ROMA, quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012 (ZENIT.org) – Por ocasião da Jornada Mundial dos Enfermos, é particularmente significativo repropor o pensamento do psiquiatra austríaco Viktor E. Frankl, fundador da logoterapia e da análise existencial, considerada a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, focada na procura do sentido da vida e nas atitudes a serem assumidas perante situações de sofrimento.
É indicativo um episódio que Viktor Frankl narrou muitas vezes aos seus ouvintes. Um homem encontra na rua o médico de família, que lhe pergunta sobre o seu estado de saúde. Imediatamente, o médico percebe que o paciente demonstra alguma dificuldade para ouvir. “Provavelmente, você está bebendo demais. Pare de beber e se sentirá melhor”, aconselha. Alguns meses mais tarde, os dois se encontram novamente na rua e, para saber do estado atual de saúde do paciente, o médico levanta a voz, mas o homem responde: “Não há necessidade de gritar, doutor. Eu escuto perfeitamente”. “Certamente você parou de beber, não é? Continue nesse tratamento”. Depois de mais um tempo, eles se encontram pela terceira vez. E, novamente, o médico precisa levantar a voz para se fazer ouvir. “Provavelmente, você começou a beber de novo”, diz ao paciente. E este lhe explica: “Veja, doutor. Antes eu bebia e a minha audição era ruim. Depois, parei de beber e estava me sentindo melhor. Mas o que eu sentia não era tão bom quanto o uísque”.
Frankl comenta: “Na ausência de um sentido da vida, cuja realização o teria feito feliz, ele tentou chegar a um sentimento de felicidade eludindo toda realização de significado, apoiando-se num elemento bioquímico. O sentimento de felicidade, que normalmente nunca é proposto como o fim da aspiração humana, mas parece ser uma manifestação lateral do ter-alcançado-o-próprio-escopo, um “efeito” secundário, se deixa ‘perseguir’, e isso foi possibilitado justamente pelo álcool etílico” (Frankl, 2005, pág. 17).
Para Frankl, ser homem significa ser fundamentalmente orientado para algo que nos transcende, para algo que está além e acima de nós, algo que nos atrai profundamente. Só aquele que crê na sua “vontade de significação” pode construir uma hierarquia de valores capaz de atribuir ao prazer e ao poder, à auto-afirmação e à satisfação dos próprios instintos o seu verdadeiro lugar, que é o de ser produtos secundários, efeitos de uma realização do sentido da própria existência.
Hoje é um verdadeiro desafio falar de procura de sentido, porque se é imediatamente reconduzido à capacidade radical do homem de descobrir os significados das situações individuais que abarrotam a vida cotidiana, de tomar decisões que correspondam ao seu dever-ser, de descobrir as possibilidades que estão inseridas na sua existência única.
Se a vida do homem é sempre específica, por referir-se a um ser singular, concreto, individual, a sua tarefa não pode ser algo geral, válida para todos e para qualquer um, permanente em qualquer momento, mas varia de homem para homem, porque corresponde à singularidade e à individualidade de cada um.
Ao mesmo tempo, no entanto, a tarefa varia de situação para situação, porque a singularidade das situações traz consigo uma caracterização diferente, com exigências e condições próprias, nunca repetíveis. E o homem deve observar atentamente, portanto, a situação em que se encontra, e que não apresenta nenhum desencontro com o que acontece consigo mesmo ou com outros, agora ou anteriormente.
Com a voz da consciência, o homem é capaz de perceber qual é o sentido que está escondido por trás de uma situação e assim agir em conformidade e com responsabilidade. “Numa época em que parece que os dez mandamentos estão perdendo a sua validade incondicional para muitos homens, o homem deve aprender a perceber os dez mil mandamentos que surgem das dez mil situações únicas que enchem a sua vida” (Frankl, 1992, págs. 29-30). Isto significa que somos constantemente interpelados pela realidade, pelas situações em que nos encontramos e que nos pedem uma resposta. É por isso que John F. Kennedy, em 20 de janeiro de 1961, no discurso de posse como presidente dos Estados Unidos da América, disse aos seus compatriotas: “Não perguntem o que o seu país pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo seu país” (citado em Dallek, 2004, pág. 366). E, quase como complemento, Frankl aconselhava aos seus ouvintes norte-americanos: “Depois de ter construído a Estátua da Liberdade na costa leste, seria de se construir a estátua da responsabilidade na costa oeste” (Frankl, 2010, pág. 63).
Em nossa era científica, o progresso humano é calculado com dados que podem ser facilmente medidos, inseridos no computador e analisados. No entanto, as respostas do computador indicam apenas como o homem se comporta na média e em amostras de grupos, mas nunca como ele deveria se comportar em situações específicas. “A nossa vida não é regulada em cada cruzamento por uma luz vermelha que manda parar, nem por uma luz verde que manda seguir em frente. Nós vivemos em uma era de luz amarela intermitente, que deixa para cada indivíduo o peso da decisão” (Fabry, 1970, pág. 80). Viver, basicamente, significa ter a responsabilidade de “responder” exatamente aos problemas vitais, de cumprir as tarefas que a vida coloca para cada indivíduo, de atender às necessidades do momento.
As tarefas que o homem é chamado a realizar têm um sentido tríplice: o trabalho, o amor e o sofrimento. Se no trabalho o homem pode se expressar imprimindo a sua marca pessoal à realidade, e se no amor ele pode viver as mais fortes e íntimas experiências, é no sofrimento que ele manifesta a sua grandeza, pois só no sofrimento ele se acha tragicamente confrontado consigo mesmo, com a sua capacidade não só de trabalhar e de desfrutar, mas também de sofrer.
O homem tem o direito à vida, à alegria, ao trabalho, à paz. Mas também tem um direito fundamental que ninguém pode lhe arrebatar, por nenhum preço: o direito de sofrer a sua própria dor, de inundar de significado uma vida aparentemente destruída, economicamente sem sucesso. O sofrimento “não é simplesmente uma possibilidade qualquer, mas a possibilidade de realizar o valor supremo, a oportunidade de dar plenitude ao significado mais profundo da vida” (Frankl, 2001, pág. 190).
Este sentido brilha na atitude que o homem assume diante de um destino de dor, diante das forças adversas, diante de situações irreparáveis. É por isso que o imperador austríaco Francisco José II, em 1784, quis que à entrada do Hospital Policlínico de Viena fosse escrita a frase latina Saluti et solatio aegrorum. Quem cuida da saúde física e mental de outro também é chamado a ajudá-lo a suportar com aceitação e compreensão os sofrimentos inevitáveis que a vida lhe reserva e a recuperar não apenas a capacidade de trabalhar e desfrutar, mas também a de sofrer.
Eugenio Fizzotti
Fonte: Zenit
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