Por Natália Mancini
Florescer a partir de um momento duro não é fácil. Mas muitos pacientes oncológicos optam por começar uma vida nova depois que finalizam o tratamento e recebem alta.
Medo e ansiedade são sentimentos muito presentes durante esse processo. Negação também. E foi essa a primeira reação de Luciana Menconi ao descobrir que tinha um linfoma não-Hodgkin. Ela relembra que naquele momento pensou: “onde já se viu eu estar com câncer? A médica não sabe o que está falando”. Seu maior medo era morrer e ela não queria realizar a quimioterapia.
A psicóloga Flávia Sayegh explica que esse tipo de reação é muito comum. Pensar na finitude de tudo é um assunto que muitos evitam.
“Atualmente, apesar do câncer ter altos índices de cura, algumas pessoas ainda o associam à morte. Quando o diagnóstico do câncer vem, é o momento que a pessoa pensa nesta questão. Mas conforme o tratamento acontece e ela sobrevive às etapas, um novo pensamento passa a surgir e o paciente entende que há uma chance”, explica.
E foi assim com Luciana. Após retornar à mesma médica e entender todo o tratamento, ela sentiu uma grande vontade de enfrentar o câncer de queixo erguido. “Queria me curar e tinha a fé como uma grande aliada nesse momento. Ter mudado minha forma de pensar foi realmente decisivo para o meu tratamento e para a minha cura”.
Em busca da cura do câncer
Luciana conta que cada etapa vencida, cada ciclo de quimio finalizado e cada exame feito é um bloquinho para a construção da cura. “A sensação de ver que o tratamento está funcionando é maravilhosa e incentiva ainda mais o paciente a continuar lutando”, comenta a paciente.
Mas estar curado e receber alta do tratamento são duas coisas diferentes e não acontecem ao mesmo tempo. A alta ocorre no momento em que o paciente é liberado do tratamento. Enquanto que a cura só acontece após cinco anos da alta, podendo variar em cada caso.
E foi justamente durante esse intervalo que Luciana foi pega no susto. “Um ano e meio após a finalização do tratamento, o linfoma voltou. E claro que pensei ‘o que seria essa cura então?’ Mas ele voltou, eu me tratei e, dessa vez, realizei o autotransplante de medula”, disse ela.
No início de 2019, Luciana completou seu tratamento novamente, mas confessa que ainda não se sente confortável. Isso porque uma vez por ano precisa refazer os exames.
De acordo com a psicóloga, essa sensação é muito comum. “Esse é um momento no qual os “exs”-pacientes ficam muito ansiosos e inseguros com o resultado, devido ao medo de uma recidiva de câncer. O medo logo após a alta também é normal. Isso porque, até então, ele estava ali assistido por uma equipe médica e outros profissionais de saúde. E, nessa alta do tratamento, ele se vê sozinho, de novo à vida”, disse Flávia.
A vida nova após o câncer
Algumas pessoas encontram dificuldade em retomar à vida. Como dito, isso normalmente acontece porque elas estão se sentindo sozinhas e desamparadas. A rotina do tratamento acaba e o contato com a equipe médica não é mais tão frequente. Então esse é um momento no qual essa pessoa precisa de muito cuidado.
“É preciso entender que não se está sozinho. O apoio psicológico será bem importante nesse período. Nessa etapa, o papel do suporte vai ser para ajudar a pessoa a se reorganizar diante de uma vida nova. É importante entender quais as atividades que vão fazer sentido para a pessoa naquele momento, o que ela quer resgatar da vida de antes do tratamento e o que ela não quer continuar fazendo, e principalmente como ela pode fazer isso”.
O importante, acima de tudo, é ter calma! E buscar espaços onde se sinta bem acolhido.
Uma nova maneira de viver
A psicóloga Flávia explica que o câncer “obriga” a pessoa a parar para prestar atenção na vida.
“Trabalhamos muito, perdemos muito tempo em trânsito, nos deslocando de um lugar para o outro, fazendo muitas atividades. Então, fazemos muita coisa no automático. Eu entendo que o paciente é ‘obrigado’ a parar essas atividades para cuidar de si e da sua saúde. Dessa forma, ele percebe uma fragilidade que passa desapercebida por conta da rotina tão atribulada”.
Então, é comum rever valores e crenças. Além de analisar quais são os reais desejos, vontades, se tudo o que faz no dia a dia tem sentido.
“Sou uma nova Luciana. Depois do câncer, mudei muito. Mudei a maneira de me relacionar socialmente, sou mais receptiva. Quis ter um cachorro, coisa que eu nunca tinha tido vontade de ter antes. Sentia a necessidade de doar mais amor, realizando trabalhos voluntários ou pequenas ações que possam fazer o dia de alguém melhor. Percebi que isso também me fazia bem.”, conta a ex-paciente de linfoma
Ela continua que “Profissionalmente, mudei radicalmente. O câncer me tirou de um caminho que não era tão bom para mim e me colocou em outro que eu acredito ser minha missão pessoal. Fui demitida durante o tratamento e depois senti claramente que o mercado já não me queria mais. E isso me fez escolher outra profissão e hoje estou dedicada a área da psicanálise.”
A partir disso, quando o tratamento acaba, é natural que a pessoa procure fazer atividades que a deixam mais satisfeita. Atividades que não necessariamente a tragam um retorno material, mas sim um prazer emocional.
Luciana relembra que os principais hábitos que mudou foram os alimentares e os de vida. “Eu não chego a ser assim, neurótica, mas busco ter uma alimentação mais saudável. Criei também o hábito de fazer pilates para a minha saúde. Acho fundamental praticar meditação e a minha religiosidade. Estudo tarô, psicanálise e aromaterapia. Tenho procurado algumas terapias integrativas como uma maneira de me manter corpo e mente saudáveis”, finaliza.
Fonte: AbraleAs informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
É muito importante (sempre) procurar mais informações sobre os assuntos
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