A depressão pode atingir até cerca de 25% das mulheres com
diagnóstico de câncer de mama (enquanto que em média 7% das mulheres têm
depressão). E por que temos uma taxa tão elevada de depressão nessas
mulheres e quais as consequências?
Antes de mais nada, é importante quebrarmos o tabu de que aspectos
emocionais podem ser causadores do câncer, embora a depressão possa ser
um “gatilho” para o surgimento do câncer. Alguns anticorpos produzidos
pelo organismo para combater as células cancerosas (oriundas de células
que inicialmente foram fabricadas com algum defeito) podem também
atingir áreas e proteínas das membranas dos neurônios levando a quadros
neuropsiquiátricos como o da depressão. Perante um estresse mantido o
nosso sistema imunológico pode sofrer alterações funcionais e ele tem um
papel importante para combater e destruir as células que se replicam de
forma anômala. É como se a vigilância contra os inimigos do organismo
se afrouxasse.
O impacto da notícia do câncer de mama é devastador para algumas
mulheres. E isso vai muito além da doença e de todo o estigma associado a
essa palavra que muitos de nós temos até medo de pronunciar. A mama tem
um valor simbólico de feminilidade, sexualidade, amamentação e
fertilidade. É o primeiro objeto com o qual o bebê se relaciona com a
mãe. Portanto, o conhecimento de que o tratamento pode levar em alguns
casos até à retirada desse órgão ou uma sensação de mutilação é uma
possibilidade que no início gera diferentes comportamentos, inclusive o
de congelamento, confusão, desorganização e de impotência. A
psicoterapia com ressignificação dos papéis e experiências de vida acaba
sendo fundamental quando há reações de ajustamento ou sintomas
depressivos. Bom frisar que nem todas as mulheres terão uma postura
inicial de coragem e enfrentamento da doença e isso jamais pode
torná-las vítimas de análises superficiais e preconceituosas por parte
de pessoas que se julgam “autoridades” no assunto.
E quando a depressão (doença) é diagnosticada?
Nesses casos, independente do tratamento estipulado como
radioterapia, quimioterapia ou cirurgia a medicação antidepressiva é
fundamental por vários aspectos: melhora da qualidade de vida (energia,
menos dores, postura otimista em relação ao resultado do tratamento,
sono e alimentação adequados, etc) e funcionalidade, melhora do
prognóstico (com maior adesão ao tratamento, às medidas nutricionais e
atividades físicas ou psicossociais necessárias a uma recuperação
plena).
É fundamental que um psiquiatra especializado em saúde mental da
mulher seja procurado. Há alguns medicamentos antidepressivos que não
podem ser utilizados em conjunto, por exemplo, com o tamoxifeno pelo
risco de interação medicamentosa. O tamoxifexo é usado no tratamento do
câncer de mama por inibir a ação do estrógeno nos receptores da mama, um
dos mecanismos responsáveis pela doença. Esse mesmo medicamento que
ajuda no tratamento do câncer de mama pode também causar a depressão.
Fundamental também é o profissional médico conhecer as interações
medicamentosas entre os quimioterápicos e os antidepressivos, embora os
quimioterápicos, apesar do cansaço, fadiga e inaptência que geram não
sejam causadores diretos da depressão nessas mulheres.
A mulher com câncer de mama passa por diversos estágios na elaboração
do trauma ou luto e não deve ser prejulgada pela sociedade. As reações
ao estresse pela notícia são variadas no início. Enquanto algumas se
sentem injustiçadas, ansiosas ou irritadas, outras se questionam
obsessivamente enquanto uma outra parte prefere não resistir logo de
cara e parte para o enfrentamento do medo ou da angústia pela notícia
recebida procurando informações e profissionais qualificados
imediatamente para não perder tempo e tratar a doença. Seja qual for a
reação inicial da mulher ela precisa ser ouvida e acolhida em seu
sofrimento e sua fragilidade momentânea e não vitimizada por palpiteiros
ou gurus da autoajuda que às vezes pensam que suas “receitas de bolo”
servem para todas. Nesse aspecto reforço aqui a importância da
psicoterapia na elaboração de todos esses possíveis conflitos. Portanto,
oferecer suporte e a ajuda correta é sempre o melhor caminho.
Fonte: Estadao.
As informações e sugestões contidas neste site são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
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