quinta-feira, 13 de abril de 2017

Superação – o exercício colaborando nesta missão

"Uma coisa é fato: sua vida irá mudar após o diagnóstico e estará em suas mãos decidir o seu rumo. Suas escolhas definirão se será para melhor ou pior” 

Nesta minha última década de trabalho com pacientes oncológicos, presenciei histórias de transformações de vida capazes de emocionar até mesmo os mais durões. Todas graças ao câncer.  Casos de pessoas que, ao invés de buscar um culpado no passado, encontraram esperança no que está por vir e foram atrás de seus sonhos. Para mim, isso se chama superação.

- "Como eu gostaria de andar de bicicleta no parque com meu filho!”


Vejo constantemente sedentários convictos começarem a praticar algum esporte após o diagnóstico de câncer. Por vezes, apenas para poder compartilhar momentos com a família e amigos. Porém, para outros, este desejo pode ser algo mais audacioso. Porque não dizer, quase impossível...

 - "Meu sonho sempre foi o de correr uma Maratona!”

Desde jovem, uma alemã ansiava completar uma Maratona. Entretanto, sua rotina de vida a impedia. Faltava-lhe tempo. Aos 39 anos, tomando antidepressivos, pois enfrentava um momento pessoal muito difícil que envolvia uma recente morte de um ente querido por causa do câncer, seguido pelo desemprego e o divórcio, descobriu um linfoma de Hodgkin já em estadiamento IIb.  Para ela, este diagnóstico, neste contexto, tinha apenas um sentido: sua vida precisava mudar.

Por estar em um quadro mais avançado da doença, iniciou imediatamente a terapia quimioterápica e, por conhecer os benefícios da realização de atividade física, conversou com seu médico oncologista para que ele lhe aconselhasse alguma atividade de apoio - ficar em casa sem fazer nada esperando a chegada dos sintomas do tratamento não era para ela.

Seus exames de sangue estavam dentro da normalidade - principalmente os de hemoglobina. Suas funções cardiopulmonares também se encontravam inalteradas – realizou eletro/ecocardiograma para isto.  Com tudo em ordem, seu médico sugeriu então que ela procurasse um preparador físico especializado e que fizesse um teste de tolerância ao esforço (ergoespirométrico) para que os parâmetros fisiológicos da prescrição de exercícios fossem compatíveis com suas capacidades físicas. 

Desta forma, ela iniciou um programa de atividade física aeróbica  (caminhada/corrida) seguindo, inicialmente, as diretrizes dos principais guias de exercícios para pacientes oncológicos (4X por semana). Tudo transcorreu da melhor maneira possível e entre o primeiro e o segundo ciclo de quimio, voltou a sua cabeça o seu velho sonho: - Seria possível correr uma Maratona nas utais condições? 

Após conversa com seu médico e seu treinador, ficou decidido que seu treino aumentaria de volume gradativamente, de acordo com as suas respostas fisiológicas as corridas e ao tratamento. Assim, ela começou a treinar mais seriamente e em pouco tempo foi capaz de correr 10 km. Ela treinava normalmente, exceto no dia da infusão e no dia subsequente que serviam para descanso.

Alguns meses depois, no dia 26 de Outubro de 2008, aquilo que parecia impossível virou realidade: a alemã completou, sem nenhuma intercorrência, com o tempo de 4h37min, sua primeira maratona (42Km), em Frankfurt! 

Além de mostrar a viabilidade e segurança da pratica de exercícios durante o tratamento - ressalto que isso não deve ser feito sem consentimento do seu médico nem sem acompanhamento especializado -, essa história nos mostra que, para um paciente em tratamento que tenha condição física e força de vontade, os limites podem estar muito além daqueles imaginados. Para a alemã, o diagnóstico de câncer foi o estopim para uma mudança radical de vida e, é claro, que foi para melhor. Para mim, isso tem um nome: superação.

Observações:


  • A frase do início, eu a ouvi de uma sobrevivente de câncer de mama em um encontro de pacientes oncológicos que debatiam o impacto da doença em suas vidas.
  • O caso relatado foi publicado em uma revista científica. Sua referência: Bernhoerster, Marcus, et al. "Marathon run under chemotherapy: is it possible?." Oncology Research and Treatment 34.5 (2011): 259-261.

Até a próxima...
Rodrigo Ferraz

Fonte: Oncoguia

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