quinta-feira, 13 de abril de 2017

Efeitos anticâncer do exercício no CA de mama – Parte I

Durante as últimas décadas, fomos expostos a inúmeros estudos que atestaram a prática de exercícios durante e após o tratamento antineoplásico quanto a sua segurança, capacidade do paciente em realizá-los e redução dos principais efeitos colaterais do câncer (CA) e de sua terapia. Como resultado, sabemos hoje que a melhora da qualidade de vida do paciente associa-se diretamente a melhora de suas aptidões físicas. 

Além destas evidências, mais recentemente, dados de estudos epidemiológicos sinalizaram que a realização de exercícios durante o tratamento também diminui os índices de recidivas e aumenta a sobrevida do paciente. Por exemplo, em recente publicação sobre o assunto, constatou-se que mulheres com CA de mama que treinaram de forma regular com a intensidade e o volume programados durante a quimioterapia reduziram sua mortalidade em impressionantes 44% - não houve redução naquelas que se mantiveram fisicamente ativas realizando apenas tarefas do dia a dia (limpeza, jardinagem, arrumação da casa etc.) sem exercícios programados.

Segundo pesquisadores da Universidade de Copenhagen, este efeito anticâncer do exercício no CA de mama se dá pela regulação de fatores sistêmicos crônicos (adaptação ao treinamento de longo prazo) e agudos (após uma sessão de exercício). São eles:

Fatores crônicos

  • Hormônios sexuais – tanto em mulheres na pré ou pós-menopausa, níveis elevados destes hormônios estão associados ao aumento da incidência do CA de mama.  Altos níveis de exercício se correlacionam inversamente aos níveis de estradiol e testosterona circulantes, principalmente quando acompanhados por perda de gordura (emagrecimento) e independente da menopausa.
  • Insulina - pessoas que sofrem de diabetes tipo 2 e / ou obesidade apresentam aumento da incidência  e mortalidade ao câncer. Explicado, pelo menos em parte, pela resistência à insulina e consequente aumento de suas concentrações no sangue (hiperinsulinemia). A insulina não só controla os níveis de glicose no sangue induzindo captação periférica de glicose, mas também exerce efeitos anabólicos e antiapoptóticos (impede a morte natural) de células normais e malignas. O exercício é capaz de induzir redução significativa nos níveis basais de insulina circulante em pacientes com CA de mama. Entretanto, este fenômeno também é dependente da perda de peso.
  • Inflamação – a proteína C-reativa (PCR) e seus precursores IL-6 e TNF-α são marcadores inflamatórios associados ao aumento de incidência de câncer e morte precoce depois de seu diagnóstico - pacientes com CA de mama possuem altos níveis de PCR. A realização de exercícios em longo prazo (pelo menos 4 meses) é capaz de reduzir a PCR, principalmente quando associada a restrição dietética. Os dados obtidos em pacientes com CA de mama são mais controversos, porém, nesta população, este efeito redutor é mais pronunciado na IL-6.

Diante do exposto, o treinamento de longo prazo pode diminuir os níveis sistêmicos dos fatores de risco de CA de mama acima mencionados. No entanto, o controle da ingestão calórica deve ser levado em consideração para potencializar a redução desses fatores.

No meu próximo texto, abordarei os fatores de regulação agudos dependentes do exercício no CA de mama. Não percam!

Quer saber mais? Referências dos estudos citados:

  • Ammitzbøll, Gunn, et al. "Physical activity and survival in breast cancer." European Journal of Cancer 66 (2016): 67-74.
  • Dethlefsen, Christine, Katrine Seide Pedersen, and Pernille Hojman. "Every exercise bout matters: linking systemic exercise responses to breast cancer control." Breast Cancer Research and Treatment (2017): 1-10.

Até a próxima. 
Rodrigo Ferraz

Fonte: Oncoguia.

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