Estudo também revelou que a gravidez e a amamentação surtem efeitos protetivos contra o reaparecimento da doença.
(Jaco Blund/ThinkStock)
O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo, sendo mais comum entre as mulheres, com 22% de casos novos registrados por ano, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia. Mesmo que a faixa de maior incidência da doença esteja no período da pós-menopausa, isto é, depois dos cinquenta anos, o número de mulheres diagnosticadas mais precocemente aumentou significativamente.
“Comparando com as últimas quatro décadas, o percentual de câncer de mama em mulheres mais novas subiu 15% devido não somente a questões genéticas, mas também ao estresse causado pelo estilo de vida da maioria das mulheres que possuem dupla, tripla, e às vezes quádrupla jornada, além da má alimentação”, explica o mastologista e ginecologista oncológico do Hospital Albert Einstein e diretor do setor de mastologia e oncologia feminina do Centro Clínico Campinas, Dr. José Carlos Torres.
Muitas mulheres nessa faixa etária se amedrontam diante do diagnóstico de câncer de mama, o que é natural, visto a gravidade da doença. Entretanto,quando descoberto em seu estágio inicial, as chances de cura são de 95%, de acordo com estatísticas divulgadas pela Sociedade Brasileira de Mastologia.
A gravidez protege
Outra boa notícia, recebida com bastante animação pela comunidade médica, diz respeito à possibilidade de engravidar de mulheres que já tiveram a doença e passaram pelo tratamento. Além de recomendado, o processo de gerar um bebê também diminui os riscos de reaparecimento do câncer, conforme mostra um estudo publicado pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO). “Quando a mulher engravida, a produção de progesterona aumenta significativamente e ela para de produzir estrogênio para que o ovário não ovule, essa é uma das medidas protetivas contra o reparecimento. A amamentação também surte um efeito protetivo através do amadurecimento do tecido das mamas”, conta o especialista em reprodução humana e oncofertilidade, Dr. Giuliano Bedoschi.
O Dr. Torres ainda reforça a importância do estudo e explica seu papel na mudança positiva de mentalidade dos profissionais da área: “Nós tínhamos um conceito totalmente oposto dez anos atrás, tanto é que o mastologista desaconselhava a gravidez para mulheres diagnosticadas com o câncer de mama pois achava que isso poderia aumentar as chances da doença voltar. Entretanto, foi mostrado justamente o contrário. O ambiente gestacional é muito bom no ponto de vista da diminuição de riscos.”
A pesquisa analisou uma amostra de 1.207 pacientes com idades inferiores a 50 anos por uma década, todas diagnosticadas com câncer de mama não-metastático, ou seja, o tipo em que as células cancerígenas ainda não tinham se espalhado para outros órgãos do corpo. Ao todo, 333 participantes conseguiram engravidar, o que corresponde a 28% do total. 57% da população avaliada durante o estudo possuia um tumor RE-positivo, ou seja, neste caso, as células cancerígenas são receptoras de estrogênio e se proliferam em resposta ao hormônio.
A quimioterapia e a infertilidade
O maior impedimento de engravidar após ter sido submetida à quimioterapia é diminuição da fertilidade. “A mulher já nasce com um número de óvulos estabelecido. E a quimioterapia, indicada para a maioria dos tratamentos em mulheres jovens contra o câncer tem aspecto muito agressivo. E ele, basicamente, age em qualquer célula que se multiplica com maior frequência, é o caso das células reprodutoras que integram o ovário, isso prejudica a quantidade de óvulos, que podem diminuir em até 50%. Por isso, é indicado que uma mulher que deseja engravidar, antes de tomar os medicamentos quimioterápicos, faça um processo de fertilização. Outro risco que essas pacientes sofrem em decorrência do tratamento é a menopausa precoce”, explica o Dr. Giuliano Bedoschi. É importante lembrar que mulheres com um câncer num estágio muito avançado, infelizmente, não poderão engravidar.
O tratamento de fertilização consiste no congelamento de óvulos e embriões no período entre a cirurgia da retirada — total ou parcial — da mama, e o início da quimioterapia. “A paciente tem uma janela de oportunidade única. Depois da cirurgia, o tratamento com remédios quimioterápicos é iniciado em quatro semanas. Então, é nesse período que começamos a estimular o crescimento dos óvulos através de hormônios injetáveis. Doze a catorze dias depois é feita a coleta, assim que os óvulos atingem a maturação máxima”, diz Giuliano.
Na maioria dos casos, a mulher está apta a engravidar cinco anos após o término do tratamento. “Essa é a idade média indicada pela maioria dos especialistas, mas há exceções para outras pacientes que já estão chegando ao fim da idade reprodutiva. Então, em alguns casos as mulheres poderão engravidar dois ou três anos depois da quimioterapia. Mas é importante frisar que cada uma é avaliada individualmente”, esclarece o Dr. Giuliano, que completa: “Com o avanço considerável desta área da medicina, hoje, temos disponível um exame que avalia os fatores genéticos do tumor e mostra com precisão a sua gravidade. Se este exame acusar uma menor agressividade, a paciente poderá ser liberada para engravidar.”
O pré-natal
O pré-natal das pacientes nestas condições deve ser muito especial. “Os cuidados são basicamente os mesmos de um pré-natal de alto risco, mas isso não quer dizer que a gravidez seja de risco, apenas que o acompanhamento deve ser constante e individualizado, tanto com o obstetra, quanto com o oncologista.Os especialistas devem estar atentos para as mudanças no organismo materno que não existiriam caso ela não tivesse sido diagnosticada com um câncer de mama. Geralmente, são solicitados mais exames de imagem. Muitas vezes a quimioterapia utilizada em algumas mulheres pode levar a um aumento da reserva de sangue em circulação no corpo. Durante a gestação, o corpo de qualquer mulher apresenta uma elevação de 20 a 30% de sangue. Então, em alguns casos, o que não é um problema no dia a dia da paciente, pode se tornar um quando ela está gerando um bebê. Outro fator que os médicos também precisam se atentar é o aumento da pressão”, conta o Dr. Torres.
Por fim, é fundamental que as mulheres realizem a mamografia com frequência e mantenham seus exames ginecológicos em dia, pois a descoberta de um câncer em seu estágio inicial é decisivo tanto para que a sua vida seja salva, quanto para que haja a possibilidade dela ter um filho. “O câncer de mama não é um atestado de morte, muito pelo contrário, as chances de cura são altíssimas quando descoberto no começo“, finaliza o Dr. Torres.
Fonte: Cláudia
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