Ganho ponderal significativo após o diagnóstico de câncer de mama pode ser um problema maior do que se pensava, e os médicos precisam ajudar as pacientes a controlá-lo, afirmam autores de uma pesquisa nacional australiana.
“Descobrimos que dois terços das participantes estavam com sobrepeso ou eram obesas”, relatou a Dra. Carolyn Ee, Ph.D., do NICM Health Research Institute, Western Sydney University, na Austrália, e colaboradores.
“Como o ganho ponderal após o diagnóstico de câncer de mama pode levar a piores desfechos, os esforços para prevenir e controlar o ganho ponderal devem ser priorizados e acelerados, principalmente no primeiro ano após o diagnóstico”, eles comentaram.
O artigo foi publicado on-line em 20 de fevereiro no periódico BMC Cancer.
A pesquisa on-line anônima com 60 itens foi enviada para 1.835 membros do Breast Cancer Network Australia Review and Survey Group.
Embora a taxa de resposta da pesquisa on-line tenha sido de apenas 15%, a maioria das mulheres indicou ter um nível “alto” de preocupação com o ganho ponderal – e por boas razões. Os resultados mostraram que 64% das mulheres ganharam em média 9 kg (20 lb) e 17% ganharam > 20 kg (44 lb).
No período de dois anos após o diagnóstico de câncer de mama, a taxa de sobrepeso e obesidade aumentou de 48% para 67%. A taxa de obesidade quase dobrou, de 17% para 32%.
Sobrepeso e obesidade foram fortemente associados ao desenvolvimento do câncer de mama, disseram os autores. O ganho ponderal após o diagnóstico foi associado a maior morbidade e mortalidade por todas as causas, e pode aumentar o risco de recidiva em 30% a 40%.
A pesquisa, que também coletou dados de 26 participantes de grupos on-line de apoio à saúde da mulher e ao câncer de mama não incluiu informações sobre qualidade de vida e níveis de estresse. “Precisamos de mais pesquisas nessa área”, sugeriram os autores do estudo.
Em um comunicado à imprensa, a Dra. Carolyn disse que 77% das mulheres relataram que o ganho ponderal ocorreu de 12 a 18 meses após o diagnóstico. Isso pode representar um “período oportuno” para a intervenção, disse ela.
“O momento certo pode ser a chave para ajudar as mulheres a controlarem o peso após o diagnóstico de câncer de mama”, acrescentou. “Os serviços de oncologia e os clínicos gerais desempenham um papel importante em promover essa discussão com as mulheres logo no início, e encaminhá-las para uma equipe de profissionais de saúde qualificados, como nutricionistas e fisiologistas com experiência em câncer.”
O coautor do estudo, Dr. John Boyages, médico rádio-oncologista do Icon Cancer Center, Sydney Adventist Hospital, na Austrália, enfatizou que todas as mulheres devem receber uma prescrição para exercícios após receberem o diagnóstico de câncer de mama. “Prescrever um estilo de vida saudável é tão importante quanto prescrever comprimidos”, disse ele.
“Como médicos, realmente precisamos pensar ativamente sobre peso, nutrição e exercícios, e orientar as pacientes sobre as possíveis intervenções. Entre as pacientes de câncer de mama, o ganho ponderal aumenta os problemas de autoestima, o risco de doenças cardíacas e de outros cânceres, e várias pesquisas mostraram que isso pode afetar o prognóstico e aumentar o risco de linfedema”, acrescentou.
“É necessário um esforço maior para tratar o corpo como um todo, pois sabemos que a obesidade é um fator de risco de desfechos negativos no câncer de mama”, comentou a Dra. Stephanie Bernik, médica, chefe do serviço de câncer de mama do Mount Sinai West e professora associada de cirurgia na Icahn School of Medicine at Mount Sinai in New York City, nos Estados Unidos. Ela não participou do estudo e foi convidada a comentar os resultados.
Dra. Stephanie também concordou que ir ao nutricionista ou receber apoio à perda ponderal são úteis para pacientes com câncer, mas acrescentou que nem todos os centros oncológicos têm recursos para oferecer esses serviços.
Detalhes da pesquisa
Das 309 mulheres que participaram da pesquisa, 277 (15%) forneceram dados completos sobre o índice de massa corporal (IMC) antes e depois do diagnóstico de câncer de mama.
Dessas mulheres, 254 haviam sido diagnosticadas com câncer de mama em estágio I a III; e 33 haviam sido diagnosticadas com carcinoma ductal in situ. A média de idade foi de 59 anos.
Os resultados mostraram que, o IMC de 20% das entrevistadas aumentou de uma faixa de peso saudável (< 25 kg/m2) no momento do diagnóstico para uma faixa de peso não saudável (> 25 kg/m2). Além disso, o IMC de 4,8% das pacientes aumentou de sobrepeso (de 25 kg/m2 a < 30 kg/m2) para obesidade (> 30 kg/m2); e 60,7% relataram aumento > 1 kg/m2 no IMC. Por outro lado, apenas uma pequena proporção de mulheres perdeu peso – o IMC de 6% das participantes diminuiu de classificação.
Oitenta e sete porcento das entrevistadas ganharam peso nos primeiros dois anos após o diagnóstico e 58% nos primeiros 12 meses. Setenta e oito porcento das mulheres que ganharam > 10 kg (22 lb) e 59% das mulheres que ganharam > 5 kg (11 lb) disseram que estão muito preocupadas com o ganho ponderal.
Em todas as faixas etárias (de 35 a 74 anos), 69% tiveram ganho ponderal excessivo 0,48 kg/m2 maior a cada ano, em comparação com pessoas do grupo de controle (pareadas por idade) que não tinham diagnóstico de câncer de mama. Ao final de cinco anos, isso representou um ganho ponderal de 2 kg (5 lb) entre as mulheres com câncer de mama.
Ao ser solicitada a comentar sobre o estudo, a Dra. Stephanie concordou com os autores que esses resultados devem ser interpretados com cautela.
Ela citou o viés de autorrelato e o fato de apenas 15% das mulheres terem participado da pesquisa.
“Talvez apenas as mulheres que ganharam peso tenham achado interessante contar sobre a sua experiência de ganho ponderal após o diagnóstico de câncer de mama”, explicou ela.
Mesmo assim, há muitas razões para o ganho ponderal durante o tratamento do câncer de mama ser um problema para as mulheres, disse a Dra. Stephanie ao Medscape.
“As mulheres em tratamento com quimioterapia podem não ter energia para acompanhar as recomendações de exercícios, e podem achar que comer é reconfortante”, ressaltou.
“Como os efeitos da administração de quimioterapia podem durar por alguns dias a cada duas a três semanas, as pacientes têm menos tempo e energia para comer corretamente ou se exercitar. Além disso, as mulheres às vezes são tratadas com corticoide enquanto fazem a quimioterapia, e isso reconhecidamente aumenta a fome.”
Os autores informaram não ter conflitos de interesses relevantes.
BMC Cancer. Publicado on-line em 20 de fevereiro de 2020. Texto completo
Fonte: Medscape
As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
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