segunda-feira, 5 de março de 2018

Entender suas emoções ajuda a ter melhor qualidade de vida durante o tratamento

É preciso ouvir, conhecer seus limites e procurar ajuda quando for necessário

Você já ouviu as suas emoções, hoje? Essa pergunta pode soar um pouco estranha, mas é muito importante, acredite. A cada ano, uma nova área da medicina se expande para estudar e entender como as emoções agem no corpo humano: a psiconeuroimunologia.
Apesar do nome complicado e difícil de falar logo de primeira, a sua base é muito simples: mostrar como cada emoção tem um componente direto no sistema imunológico, que consequentemente reflete no físico. É importante notar que não há emoção que cause diretamente uma doença, nem mesmo o câncer. A relação está entre o estado de saúde mental e a fragilização do sistema imunológico.
Sua mente está ligada e atuando em conjunto com o seu corpo 24 horas por dia, 7 dias por semana desde o momento do seu nascimento. Isso pode soar óbvio, mas a novidade está no efeito que determinadas emoções, positivas ou negativas, estimulam. O conceito está ganhando muita força, mas a ideia não é nova. Algumas pesquisas feitas em 1930 já revelavam a influência de estados emocionais e estruturas de personalidades no funcionamento de vários sistemas orgânicos, podendo ocasionar um desequilíbrio da homeostase (condição de estabilidade que o organismo precisa para realizar suas funções corretamente).
“A saúde mental regula nossos hormônios e o funcionamento do nosso organismo. O emocional mais abalado pode diminuir a imunidade e, assim, a pessoa estará mais vulnerável a determinadas doenças”, explica a psicóloga e neuropsicóloga Thais Quaranta.
O organismo nada mais é que uma fábrica de substâncias. Ao se desregular, ele sobrecarrega outros componentes e gera o desequilíbrio. Por sua vez, os órgãos ficam comprometidos e problemas mais graves podem ser detectados. “Nossos sentimentos precisam ser entendidos como sinais de alerta do nosso corpo, assim como a febre indica que algo está errado”, esclarece Quaranta.
Um artigo para a Revista Med da USP escrito pelo especialista em psiconeuroimunologia, Wimer Bottura, traça um mapa de processamento e sugere quais elementos têm mais impacto no sistema imunológico. Acontecimentos ou situações traumáticas e os significados que cada indivíduo constrói ao redor dele resultam em uma série de fases, como o desenvolvimento de ansiedade, insônia e depressão, que podem influenciar a saúde física.
Ainda segundo Bottura, uma investigação mais profunda mostra que fatos aparentemente sem tanta importância podem desencadear as “agressões silenciosas”. Essas agressões consistem em micro traumas originários de fatos corriqueiros que, ao se repetir, geram respostas inadequadas do organismo. O estresse, irritação e mau humor são exemplos perfeitos de alertas para parar, relaxar e procurar ajuda profissional.
Por que é tão difícil escutar nosso corpo?
A psicóloga e psicanalista Marianne de Toni acredita que ainda não superamos o tabu criado em torno da saúde mental: “Não fomos acostumados a expressar nossos sentimentos e angústias. Desde muito crianças ‘engolir o choro’ é exigido e reconhecido como a melhor alternativa para lidar com as mais diferentes situações, seja de dor, angústia, frustração etc.”.
Com o corpo fragilizado e a mente abalada fica ainda mais difícil lidar com o surgimento de uma doença grave como o câncer. Nesse momento, o apoio de um psicólogo pode significar melhor qualidade de vida durante o tratamento e ajudar a entender o que acontecendo com mais clareza e estabilidade.
Muita atenção: não existe nenhum estudo que comprove a relação direta entre as emoções e o surgimento do câncer. Tudo o que se sabe é a ligação entre o estado emocional e o sistema imunológico. Estados de depressão, por exemplo, favorecem queda da imunidade, o que abre espaço para o desenvolvimento de doenças, mas não causam o desenvolvimento de um tumor.
“A aceitação da doença exige adaptabilidade, o que significa que várias pequenas mudanças, como adoção de estilo de vida saudável, relação com a família e um possível afastamento do trabalho precisam acontecer”, explica Regina Liberato, Coordenadora de Oficinas e Programas do Instituto Oncoguia.
O principal papel do profissional está nas intervenções psicossociais, que não atendem somente aos aspectos psicológicos. Eles guiam os pacientes desde o diagnóstico, passam pela fase de tratamentos e chegam até a reabilitação e cuidados especiais que aparecem durante o seu desdobramento.
“Os temas que trabalhamos com mais frequência estão relacionados às áreas de expressão como a identidade pessoal, a autoestima, a imagem corporal, sensualidade e sexualidade, os relacionamentos interpessoais, as relações de amor, a reinserção social e adaptação profissional”, conta Regina.
A especialista também aponta que oferecer um espaço seguro para a expressão de sentimentos, promover meios para reduzir e controlar o estresse, ansiedade e depressão, melhorar a comunicação e criar a possibilidade para o desenvolvimento da esperança são fundamentais para quem está vivendo esta fase extremamente difícil.
Reconhecer fracassos, medos e angústias conta pontos no processo de aceitação e busca de ajuda profissional. Nem todos conseguimos resolver os problemas sozinhos e a boa notícia é que você não precisa.
Fale, chore, desabafe e não guarde dentro de si. As consequências podem ser muito maiores no futuro.

Fonte: Estadão


As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
É muito importante (sempre) procurar mais informações sobre os assuntos

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