Essa é uma história que quase ninguém sabe. Eu nunca falei abertamente sobre isso e nem dividi com muitas das pessoas mais próximas a mim.
Mas há alguns meses estive em depressão.
Meus textos são minha cura. E escrevo esse texto para selar a minha cura.
Eu me lembro bem desse dia.
Voltei para casa de metrô. Andei pela Avenida Paulista à noite. Sem energia. Eu só queria chegar logo em casa.
Eu olhava para as pessoas no metrô. “Como era possível existir tanta gente em São Paulo e eu me sentir tão sozinho?”
Eu caminhei pela saída cabisbaixo e me senti em um filme. Eu parecia um daqueles personagens tristes. Eu olhei em volta e só via cinza.
Senti uma falta imensa da natureza, das cores, de plantas e da vida. Achei que era só isso que estava faltando. Só estava sentindo falta de natureza.
Mas era mais que isso.
Eu cheguei em casa e fiquei ainda mais triste. Estava sozinho e senti a solidão ainda mais profunda. Pensei em ligar para alguns amigos, pra minha família, mas eu nem sabia o que falar. Eu não queria falar sobre amenidades, trabalho nada disso. E não me sentia à vontade para falar sobre o que eu estava sentindo, porque nem eu sabia. Eu nem sabia porque estava sofrendo…
Comecei a chorar.
Achei que fosse apenas um choro de liberação de coisas que eu havia guardado na semana.
Mas eu sabia que era mais profundo que isso.
Abri meu computador e busquei no google: “Depressão”
Em poucos segundos tive a constatação. Eu tinha todos os sintomas de depressão grave.
Não tinha vontade de socializar nem sair de casa, não tinha energia, não fazia atividades físicas, não me alimentava bem, acordava sem vontade de sair da cama, oscilava muito o humor, me sentia indiferente aos outros, não conseguia terminar nada que começava, me sentia pressionado, culpado, ficava irritado e sentia uma tristeza profunda.
E o que mais me incomodava é que eu não sabia porque estava vivenciando aquilo.
Quando li aquilo, foi como um soco no estômago. Porque eu sabia que era exatamente o que eu estava vivendo. Eu estava em depressão.
A depressão para mim era uma coisa muito fora da realidade. Eu achava que era algo que acontecia com pessoas que estivessem vivendo muitas dificuldades, que estivessem em condições de vida muito diferentes da minha, somente com pessoas que tivessem passado por um trauma grande.
Eu não passei por isso. Então jamais achei que pudesse acontecer comigo.
Então comecei a entender.
E o entendimento trouxe a aceitação. “OK, eu aceito que estou em depressão. E agora, o que faço?”
Depois que eu aceitei, eu comecei a me observar ainda mais e buscar criar as condições para que eu saísse desse estado. E dia após dia eu fui melhorando.
Esse é um tema sério e eu não sou especialista para dizer o que você deve fazer, mas compartilho aqui os aprendizados que tive com essa experiência.
1 – Aceitar que eu estava em depressão
Enquanto eu não tivesse consciência disso, eu não seria capaz de sair. Quando tomei consciência, passei a olhar mais para minhas rotinas, para minha vida e vi que de fato, estava vivendo de uma forma que me levaria cada vez mais para o buraco.
A depressão não é uma doença horrível que faz as pessoas quererem se matar. A depressão é um estado onde sua energia não flui, onde sua alma está triste com a vida que você está levando.
E como temos uma sociedade que se baseia na competição, em valorizar o mais forte, onde usamos máscaras e não fazemos o que temos vontade de fazer, é cada vez mais comum as pessoas entrarem em depressão.
Se isso estiver acontecendo com você, fique calmo e entenda como algo natural.
Tudo começa quando você toma consciência de onde está.
2 – Compartilhar com alguns amigos
Falar sobre o que você está sentindo e vivendo é uma das maiores curas.
Falar com um amigo, um parente ou alguém próximo sobre o que você está passando faz você começar a aceitar mais.
Ao falar, você tem mais entendimento. Um dos motivos que me levou a depressão foi pensar demais. Pensar muito e não colocar para fora o que eu pensava. Aí a mente começa a me enganar, dar voltas em mim e me levar para cenários que não faziam sentido.
Eu escolhi alguns amigos para compartilhar o que sentia e ouvi as histórias deles.
Coincidentemente (ou não) esses meus amigos já tinham passado por isso. Quando eles contaram suas histórias, eu me senti acolhido. Senti que não estava sozinho. E parei de sentir vergonha pelo que eu estava vivenciando.
Eu tinha vergonha de estar em depressão. E por ter vergonha eu me fechava mais. Mas quando ouvi histórias de amigos que também tinham vivido o que eu estava vivendo, eu passei a ficar mais confortável comigo mesmo.
Não vou citar os nomes aqui para preservá-los, mas eles sabem quem são. E sabem que eu sou eternamente grato ao apoio que me deram.
Escolha uns amigos que vão te entender. Escolha aqueles que não vão te julgar e nem sair te dando conselhos que você não vai conseguir seguir. Quem está em depressão precisa de acolhimento e não de conselhos.
3 – Mudar hábitos
Eu precisava mudar meus hábitos.
Mas ao mesmo tempo, eu sentia que não tinha forças para isso. Eu mesmo não queria mudar os hábitos. Estava acostumado a viver daquela forma.
Então pedi para esses meus amigos que sabiam o que eu estava vivendo para me ajudarem a sair de casa.
Cheguei pra um deles e falei: “Me convida pra almoçar. Se você não me chamar, eu não vou sair de casa.” E então almoçamos juntos vários dias naquelas semanas.
Me forcei a fazer programas que eu não fazia há meses, como ir ao cinema ver uma comédia, por exemplo.
Até hoje me lembro que o filme era horroroso, mas o passeio foi bom.
Quem está em depressão precisa criar novas memórias, novas sinapses e por isso é importante fazer coisas diferentes. Coisas que você não vem fazendo nos últimos meses.
Não precisa ser o programa mais incrível do mundo. Basta ser um programa diferente.
4 – Se permitir chorar
Quando eu descobri que estava em depressão, comecei a lutar contra esse estado.
Achei que precisava rir, que precisava estar alegre, que precisava me divertir.
Em alguns momentos isso funcionava.
Mas tinha hora que vinha uma vontade de chorar tão forte que eu travava uma luta interna para bloquear, para engolir o choro.
Essa luta não era saudável.
E então eu passei a aceitar o choro.
Eu pensava “Tudo bem eu chorar. Eu estou em depressão e não vou lutar contra o choro”
Aos poucos a vontade de chorar foi ficando mais espaçada. Foi demorando mais pra vir o próximo choro.
Até que começou a rarear. E isso foi dando espaço para outros sentimentos.
5 – Aceitar suas emoções
Suas emoções estão o tempo todo querendo te mostrar algo.
Se você as nega, você não está olhando pro que acontece dentro de você.
Se você finge que não está acontecendo nada, você não está sendo verdadeiro.
Somos feitos de luz e sombra. Quando você entra num caminho de autoconhecimento e espiritualidade, a tendência é querer ficar só na luz e achar que você é só luz.
Mas quanto mais luz, mais sombra. Voamos mais alto para megulhar mais profundamente.
É a aceitação das suas emoções negativa que faz você conseguir viver de forma íntegra e verdadeira com você. Se permitir sentir raiva, inveja, ciúmes e outros sentimentos dos quais você tem vergonha ajuda a você aceitar a condição que vive.
A depressão é a negação de si mesmo. E essa negação é muitas vezes dessas emoções.
6 – Se permitir fazer o que tem vontade
Um dos motivos que me levou à depressão foi negar as minhas vontades.
Eu me identifiquei com a máscara da espiritualidade, do vegetariano, de pessoa evoluída e achava que não poderia fazer coisas que comecei a ter vontade de fazer.
Sentia vontade de me divertir e não me permitia. Senti vontade de comer hamburguer (de carne mesmo) e não me permiti. Senti vontade de tomar cerveja e não me permiti. Senti vontade de me expressar de formas novas e não me permiti.
Muitas vezes o desejo de algo é um pedido do seu corpo ou da sua alma.
Não tem certo ou errado, permitido ou proibido. É apenas a forma com eu faço que pode tornar uma coisa boa ou ruim.
Com consciência, você pode fazer o que quiser. Com consciência de porque você está fazendo isso. Sem fuga, sem fazer para fugir de si mesmo.
Mas fazer com consciência do efeito disso na sua vida.
7- Perceber a beleza e sentir gratidão
Uma das coisas que me ajudou a sair do meu processo, foi caminhar na rua e olhar para a beleza.
Comecei a usar o instagram como ferramenta para sair da depressão. Eu olhava para coisas belas e tentava capturar em foto.
Assim eu comecei a treinar o meu olhar para ver o que de belo cruzava o meu caminho. Flores, plantas, pessoas, arte, decoração. Fui treinando meu olhar para ver o mundo de outra forma.
Outra coisa que me forcei a fazer, foi listar ao final do dia as coisas pelas quais eu era grato.
Quando estamos envolvidos nos nossos problemas, parece que só conseguimos notar o que deu errado ou o que faltou.
E ao olhar para o que você é grato, você começa a lembrar de tanta coisa boa que acontece no dia que você nem nota.
8 – Fazer o cérebro ir para a alegria
Enquanto eu vivia tudo isso, eu me observava constantemente. Observava o que acontecia comigo a cada momento e identificava os padrões.
Eu notei um padrão que se repetia o tempo todo.
Quando eu estava ocupado de alguma atividade, fazendo algo que me exigia concentração, ou quando estava em reunião, ou cercado de pessoas, eu conseguia me manter bem.
Mas bastava eu relaxar, terminar a atividade, ou descansar um pouco que minha mente automaticamente me levava para a tristeza.
Era como um caminho automático. Era um empuxo para a tristeza.
Como no mar, quando você relaxa e ele te puxa para o lado. Quando eu relaxava, meu cérebro buscava a tristeza. Era o meu default. A tristeza era o meu padrão.
Então decidi que precisava mudar esse padrão e fazer algo para que o meu padrão se tornasse a alegria.
Mas não dá pra pular da tristeza pra alegria. Entre a tristeza e a alegria tem um meio termo.
Busquei substituir a tristeza pela serenidade, depois pela calma. E só depois conseguir chegar na alegria.
Ainda estou trabalhando para tornar a alegria meu estado natural, mas já consegui caminhar muito.
Para promover essa mudança de padrão, você deve ficar menos tempo na tristeza. É se observar, aceitar a tristeza quando ela aparecer, mas intecionar para ir para outro estado logo na sequência.
Quanto mais tempo você passar na serenidade, mais distante da tristeza você começa a ficar.
É um trabalho diário. Não é do dia para a noite.
Eu pensava como os Alcóolicos Anônimos: “Só por hoje”. Vou fazer o dia de hoje ser melhor. Amanhã eu penso amanhã.
9- Natureza, natureza, natureza
Quanto mais tempo eu passava na natureza, melhor eu ia ficando.
Eu busquei mudar minhas rotinas para conseguir colocar o pé na grama mais vezes ao dia. Para tomar sol todos os dias. Para sentir o vento todos os dias.
Voltei a cuidar da minha horta, me permiti passar alguns dias por semana no sítio.
Se você tem possibilidade, vá para fora da cidade e fique mais tempo perto da natureza. Toda semana.
A energia da cidade grande drena e te suga. Quando se está numa condição como a depressão, é fundamental ter consciência de como sua energia está e para onde ela está sendo drenada.
Se não tem como sair da cidade, vá para os parques e praças. Mas fique cada vez mais perto. Faça da natureza sua companhia.
10- Conexão espiritual
Eu acredito que existe algo a mais na vida. Que existe uma inteligência por trás de tudo o que nos acontece. Que existe um plano divino orquestrando todos os movimentos.
Nesses dias, eu busquei meditar muito.
Eu sabia que somente com meu esforço físico não seria possível. Precisava de uma ajuda divina, de outro plano.
Eu meditava com devoção.
Sentava, fechava os olhos e tentava conversar com Deus. “Por que eu estou vivendo isso? É justo eu viver isso? Onde estou errando? Por que estou vivendo isso” Eu repetia essa pergunta até que a resposta viesse.
E veio.
A resposta veio como um palpite. Como intuição.
“Você está vivendo isso para poder ajudar pessoas que passam por isso”
Então eu chorei muito. E chorei porque eu entendi.
E nesse momento eu consegui compreender, parar de negar, parar de achar injusto, e aceitar verdadeiramente o que estava vivenciando.
Logo que eu tomei consciência, eu comecei a acelerar meu processo de sair da depressão.
11 – Ajuda profissional
Eu não busquei um psiquiatra ou medicamentos.
Mas pedi ajuda para uma amiga terapeuta que conversou bastante comigo.
No meu caso, eu não precisei de muito tempo. Eu saí desse processo em cerca de um mês e meio. Desde a tomada de consciência até sentir que estava no meu lugar de novo.
Você não está sozinho e nem consegue sair dessa sozinho.
Busque aquele profissional que você sente que vai te compreender. Que tem uma filosofia de vida parecida com a sua.
Não existe uma única forma, ou método para sair da depressão. É uma jornada individual.
Busque aquilo que você acredita. Seja medicina tradicional, medicina oriental, medicina indígena, processos espirituais, plantas sagradas, vale tudo.
Não é uma luta contra uma doença. É uma jornada de resgate da sua essência, de voltar a viver a sua vida, de ser quem você é e dar à sua alma a chance de viver uma experiência boa na Terra.
Quando eu comecei a me reconectar ao que eu queria fazer de verdade, minha vida voltou a fluir…
Fonte: Gustavo Tanaka
As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
É muito importante (sempre) procurar mais informações sobre os assuntos
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