sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Câncer de mama: a autoestima depois da mastectomia

Projetos sociais resgatam a confiança de mulheres que enfrentaram a cirurgia de retirada da mama




Projeto De Peito Aberto


Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é o que mais atinge as mulheres no Brasil e no mundo. A cada ano, são 1,5 milhão de novos casos de câncer no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Além disso, a Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer mostrou que 25% dos casos de câncer em mulheres são de câncer de mama. De acordo com dados divulgados pela agência, em 2012 a taxa de incidência desse tipo de câncer era de 1,6 milhão de casos entre mulheres no mundo.
O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, informou que quase 15 mil mulheres morreram da doença no Brasil em 2013. Muitas dessas mortes ocorreram pela descoberta tardia do câncer. O INCA mostra que no primeiro estágio da doença a chance de sobrevida de cinco anos chega a quase 90%.
O tratamento do câncer de mama varia de acordo com o tumor de cada paciente. Entre as formas de tratamento estão: radioterapia, quimioterapia, terapia hormonal e mastectomia (cirurgia para retirada parcial ou total da mama).
Mastectomia
A mastectomia foi o primeiro procedimento médico capaz de curar o câncer, pois consiste em um procedimento de retirada da mama, impedindo que o tumor se espalhe para outros órgãos do corpo e continue se desenvolvendo.
Existem três tipos de procedimentos cirúrgicos para o tratamento do câncer de mama: mastectomia parcial, que preserva parte da mama; mastectomia unilateral, que consiste na retirada apenas da mama onde foi identificado o tumor; e a dupla mastectomia, quando ambas as mamas são retiradas.
Algumas mulheres decidem fazer a retirada das mamas como forma de prevenção, considerando a grande probabilidade de desenvolver a doença no futuro, como o caso da atriz Angelina Jolie. Ela apresentava 87% de chances de ter câncer de mama futuramente, logo, em 2013, decidiu fazer a dupla mastectomia para prevenção, e em seguida fez o procedimento de reconstrução da mama.
Pesquisadores norte-americados, em parceria com o INCA, revelaram que 400 mil mulheres decidiram fazer algum tipo de mastectomia entre os anos de 2002 e 2012. O estudo constatou que a opção de fazer a dupla retirada da mama aumentou de 2,9% para 12,7% nesse período, e a mastectomia preventiva representou 59% dos casos.
Autoestima
O seio feminino sempre foi uma parte do corpo muito valorizada, remetendo a valores como feminilidade e fertilidade. Diante disso, imagine o quanto pode ser difícil para uma mulher perder a mama. É uma situação capaz de gerar problemas com autoestima e aceitação do próprio corpo.
Foto: Projeto De Peito Aberto

A boa notícia é que existem diversas iniciativas que tentam colaborar com a autoestima e o empoderamento das mulheres que enfrentaram a mastectomia. Uma dessas iniciativas é o projeto ‘De Peito Aberto’, criado em 2006 pela jornalista e escritora Vera Golik, junto de seu marido, o fotógrafo e sociólogo Hugo Lenzi.
O projeto consiste em uma série de fotos, entrevistas, exposições e palestras de mulheres em todo o Brasil que estão enfrentando os problemas de autoestima relacionados ao câncer de mama. “Depois que as mulheres veem as fotografias, elas se sentem empoderadas; muitas que não queriam fazer a reconstrução mudaram de opinião depois de terem participado do ensaio”, disse Vera Golik.  “As fotos não são para mostrar a cicatriz ou a tristeza do câncer, mas sim para mostrar a beleza daquela mulher, independentemente do que ela esteja passando”, conclui.
“A autoestima é fundamental na recuperação de uma paciente com câncer de mama. A gente até brinca falando que a única coisa que o homem perde é a esperança, mas as mulheres perdem a esperança antes de perderem a vaidade. Então não é só pela questão da autoestima, mas também de um sentimento da vida toda, na questão da sensualidade etc.”, explica o oncologista Ricardo Caponero.
Fazer a reconstrução da mama com próteses de silicone pode ajudar, e muito, na autoestima, trazendo de volta o sentimento de feminilidade. Mas outra opção também pode ajudar: a tatuagem.
“Optar pela tatuagem na cobertura da cicatriz ao invés da reconstrução da mama é mais simples, pois até mesmo na reconstrução tem um certo sofrimento por conta da anestesia, dreno; então algumas mulheres resolvem não fazer pra não passar por tudo isso”, afirma o Dr. Ricardo. Ele também lembra que a tatuagem não é prejudicial para o organismo.
Serviços solidários
Cirurgias de mamoplastia são procedimentos caros, mas, quando se trata de reconstrução da mama após a mastectomia, a operação pode ser feita gratuitamente.
Existe uma lei que garante a obrigatoriedade de o Sistema Único de Saúde (SUS) realizar o procedimento de reconstrução mamária. A Lei 9.797 de 1999 prevê que mulheres que passarem pelo processo de mastectomia total ou parcial têm direito à cirurgia plástica reconstrutiva, e em caso de condições técnicas e médicas, o procedimento pode ocorrer logo em seguida à retirada do câncer. Isso foi estabelecido porque a retirada da mama é considerada uma mutilação emocional para a mulher, já que o seio é um símbolo da identidade feminina.
Além da parte de preenchimento da reconstrução, feita com a prótese de silicone, não se pode esquecer de uma parte fundamental: o mamilo e a auréola.
Essa parte dificilmente é mantida no caso da mastectomia, e apesar do seio ficar de um tamanho regular após a cirurgia de reconstrução, a falta do mamilo ainda causa estranheza em quem passou pelo procedimento. Sendo assim, tatuadores passaram a oferecer serviços gratuitos para mulheres que desejam fazer o desenho do mamilo de maneira que fique idêntico ao original.


Foto: trabalho do tatuador Sérgio Maciel do estúdio Led’s Tattoo


Estúdios de tatuagens em diversos lugares do Brasil realizam campanhas não só no Outubro Rosa, mês de conscientização do câncer de mama, mas também no decorrer do ano. Entre esses estúdios está o Led’s Tattoo, de São Paulo, que realiza o procedimento de pigmentação da auréola.

“Essas mulheres chegam com uma expectativa e saem com outra, porque o trabalho fica muito bom”, afirma o tatuador Sérgio Maciel, fundador do estúdio. “Eu me sinto muito bem em fazer um trabalho como esse, a gente consegue de certa forma ajudar na felicidade das pessoas; a maioria das mulheres se emociona e isso é algo que não tem preço”, conclui.
O Led’s Tattoo foi fundado em 1982, em São Paulo, e há 15 anos vem realizando o trabalho de pigmentação de auréola em mulheres vítimas do câncer de mama. O estúdio oferece o serviço de forma gratuita para as pacientes que realizaram a mastectomia pelo SUS, com encaminhamento médico e que não têm condições de pagar a tatuagem. Para quem tem condições financeiras, o valor fica em torno de 600 reais por sessão.
Outro estúdio com uma iniciativa parecida é o Imaginarte, em Vitória, no Espírito Santo. Ele tem um projeto chamado “Tattoo do Seio”, que faz a pigmentação da auréola e outros desenhos em cima da cicatriz da mastectomia. O procedimento é gratuito para as pacientes que foram atendidas pelo SUS, mas para quem tem condições de pagar a pigmentação fica em torno de 400 reais.
Em Curitiba, a tatuadora Flávia Carvalho criou o projeto “A Pele da Flor”, que cobre, gratuitamente, cicatrizes de mulheres que tiveram algum trauma relacionado à violência doméstica ou que tiveram câncer de mama.
A superação
Um exemplo de superação do câncer de mama é a história da Gisele Cifarelli, de 46 anos, que foi uma das participantes do projeto De Peito Aberto. Ela descobriu a doença há seis anos e passou pelo procedimento da mastectomia unilateral, retirando apenas a mama direita, afetada pelo câncer.


“Quando me disseram que eu teria que tirar a mama, eu fiquei muito triste, porque é como tirar um pedaço de você; isso mexeu muito comigo”, conta Gisele. “Eu não me sentia mulher, parecia que eu estava vazia”, conclui.
A participação no projeto De Peito Aberto a ajudou na recuperação de sua autoestima, dando motivação a fazer a reconstrução da mama. “O projeto foi o que começou a levantar minha autoestima, eu comecei a ver que eu não sou apenas uma mama; eu percebi que tenho outras qualidades também, outras formas de feminilidade”.
O procedimento da reconstrução aconteceu um ano e meio após a mastectomia, mas, ainda assim, a estética diferente causava certo desconforto.
No início deste ano, Gisele fez a micropigmentação do mamilo, que lhe trouxe a autoestima e a confiança que lhe faltavam durante o período de tratamento da doença. “Depois da micropigmentação pronta, eu me senti mais mulher, voltei a me olhar no espelho com um olhar diferente”.
Fonte: Observatório terceiro setor
As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.

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