de dor com acupuntura”, finaliza Marcus Pai.
Fonte: Abrale
As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
É muito importante (sempre) procurar mais informações sobre os assuntos
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