Todos nós temos, ou já tivemos a impressão que doenças graves só vão nos acometer na velhice. Talvez, nem nos preocupamos muito com a saúde quando somos jovens, porque temos aquela vaga ideia de que doença é coisa de terceira idade. Claro que existem exceções, existe pessoas que cuidam da alimentação, da mente, do sono, do corpo desde jovens, mas sabemos que isso é raro. Devido a nossa própria maneira de levar à vida, imposta socialmente, as pessoas se estressam muito e tem pouco tempo para descansar e se cuidar. Mesmo assim, mesmo se cuidando pouco, nós jovens temos a ideia de que vamos adoecer apenas quando ficarmos velhinhos.
E eu vivia assim, acelerada na minha rotina. Até que um dia, eu me vi deitada numa cama de hospital. Naquele momento, tudo desabou. Eu, com 24 anos numa cama de hospital? Como assim, eu jovem, com todo o futuro pela frente numa cama de hospital! Com tanta coisa para viver, para fazer… Com tantos sonhos e objetivos pela frente. Quando uma doença acomete pessoas jovens, sempre parece algo muito mais trágico. Eu lembro, na minha primeira internação, como as pessoas viravam o pescoço para me ver passando pelos corredores do hospital de maca ou cadeira de rodas.
Foram várias internações em poucos meses, uma atrás da outra. Quanto mais triste eu ficava, mais a EM se manifestava. Eu entrei em depressão profunda. Foi necessário muito trabalho psicológico e o afastamento de todas as minhas atividades para que eu pudesse me recuperar psicologicamente.
O trabalho psicológico deve ser uma vigilância constante. A manifestação da EM está muito ligada com nosso estado de espírito. Não sabemos totalmente ao certo porque a EM se manifesta, mas há indícios que o estado emocional influencia muito na progressão da doença. O auxílio de psicólogos e psiquiatras pode ser uma importante ferramenta complementar ao tratamento convencional. Por termos que aprender a controlar nosso lado emocional e a saúde como um todo (atividade física, sono, alimentação, bem estar…) a esclerose múltipla nos dá uma importante oportunidade de crescimento.
Parece um pouco otimista demais da minha parte ver o lado bom da EM. No entanto, quando algo tão forte acontece na nossa vida, temos apenas duas escolhas: tentar aprender a lidar com isso e ter coragem, ou apenas nos entregar. No início do diagnóstico, quase todos nós nos entregamos. Até que, em algum momento, percebemos que é um desperdício se entregar, a vida é algo tão precioso, nós precisamos lutar por ela.
Doentes ou sãos, todos nós estamos nas mãos da imprevisibilidade da vida. Pessoas saudáveis morrem em circunstâncias das mais variadas. Todos os dias, doentes e sãos morrem. A vida de todos nós é breve, ela é como água líquida que vai escorrendo pelas mãos. Nós não podemos parar o tempo e todos nós vamos ficar doentes um dia. A maior questão é: será que aproveitamos a vida? Se tivermos oportunidade de chegar a uma idade avançada, nós vamos olhar pra trás e nos sentir satisfeitos com o que fizemos?
Quando nos descobrimos portadores de uma doença, a ideia da finitude da vida se torna ainda mais palpável. Como já dizia o velho ditado, costumamos a aprender mais na dor do que no amor. E a oportunidade da doença se encontra aí: aprender a valorizar o tempo, os momentos que nos sentimos bem fisicamente, as pessoas que amamos. Aprendemos a fazer tudo com gosto, até a lavar uma louça! Tudo fica mais gostoso. Ficamos mais gratos, agradecemos por tudo, pelo ar que respiramos, por ter passado um dia bem sem surto da EM. Isso, acreditem, é uma grande vantagem. Passar a ter essa consciência!
Nós, portadores de doenças crônicas, podemos viver melhor que pessoas saudáveis, simplesmente por valorizar a vida! Nós temos a oportunidade de chegar ao final e poder abrir um sorriso de felicidade ao ver que nós conseguimos amadurecer, aprender a valorizar a nossa existência e a usar nosso tempo.
Valorizando a vida, nós vamos nos cuidar cada vez mais para que ela dure o máximo possível, vamos lutar para viver com qualidade. E todos os cuidados para ter uma vida saudável vão fazer com tenhamos ainda mais gosto de viver. E esse ânimo vai fazer com que tudo tenha mais alegria e empenho, o trabalho que fazemos, os nossos momentos de lazer, o descanso. Além de que, com todo o trabalho psicológico, nós desenvolvemos a compaixão, aceitação e todos outros aspectos que nos fazem ser mais humanos. É, também, uma oportunidade de evolução como ser humano.
Esse tema da oportunidade de crescimento é muito vasto! Dá para se falar várias vezes sobre isso e com muitas abordagens diferentes. Espero continuar escrevendo sobre esse assunto nos próximos artigos! Eu escrevo, não para passar uma ideia de que sou um exemplo de superação, mas para dividir um pouco do que eu aprendi com a doença!
Tenho muito a evoluir. Todos nós podemos evoluir a cada dia, não se chega nunca à perfeição. Sempre há algo a aprender e isso é muito bonito! Eu ainda me vejo no inicio de uma grande jornada de aceitação e autoconhecimento. E quem não está nessa jornada?
Fonte: Amigos Múltiplos
As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
É muito importante (sempre) procurar mais informações sobre os assuntos
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