O apoio de um profissional costuma ser decisivo para resolver ansiedade, depressão e outras angústias. Saiba como e quando procurar ajuda
Por André Biernath
Não é para sempre: se há um problema como alvo, a terapia tem começo, meio e fim (Ilustração: Eduardo Pignata/SAÚDE é Vital)
“A busca por ajuda não é um sinal de fraqueza.” A frase, escrita por Michelle Obama num artigo para o site The Huffington Post, tinha como objetivo incentivar as pessoas a procurarem um psicólogo ou psiquiatra diante de um estado contínuo de aflição ou tristeza.
A ex-primeira-dama dos Estados Unidos não está sozinha nessa cruzada: nos últimos anos, celebridades do calibre do ator Brad Pitt, da modelo Gisele Bündchen, da cantora Katy Perry e do multimedalhista olímpico Michael Phelps compartilharam suas intimidades para revelar como os transtornos mentais afetaram a qualidade de vida deles – e como o tratamento, baseado em grande parte na psicoterapia, foi essencial para se recuperar.
Por mais que as vozes famosas ajudem a dar notoriedade a essas dificuldades, infelizmente elas seguem cercadas de mitos e estigmas. Tem muita gente por aí que continua a encarar depressão, ansiedade e companhia ilimitada como “coisa de louco”, preferindo escondê-las a enfrentá-las.
Esse cenário se reflete numa pesquisa realizada pela empresa Market Analysis, que entrevistou 906 adultos nas principais capitais brasileiras. Ela revela que apenas 2% fazem algum tipo de terapia. Esse número já havia sido encontrado em levantamento idêntico feito pela consultoria há 16 anos. Mas tem um detalhe: os problemas psicológicos não pararam no tempo. Estão em ascensão.
Se a popularidade dessa opção terapêutica parece estagnada, o mesmo não pode ser dito sobre os medicamentos: entre 2010 e 2014, a venda de fármacos da classe dos antidepressivos e dos estabilizadores de humor aumentou 58% no país, de acordo com a companhia IMS Health.
O Brasil é o quarto maior mercado consumidor de alguns desses remédios no mundo – só fica atrás de Estados Unidos, Argentina e Alemanha. Em terras americanas, aliás, apenas um terço dos indivíduos que tomam comprimidos contra a depressão consulta um profissional de saúde com regularidade.
Convenhamos: não precisa ser matemático para perceber que tem algo errado nessas contas. “Vivemos numa era em que a velocidade impera e queremos respostas rápidas para nossos problemas. Nesse contexto, os remédios se encaixam como uma luva”, interpreta o psicólogo Paulo Aguiar, do Conselho Federal de Psicologia.
As terapias, por sua vez, dependem de longos diálogos com um profissional, o que demanda investimento de tempo e de dinheiro. Isso sem contar que os benefícios podem demorar um pouquinho para aparecer e nem sempre são percebidos de uma hora para outra, como num passe de mágica.
Apesar desses paradoxos atuais, nunca antes na história a conversa terapêutica foi tão recomendada. Quem diz isso não é a SAÚDE, mas, sim, os principais documentos com orientações e diretrizes de tratamento das condições mentais. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, até 75% dos pacientes com algum distúrbio apresentam melhoras após as sessões de terapia.
Seus efeitos são notados diretamente nos neurônios por meio de modernos exames de imagem. “Após a superação do sofrimento psíquico, observamos uma diminuição da atividade da amígdala, região responsável pelo controle sensorial e emocional, e um aumento de processos nervosos no córtex pré-frontal, relacionado à racionalidade e aos significados”, destrincha o psicólogo Julio Peres, autor de uma série de estudos na Universidade de São Paulo (USP).
Só que, antes de entrar no consultório ou deitar no divã, é preciso tomar certo conhecimento e alguns cuidados para não cair em ilusões. “A abordagem de cada paciente vai sempre ser única e precisa respeitar suas queixas e demandas”, ressalta o psiquiatra Rodrigo Grassi-Oliveira, do Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Os primeiros passos para começar a terapia
Por mais que a psicoterapia esteja ancorada no diálogo e na troca verbal de informações, ela está longe de ser o mesmo que ficar de papo para o ar com um conhecido qualquer. Os profissionais que conduzem as sessões possuem (ou deveriam possuir) extensa formação na área, que dá a eles ferramentas para conduzir a conversa conforme o perfil de cada um. A missão é auxiliar o paciente a refletir e identificar as origens de um sofrimento para, a partir daí, estabelecer as maneiras de vencê-lo.
“A diferença é que, ao contrário do aconselhamento de um familiar ou de um amigo, nós criamos uma relação profissional e estabelecemos os alvos terapêuticos”, esclarece o psicólogo Wilson Vieira Melo, presidente eleito da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.
Um dos grandes entraves para a maior disseminação desse tipo de abordagem está justamente na dificuldade em identificar em si mesmo os sintomas de que algo não vai bem. Fica sempre aquela sensação de que o incômodo é passageiro e se resolverá naturalmente com o passar do tempo ou das fases mais turbulentas da vida.
Lamentavelmente, nem sempre a coisa acaba tão fácil assim… “Qualquer alteração nos comportamentos ou nos sentimentos que afeta o dia a dia de forma prolongada merece investigação”, afirma a psicóloga Michelle Levitan, do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A terapia é indicada tanto para doenças de média ou alta complexidade e duração – como na depressão, no transtorno de ansiedade generalizada, no autismo, na bipolaridade e nas dependências – quanto para queixas pontuais e limitadas, caso de superação de traumas, lutos, perdas de emprego ou términos de relacionamento amoroso.
Há ainda quem busque um psicoterapeuta para se conhecer melhor ou até para aprimorar o desempenho na escola ou no trabalho. Mas, para que tudo isso funcione, é preciso saber eleger o profissional ideal caso a caso.
Se você procurar por serviços de saúde mental no sistema público, nos catálogos dos planos privados ou até mesmo no Google, vai encontrar um sem-fim de opções. É aí que aparece o próximo dilema: como selecionar um profissional que atenda às nossas demandas particulares? Afinal, no meio de tanta oferta e estilos… Aliás, nós temos um conteúdo específico sobre os principais tipos de psicoterapia no site. Clique aqui e confira.
Um primeiro conselho é verificar se aquele especialista está cadastrado e não enfrenta processos no Conselho Federal de Psicologia ou na Associação Brasileira de Psiquiatria. Essas entidades, e suas representantes estaduais e regionais, mantêm registros disponíveis na internet para qualquer um acessar.
“Outra saída é procurar indicações com familiares ou amigos que já passaram por experiências anteriores”, sugere o psicólogo Hélio Roberto Deliberador, supervisor da Clínica-Escola de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Você pode conhecer os principais tipos de psicoterapia e suas aplicações na prática clicando aqui.
Contatos imediatos de primeiro grau
A primeira consulta é outro momento-chave dessa história. Quem nunca fez terapia não sabe bem o que esperar, muito menos como se comportar ou relatar as queixas que o levaram até ali. “As pessoas acham que você é obrigado a se abrir e falar tudo logo de cara. Não é assim: vá à sessão o mais relaxado possível”, orienta o médico Rodrigo Martins Leite, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Na prática, o terapeuta vai levantar algumas questões básicas, que ajudarão a avaliar o quadro e suas características para determinar diagnóstico e conduta.
Se você sentir necessidade, uma ideia é anotar no papel seus principais incômodos e aflições. “Escrever organiza os pensamentos e permite destacar os temas que o paciente deseja trabalhar durante a psicoterapia”, explica Peres. No futuro, essa iniciativa pode dar origem a um diário, um espaço para registrar os principais marcos e conquistas do processo. Mas esse é um assunto que abordaremos com mais profundidade ao longo da matéria.
Fonte: Saúde
As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
É muito importante (sempre) procurar mais informações sobre os assuntos
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