sexta-feira, 27 de abril de 2018

SÉRIE MULHERES: JULIANA KOZLOWSKI



A advogada Juliana Kozlowski, de 25 anos, tem o sonho de tornar-se Defensora Pública do Estado do Rio de Janeiro. Estudando para concursos, quase não tem tempo livre e, quando consegue descansar, aproveita para ler livros, atualizar o seu instagram (segue lá @jkconcurseira), dormir e ficar com a família. No ano passado, aos 24 anos, descobriu um câncer de mama e, com muita fé, força de vontade, positividade e amor, hoje conta como sobreviveu a esta batalha.
Como usa o DIU de cobre há 5 anos, Juliana tinha o hábito de ir à ginecologista a cada 6 meses para realizar ultrassom. Aproveitava as idas para fazer o exame nas mamas, pois não sabia fazer sozinha.
– Não confiava nos meus parcos conhecimentos e, em verdade, nunca nos ensinaram exatamente como fazer, o que é detectável ou não. Então, para não me desesperar em vão, resolvi ir em quem entende. Porém, parece que a médica que eu costumava ir também não entendia tanto assim. Ela era apenas ginecologista, o certo teria sido me encaminhar ao mastologista.
Juliana começou a desconfiar que havia algo errado quando percebeu que uma de suas mamas  cresceu “como se tivesse colocado silicone”. O diagnóstico demorou quase 3 meses para sair, entre idas e vindas de médicos e exames. Quando finalmente descobriu, o câncer já estava no estágio 3.
– É difícil resumir em poucas palavras o processo como um todo. Em maio faz um ano desde a notícia e parece que vivi 10 anos em 1. Foram muitos sentimentos, muita coisa boa, muitas dificuldades, mas sempre a certeza de que o amor cura e que, de fato, me fez chegar lá. Se teve uma coisa que essa doença me ensinou foi a sentir tudo. Senti medo de morrer, muitas vezes, mas busquei no amor, nos abraços e principalmente, na fé, a força pra deixar os pensamentos ruins passarem, sem me dominar.
Na certeza de querer viver seus sonhos e sua vida ao lado de quem ama, Juliana resolveu que lutaria. Contou aos melhores amigos e pediu a eles que todos estivessem em sua casa dando amor não só à ela, mas a seus familiares. Conta que desde o primeiro dia não deu espaço para a tristeza entrar.
– Alguns dias ela tentou me fazer companhia, eu deixei, mas logo depois a convidava para se retirar. Me ver cercada de tanto amor, me fez ter certeza que valia a pena lutar.

Ela diz, orgulhosa, que conseguiu terminar a quimioterapia em um tempo menor do que o esperado – fez 4 ao invés de 6 sessões – sem precisar operar ou fazer radioterapia.
– Não precisei operar fisicamente. Digo fisicamente pois fiz 4 cirurgias espirituais. Duas no centro espírita Tupyara [em Lins, no Rio de Janeiro] e outras duas no médium João de Deus, na Casa Dom Ignácio de Loyola [em Abadiânia, em Goiás]. Fazer essa viagem espiritual foi uma das coisas mais incríveis que já vivenciei.
No entanto, Juliana não pode dizer que está totalmente curada. Isto porque, como teve o diagnóstico da doença tardiamente e é muito jovem – e suas células se reproduzem muito rápido -, descobriu que “tinha” metástase óssea.
– Digo “tinha” porque para mim é mesmo no passado. Significa que o câncer “comeu” parte do meu osso da coluna vertebral e isso, no mundo dos homens, é incurável.
Hoje, Juliana faz acompanhamento de hormonioterapia e está induzida em menopausa. Segundo ela, acredita-se que o excesso de hormônios, provavelmente vindos da pílula anticoncepcional, tenha causado tudo isso.
– Por isso eu tomo uma injeção a cada 3 meses e, diariamente, uma pílula para impedir que meu corpo produza hormônio. Provavelmente, ficarei estéril, mas isso é assunto pra um outro momento da vida, porque, como diz minha sábia mãe, o futuro a Deus pertence. E eu prefiro pensar assim, até porque se não a gente pira.
Ainda nas primeiras sessões de quimioterapia, seus amigos – e também desconhecidos – se juntaram e fizeram uma vaquinha online para comprar um aparelho que ajudaria no tratamento. O aparelho funcionava por meio de uma touca, que diminui a temperatura em até – 15° C. Com isso, durante a quimioterapia, as chances de queda de cabelo diminuem em até 70%, fazendo os cabelos caírem uniformemente ou menos.
– No meu caso, não deu exatamente certo. Porém, fez com que eu pudesse viver a queda mais gradualmente. O tratamento é forte e, teoricamente, em 10 dias o cabelo cai todo. O meu demorou 90 dias. Com isso, foi me permitido escolher raspar. Quando eu percebi que meu cabelo já não estava mais ali, que já estava sem vida, um emaranhado de dor, que me fazia sofrer a cada 3 dias que eu o lavava. resolvi deixá-lo partir.
Juliana e sua mãe mantinham um ritual no banho. Em vez de colocar os fios soltos no vidro do boxe, os colocava nas mãos de sua mãe e, em seguida, jogavam na privada. Depois, mandavam a descarga levar junto do cabelo a doença.
– Não foi fácil, mas resolvi que eu não precisava passar por aquilo duas vezes na semana. Comecei a enxergar como só um cabelo. Não era só um cabelo, na verdade. Tem todo um simbolismo, tudo que o câncer muda no seu corpo. Mas eu decidi, naquele momento, que era só um cabelo e que deixaria pra lá. Me deixei transformar e hoje posso dizer, que transformação!
A transformação a qual se refere diz respeito à autoaceitação. Ela conta que tinha medo de como as pessoas a veriam careca e tinha pavor de que sentissem pena dela – “pena é o pior sentimento que se pode ter por alguém”.
– Eu me permiti que fosse um processo. As pessoas foram me vendo perder o cabelo aos poucos e eu fui me acostumando com a ideia. Ao cortar a primeira vez curtinho, vi que não ficou tão ruim como esperava. E depois, a mesma coisa, até que passei a máquina no cabelo. Fiz um ritual. Chamei minhas melhores amigas, formei uma lista no Spotify [Shaved JK] para que os meus amigos pudessem escolher uma música, que os representasse, e colocasse no momento de raspar. Chorei sim, mas ri mais. Minhas amigas me zoavam na hora, faziam piadinhas, me fizeram rir. E lembro que elas começaram a ficar chocadas em como eu estava linda. E eu estava e estou.
Ela conta que começou a perceber que sua real beleza tinha muito mais a ver com seu interior do que com a roupa que vestia, o número que aparecia na balança ou o cabelo que usava.
– Posso dizer que hoje, gorda, de cabelo curto ou careca, eu me sinto muito mais eu, gosto muito mais da pessoa que eu sou. E agradeço pelo câncer ter me feito ver isso tudo. Afinal, poderia ter passado uma vida inteira tentando ser o que eu nunca quis. Hoje sou livre e amada por mim mesma.
Juliana sempre foi alto astral, mas tinha seus momentos de “irresignação”. Ela comenta com sua psicóloga que, muitas vezes, é seu próprio carrasco. E, depois de tudo o que passou, está parando de ser seu algoz e passando a ser a primeira que a elogia.
– Sempre fui bastante otimista, mas hoje posso dizer, sem medo de ser arrogante, que sou a pessoa mais positiva que conheço. Consigo ver de cada momento ruim, pelo menos uma coisa boa. Foi um exercício que eu comecei a fazer, desde que meu irmão maravilhoso me deu o livro da gratidão. Todo dia você precisa listar pelo menos uma coisa boa pelo qual você é grato. Com o tempo, você programa seu cérebro pra isso.
Quando percebe que sua luta pode inspirar as pessoas, se sente honrada. Este, aliás, foi o principal motivo de resolver compartilhar intimidades no instagram.
– Estamos acostumadas em um mundo de redes sociais que parece que todos têm uma vida perfeita, menos quem assiste. E foi aí que vi que poderia revolucionar: mostrar as dificuldades da vida de concurso, depois de lidar com a doença, com as consequências do tratamento, como poderia vencer e continuar focada, ainda que com tudo aquilo que poderia ser um motivo pra me fazer parar. Tento ser o mais transparente possível, mostrar como podemos vencer nossa cabeça, que por muitas vezes, insiste em nos autossabotar. Como a autoaceitação pode ser o caminho pra se curar ou pra até mesmo evitar doenças, como ter um olhar de carinho consigo mesma e com o outro, sororidade e empatia pelo outro.
Foto: Julia Assis

Enquanto se recuperava, fez um lindo ensaio fotográfico com a fotógrafa Julia Assis.
– A Julia é uma fotógrafa maravilhosa. Quando ela me convidou para fazer um ensaio, eu aceitei na hora.  Leonina, né mores? Foi muito melhor do que eu esperava. Sou eternamente grata à Ju por ter me ajudado a enxergar minha própria beleza, minha força e alegria. Sem dúvidas, foi indispensável. Ela faz o que ama e isso faz toda diferença do mundo. Conseguiu passar pras lentes tudo que eu representava naquele momento.
Para ela, é maravilhoso sentir que mudou para melhor a vida de alguém através de sua história. Seus amigos mais próximos hoje enxergam a vida com outros olhos e sua família, que já era unida, hoje são sua maior força, espelho e para quem luta e deseja realizar seus sonhos. Ela mesma hoje enxerga a vida de forma diferente, com mais cores e mais amores.
– Vivemos o câncer de forma leve, choramos quando foi preciso, mas nos unimos e mostramos pra vida e pra doença, que estávamos prontos para viver uma vida inteira juntos, que lutaríamos um pelo outro. Me sinto mais próxima de Deus, como se pudesse sentir os espíritos do bem me envolvendo. A felicidade em estar viva supera qualquer medo. Espero, de verdade, que minha história possa ajudar outras pessoas a enxergar para além dos seus problemas.
Fonte: Ligia Lopes

As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
É muito importante (sempre) procurar mais informações sobre os assuntos

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