Sensação provocada pelo bom humor ajuda no tratamento de doentes, pois faz aumentar a secreção de endorfina, que é uma substância que relaxa as artérias, melhora a circulação e beneficia a reação imunológica.
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A constatação da psicóloga após a rápida recuperação do pai foi semelhante à do psiquiatra William Fry, da Universidade de Stanford, na Califórnia. Ele percebeu que os doentes sob os seus cuidados necessitavam de uma quantidade muito menor de medicamentos contra a dor, após ter introduzido o bom humor na rotina deles. Hoje, há testes que demonstram que o riso, ou o bem-estar que ele proporciona, de fato facilita a recuperação de pacientes, reduzindo o tempo de internação em cerca de 20%. A explicação é que o riso faz aumentar a secreção de endorfina, uma substância que relaxa as artérias, melhora a circulação e beneficia a reação imunológica contra vírus e bactérias. Além disso, estimula a produção de adrenalina, o que ocasiona mais irrigação nos tecidos, que recebem mais oxigênio, aumentando a capacidade do paciente de resistir à dor.
A liberação da droga natural é apenas o início de uma onda química que se inicia no cérebro e sacode o corpo dos pés à cabeça. Tudo começa no hipotálamo, que dá uma ordem para que o organismo libere a endorfina, com propriedades analgésicas. Na garganta, o ar que vem dos pulmões bate nas cordas vocais, que emitem sons incoerentes. As glândulas lacrimais aceleram sua produção. Os músculos do rosto se contraem – são cerca de 28. O coração bate mais rápido, as artérias se contraem e depois se dilatam, dando uma sensação de bem-estar. O diafragma se move e provoca espasmos respiratórios na caixa torácica. O esfíncter relaxa, por vezes, provocando uma indesejável incontinência urinária. Os músculos das pernas relaxam e a pessoa se curva de tanto rir. Por fim, até mesmo os dedos dos pés se agitam. Ou seja, em uns poucos segundos o simples gesto de rir exercita todo o corpo – somente o baço parece não ser afetado.
Toda essa comoção que o riso é capaz de provocar é bastante eficiente na proteção contra infartos e doenças coronárias. A constatação é do estudo feito no final do ano passado pelo Centro Médico da Universidade de Maryland (EUA), com a presença de especialistas de vários países. “Quanto mais gostosa a gargalhada ou mais efusiva a risada, maior será a síntese de produção de endorfinas”, escreveu o médico Eduardo Lambert, especializado em terapias holísticas e autor do livro A Terapia do Riso. Segundo ele, o riso permite um relaxamento, que ajuda a normalizar a respiração arterial. “Se as pessoas tivessem o hábito de rir várias vezes ao dia, estariam amenizando a descarga de adrenalina no organismo e permitindo uma descarga de endorfinas”, observa o médico.
Por outro lado, pessoas mal-humoradas, impacientes, irritadas, contrariadas, rígidas e autoritárias estão mergulhadas num processo de tensão, que promove uma grande descarga de adrenalina, o que aumenta a predisposição para acidentes vasculares como infartos, anginas e derrames. Alguns estudiosos do comportamento acreditam que terapia do riso possa ajudar a complementar o tratamento de depressão e distimia (mau humor crônico), doenças que afetam cerca de 340 milhões de pessoas em todo o mundo e que são desencadeadas por um possível desequilíbrio químico, envolvendo neurotransmissores em regiões do cérebro que comandam o humor, como o sistema límbico, o hipotálamo e o lobo frontal.
Não é de agora que o efeito do riso no tratamento de doenças vem sendo sondado. Hipócrates, o pai da Medicina, 400 anos a.C., já tentava reanimar seus pacientes com brincadeiras. Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, mostrou em um de seus trabalhos que as cenas cômicas e o riso ajudam a melhorar a saúde. A terapia do riso, porém, só ganhou notoriedade na década de 1960. Sua difusão se deve ao médico americano Hunter Adams, conhecido por Patch Adams, que desde a sua época de estudante já implantava esse método em hospitais e escolas. Ao observar o baixo estado de alegria e de humor em seus doentes, resolveu introduzir a terapia do riso, que consiste no recondicionamento de atitudes e hábitos perniciosos arraigados na personalidade para viver com amor e felicidade; envolvendo autoestima, amor-próprio e o bom humor.
Numa época em que teorias holísticas estão em alta, o tema também foi abordado em Anatomia de uma Doença, livro de Norman Cousins, que conta como conseguir vencer a doença assistindo seriados cômicos da televisão.
Os resultados animadores fizeram a terapia sair das salas dos hospitais e ganhar o ambiente de trabalho. Na Índia, algumas empresas decidiram fazer uma sessão de riso antes de iniciar a jornada de trabalho. Segundo seus administradores, o resultado é um aumento considerável na produção em decorrência do bem-estar físico e emocional dos trabalhadores. Segundo a especialista comportamental e conferencista Leila Navarro, a explicação do sucesso da terapia no ambiente de trabalho é simples: “Quem ri é mais produtivo, mais criativo, mais comunicativo, toma decisões com maior agilidade, fica menos doente e até comete menos acidentes, já que ama a vida e não quer perdê-la”, explica Leila. Segundo ela, 80% do que acontece durante todo o dia são determinados pelos primeiros dez minutos da manhã. E começar o dia de bem com a vida é um bom ponto de partida para quem deseja viver com qualidade.
O riso e a personalidade
O médico Eduardo Lambert, especialista em terapias holísticas, estudou o riso tão a fundo que chegou a estabelecer tipos de temperamento a partir da risada. São eles: Sorriso aberto – em geral, próprio de pessoas extrovertidas, amigas e leais; Sorriso verdadeiro – demorado e simétrico, provocando rugas nas pálpebras, instala-se gradualmente e se vai lentamente, despertando sinceridade e confiança; Sorriso largo – próprio de pessoas abertas e generosas; Riso constante – é próprio da pessoa que está sempre contente e otimista, demostrando força de caráter; Riso contagiante ou vibrante – próprio de pessoas emotivas e otimistas, desperta a vontade de rir também.Mas há também os chamados risos negativos, que são ruins para quem o faz, já que a pessoa não sintetiza todas as endorfinas que poderia sintetizar. Alguns exemplos: Riso de boca fechada – próprio de pessoas que controlam o que dizem; Riso de lado – é do tipo falso, a pessoa disfarça o sorriso para que o outro não o perceba; Riso falso – em geral, é rápido, tipo “acende-apaga”, e não provoca rugas de expressão ao redor dos olhos, e é assimétrico, pois o rosto fica imóvel; Rápido – próprio de pessoas egoístas, pessimistas ou introvertidas.
Como acontece o riso
O riso movimenta inúmeras partes do corpo. Cérebro: o hipotálamo, centro de controle situado na base do cérebro, libera do organismo endorfina, com propriedades analgésicas e calmantes. Nariz e garganta: o ar proveniente dos pulmões bate nas cordas vocais, que emitem sons incoerentes. As glândulas salivares e lacrimais aceleram sua produção e se descontrolam. Rosto: os músculos do rosto se contraem, especialmente o risório e o zigomárico. A tensão desse último pode dar uma aparência enganosa de sofrimento. Coração: bate mais rápido. Após terem se estreitado, as artérias se dilatam, provocando uma sensação de bem-estar. Tórax: os pulmões expelem enormes quantidades de ar, a grande velocidade. O diafragma se move, provocando fortes espasmos respiratórios em toda a caixa torácica. Ventre: os músculos abdominais se contraem com força, o que é bom para a vesícula. Às vezes, o esfíncter se relaxa, ocasionando uma desagradável incontinência urinária. Pernas: os músculos relaxam e a pessoa se curva de tanto rir. Pés: até os dedos dos pés se agitam.O fato é que inúmeros estudos comprovam que o bom humor pode ter uma influência positiva no combate de doenças e mostra a importância destes recursos na prática de promoção da saúde. Portando, quando se trata de hábitos saudáveis, sorrir é coisa séria.
*Roberta de Medeiros é jornalista científica. E-mail: roberta.neurociencias@gmail.com
**Conteúdo adaptado do texto “O riso como forma de terapia”
Fonte: Psique
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