De acordo com o Controle do Câncer de Mama (Ministério da Saúde/Inca, 2004), mulheres a partir dos 40 anos devem realizar o exame clínico de mama anualmente; aquelas entre 50 e 69 anos devem passar por mamografia com no máximo dois anos de intervalo; e as pacientes com fator de risco (registro da doença na família) devem ser submetidas ao exame clínico e mamografia anualmente a partir dos 35 anos – Foto: Freepick
Pesquisa realizada pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP revela que 32,8% das mulheres atendidas em UBS da cidade, apesar de estarem na faixa etária indicada, não realizaram o exame clínico anual das mamas, como recomendado pelo Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (MS/Inca). E os exames realizados (clínico e mamografia) não obedeceram critérios estabelecidos – faixa etária e fator de risco familiar, além das falhas na periodicidade.
O câncer de mama possui altos índices de mortalidade e isso está relacionado ao diagnóstico em fases avançadas, conta a pesquisadora Simone Mara de Araujo Ferreira, responsável pelo estudo. Para ela, reformular “as práticas e ações voltadas às mulheres do município pode influenciar na mortalidade por câncer”. Isso porque para a detecção precoce da doença é indispensável a realização dos exames preconizados; através deles (mamografia e exame clínico mamário) é feito o rastreamento do câncer de mama. “A partir dos dados coletados nesses exames é que se obtêm as informações para o registro e controle da doença no município e no País.”
Simone avaliou o atendimento de 631 usuárias, com idade entre 35 a 69 anos, seguidas regularmente pelos últimos três anos em 30 UBS de Ribeirão Preto (as entrevistas terminaram em julho de 2014). As análises seguiram as recomendações do documento Controle do Câncer de Mama publicado pelo Ministério da Saúde/Inca em 2004. Pelo documento, mulheres a partir dos 40 anos devem realizar o exame clínico de mama anualmente; aquelas entre 50 e 69 anos devem passar por mamografia com no máximo dois anos de intervalo e as pacientes com fator de risco (registro da doença na família) devem ser submetidas ao exame clínico e mamografia anualmente a partir dos 35 anos.
Segundo a enfermeira, apenas metade das mulheres de seu estudo se submeteu ao exame clínico. O mesmo aconteceu com as 78 usuárias com fator de risco familiar para câncer de mama ou ovário: somente 39 afirmaram ter realizado o exame clínico. Simone observou também que, na principal faixa etária para a assistência, de 50 a 69 anos, mais de 37% não receberam o guia de encaminhamento para a realização dos exames indicados (clínico e mamografia).
Esses resultados fazem parte do doutorado de Simone, com orientação da professora Ana Maria de Almeida. Integram ainda o projeto Ações no controle do câncer de mama: identificação das práticas de atenção básica, docentes da EERP, que o desenvolveram em conjunto com a Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A pesquisa engloba estudos realizados em Diadema e Ribeirão Preto (SP), e São Luís (MA).
Medo do diagnóstico ou do exame
De acordo com Simone, o desconhecimento da doença e das ações de detecção e prevenção do câncer pela população são fatores que contribuem para limitar o rastreamento do câncer de mama. Seja por medo do diagnóstico ou por medo exagerado de sentir dor durante o exame, as pessoas negligenciam as práticas preventivas.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), anualmente, no Brasil entre os tipos de cânceres que atingem as mulheres 28% é de mama. Com essa realidade, a pesquisadora defende a necessidade de investir em mais estudos sobre o tema na região de Ribeirão Preto. A procura por possíveis resistências das mulheres em aderir ao rastreamento do câncer deve ser incentivada.
De acordo com o Boletim Saúde do Ceper (Centro de Pesquisa em Economia Regional), do início de junho de 2018, o câncer de mama é o tipo de tumor que mais causa internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Ribeirão Preto e cidades da região. Foram analisados dados do SUS de 2008 a 2017, que registraram 5.599 internações provocadas pelo câncer de mama, ou 41,5% do total de 13.489. O Ceper é um órgão da Fundação para Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Fundace), vinculada a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP.
Nesse período foram gastos R$ 15,1 milhões com internações causadas por tumores malignos, 48% deles para o tratamento do câncer de mama. De acordo com os números revelados pelo estudo, do total de internações, apenas 49 pacientes eram homens, frente a 5.550 mulheres acometidas pela doença. O estudo revela ainda que as mulheres com idades entre 40 e 69 anos são as mais afetadas pela doença e representam 69% do total das internações. Nesse mesmo período foram internadas 789 mulheres com idade entre 10 e 39 anos para tratamento de tumores na mama.
O outro lado
Em resposta aos dados da pesquisa, a coordenadora do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher da Secretaria Municipal da Saúde, Suzi Volpato Fábio, diz que, como são informações anteriores a 2014, não tem subsídios para analisá-los. Segundo a coordenadora, a partir de 2014 Ribeirão Preto mudou as estratégias para a realização das mamografias de rastreamento do câncer de mama. Também adotou o projeto Mulheres de Peito com o objetivo de melhorar o acesso de mulheres entre 50 e 69 anos aos exames preventivos. Com esse projeto, o pedido de mamografia pode ser solicitado por um profissional não médico.
“Em Ribeirão, pelo SUS, no ano de 2014, foram realizadas 10.325 mamografias; já em 2017, foram 13.168, com um aumento de 27,5%”, destaca Suzi. Ela ainda informa que, dentre as 43 mulheres que possuíam resultados com suspeita de câncer, seis estavam abaixo dos 40 anos. Todas foram encaminhadas para os procedimentos necessários.
Suzi diz que “não há demanda reprimida para a realização de mamografia” na cidade e que o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher realiza o monitoramento de todos os exames de mamografia feitos pelo SUS. “Frente a um resultado com suspeita de câncer, a unidade de saúde solicitante é prontamente informada e fará o contato com a usuária e providenciará o encaminhamento para os setores responsáveis.”
Segundo Suzi, ações com essa temática são realizadas pela Secretaria da Saúde, em especial no mês de outubro. Mas a coordenadora entende que esforços ainda precisam ser feitos para atingirem melhores resultados. “Apesar da cobertura de mamografia ter aumentado ao longo dos anos, sabemos que temos ainda muitos desafios pela frente.”
Fonte: Jornal USP
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