O paciente não é uma doença!
Olhando
para trás, a sensação que tenho hoje é que foi há pouco tempo que comecei a
ser, verdadeiramente, oncologista, apesar de ser formada em oncologia há mais
de 10 anos. E o que mais me impressiona, é que exatamente agora, me sinto fora
do quadrado aonde a maioria dos meus colegas vivem.
Essa mudança aconteceu há quase três anos, quando meu pai teve
câncer de mama. Naquele momento tive a infeliz oportunidade de viver o outro
lado da mesa do consultório. Passei a ser familiar de paciente. Sofri, tive
medo de todos os sintomas porque ele ia passar, precisei estar cercada de
amigos e me apeguei na fé de que tudo iria dar certo no final. E felizmente,
deu.
Olhando para trás, a sensação que tenho hoje é que foi há pouco
tempo que comecei a ser, verdadeiramente, oncologista, apesar de ser formada em
oncologia há mais de 10 anos. E o que mais me impressiona, é que exatamente
agora, me sinto fora do quadrado aonde a maioria dos meus colegas vivem.
Essa mudança aconteceu há quase três anos, quando meu pai teve
câncer de mama. Naquele momento tive a infeliz oportunidade de viver o outro
lado da mesa do consultório. Passei a ser familiar de paciente. Sofri, tive
medo de todos os sintomas porque ele ia passar, precisei estar cercada de
amigos e me apeguei na fé de que tudo iria dar certo no final. E felizmente,
deu.
Mas se foi um sofrimento, como pode ter sido uma oportunidade?
Após oito anos de trabalho no Inca, eu sempre tive a percepção
muito clara de que viver a história de um câncer transforma vidas. E isso pode
ser bom ou ruim. Várias vezes vivenciei a trajetória de pacientes que com
lesões extremamente pequenas e com prognóstico muito bom, após a cura, não
sabiam voltar a sua rotina. Por outro lado, pessoas com a doença muito
avançadas, seguiam vivendo bem e felizes. Quando digo felizes, falo sobre uma
redescoberta pessoal verdadeira que trouxe um novo olhar sobre prioridades e
sobre a felicidade.
Com a rotina de exames e tratamento do meu pai, percebi o quanto
a oncologia vai além de prescrevermos nossos remédios atrás de uma mesa e de
estudarmos compulsivamente todos os dias sobre os novos estudos oncológicos.
Vai muito além!
Percebi que as maiores dúvidas, muitas vezes não são tiradas por
vários motivos. Seja porque a relação médico-paciente não foi bem estabelecida,
ou também porque o paciente acha que sua pergunta é “boba” para ocupar o tempo
corrido de seu médico. Vi que em vários momentos, elas são tiradas pela
internet! E assim, por fontes nem sempre confiáveis.
E finalmente, foi no maior congresso que temos em oncologia no
mundo (ASCO – American Society of Clinical Oncology) onde descobri que todas
essas percepções que eu tinha, eram embasadas cientificamente. Lá, na sessão
Plenária foi apresentado um trabalho que mostrou que pacientes acompanhados de
perto por uma equipe (não só pelo médico), no período entre os ciclos de
quimioterapia, informando seus sintomas com regularidade, quando comparados com
aqueles que são vistos apenas nas consultas agendadas normalmente, tem um
benefício enorme em seus tratamentos! Seja porque conseguem controlar as
toxicidades de forma precoce ou também porque aderem mais ao tratamento, a
grande notícia foi uma mudança nos paradigmas. Agora sabíamos que sim, esse
paciente tem que ser visto mais de perto e sim, precisamos dar mais atenção e
mais espaço para que ele se sinta confortável para conversar com o seu médico.
A era dos médicos que não olham o paciente no olho, que não
tocam em seus pacientes com alguma sensibilidade, está chegando ao fim.
A partir desse congresso imergi numa busca interminável por mais
estudos que embasassem ainda mais essa percepção integral ao paciente. E se
antes me sentia solitária em minha caminhada, descobri um mundo enorme de
informações. Agora sei, por exemplo, que os principais hospitais Americanos
contam com áreas especificas para abordar o paciente com essa visão. Não é uma
medicina alternativa, mas uma forma de não ver o paciente como uma doença. O
paciente não é uma doença! O paciente deve ser visto como um ser humano que
precisa de um tratamento especifico para o câncer, mas que possui sentimentos
variados dentro de si, crenças, questões sociais a serem resolvidas e também
uma estrutura familiar que está completamente abalada.
Conto nos dedos, os hospitais no Brasil que apresentam esse
setor de Medicina Integrativa. E não me surpreendeu nenhum pouco, dois deles
serem o Sírio Libanês e o Hospital Israelita Albert Einstein. No Rio de
Janeiro, os médicos ainda estranham quando converso sobre o tema. E não é culpa
deles! Em nossa vida acadêmica, somos ensinados a tratar as doenças. Aos poucos
vejo que estão surgindo matérias aonde o estudante deverá aprender a abordar e
cuidar do paciente. E isso envolve questões emocionais profundas. Convenhamos,
ser oncologista demanda um extremo equilíbrio emocional, senão desmoronamos a
cada fim do dia.
Hoje, sou palestrante, tenho vários canais de mídia como
https://www.facebook.com/drasabrinachagas/ e
https://www.instagram.com/drasabrinachagas/) aonde converso e tiro dúvidas
todos os dias, incansavelmente, com as pessoas que ali me procuram. Realizei
vários eventos também com o intuito de desmistificar a doença e mostrar a
importância do diagnóstico precoce.
Nessa caminhada fui descobrindo ainda mais coisas. Primeiro,
percebi claramente que quando falo a minha história com meu pai (escrevi um
livro sobre isso chamado “Como Estamos? O desafio do câncer de mama) as pessoas
se sentem amparadas. Isso acontece porque todos nós carregamos sensações muito
parecidas dentro de nós. Mas como não falamos, achamos que somos os únicos a
carregar certas dores, medos, etc. Mas quando vemos que outras pessoas também
sofrem verdadeiramente com o que sofremos e reagem como nós reagimos,
automaticamente nos sentimos mais fortes. Por isso os eventos que faço e
participo, não param de crescer. A próxima ação será um ensaio fotográfico
especial de Dia das Mães com pacientes em tratamento ou já curadas e os seus
filhos o que me enche de alegria e realização. Porque se antes meu conhecimento
oncológico, ficava em meu consultório, agora ele ajuda infinitamente mais
pessoas. Muito além do Rio de Janeiro, ele viaja até outros países!
Outra descoberta que fiz, se refere a vida após o câncer. Como
assim?
Logo que o paciente acaba o tratamento, seja a quimioterapia, ou
a radioterapia, suas consultas começam a ficar menos frequentes. E teoricamente
o paciente está apto a voltar para sua rotina prévia. Mas vejam: ele se vê
solto numa nova realidade. Agora ele não verá seu médico sempre, mas continua
com muitas dúvidas sobre como viver agora. Os amigos que antes estavam muito
presentes solidários a sua doença, agora já se voltaram para suas vidas. Da
mesma forma a família. E muitas vezes, o paciente ainda não retornou ao estado
físico e emocional que vivia antes. Indo mais a fundo nos meus estudos, percebi
como é enorme a quantidade de pacientes que iniciam quadros de depressão e
ansiedade após ter alcançado a cura.
Mas como poderá o oncologista atentar para isso, se o paciente
agora já vai sozinho as consultas e se muitas vezes, nem ele próprio se percebe
nessa situação?
E novamente encontro aí a necessidade de uma abordagem mais
integral ao paciente, aonde uma equipe consiga diagnosticar e tratar esses
pontos falhos da caminhada oncológica. Todos merecem se restabelecer por
completo. E os caminhos para isso são variados e funcionam caso a caso. Muitas
vezes usaremos o acompanhamento psicológico, parte fundamental nesse processo.
Em outros momentos, a meditação, acupuntura, exercícios sempre. Às vezes, uma
conversa mais profunda já dá o pontapé para essa nova vida. E para isso a
relação com o médico tem que ser extremamente firme.
Sabrina Chagas
Fonte: Saúde Bem Explicada
As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
É muito importante (sempre) procurar mais informações sobre os assuntos
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