A assistência fisioterápica tem ganhado espaço na área da oncologia com expectativas crescentes de expansão. Isto vem acontecendo, principalmente, devido aos avanços dos tratamentos oncológicos e seus bons resultados em aumentar o tempo de vida, mas com consequentes impactos na qualidade de vida dos pacientes devido a sequelas e eventos adversos dos tratamentos.
Tanto o câncer quanto o seu tratamento são agressivos e podem se manifestar em diferentes partes e sistemas do organismo humano e desta forma gerar disfunções, muitas das quais podem ser prevenidas ou tratadas pela fisioterapia. Neste e nos próximos “posts” estaremos evidenciando as principais disfunções apresentadas pelos pacientes com câncer e que podem ser tratadas de forma preventiva ou terapêutica. Esta discriminação se faz necessária, pois tem relação direta com os objetivos do plano fisioterápico que deverá ser traçado após o diagnóstico cinético-funcional, ou seja, se um paciente não apresenta nenhuma disfunção no momento da avaliação, mas apresenta risco aumentado de evoluir com alguma disfunção com a evolução da doença ou seu tratamento oncológico, seja ele, radioterapia, quimioterapia ou cirurgia, o mesmo poderá receber intervenções ou orientações que minimizarão o risco de desenvolver determinadas disfunções.
Vamos a alguns exemplos:
Exemplo 1:
Paciente com câncer de pulmão, DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), que na avaliação do médico – cirurgião foi precocemente encaminhado para fisioterapia para melhorar a reserva funcional pulmonar enquanto realiza seus exames de risco cirúrgico. Esta “pré-reabilitação” tem demonstrado ser efetiva em criar uma reserva funcional capaz de viabilizar a ressecção cirúrgica em pacientes que poderiam não ter parâmetros de função pulmonares mínimos para serem eleitos para o procedimento cirúrgico que seria a melhor opção terapêutica de cura da doença restrita ao pulmão.
Todavia, mesmo se o paciente já tiver função pulmonar mínima para ser eleito para cirurgia, o seguimento de um protocolo de exercícios pré-operatório poderá melhorar sua função respiratória geral e desta forma minimizar o risco de complicações respiratórias, que são as mais comuns nos pós-operatórios de tórax, contribuindo para uma recuperação precoce da sua capacidade funcional prévia à cirurgia.
Exemplo 2:
Paciente com câncer de mama que realizará quimioterapia para redução do volume tumoral para posterior retirada do tumor pela cirurgia, este esquema de tratamento contribui para realização de uma cirurgia menos agressiva com melhores resultados estéticos. Se esta paciente for encaminhada para fisioterapia logo após a definição diagnóstica e do plano terapêutico oncológico será possível orientá-la para realização de exercícios aeróbicos, os quais têm um efeito em todo organismo por melhorar a função das células que passam a receber um maior aporte de sangue contendo nutrientes e oxigênio devido ao maior bombeamento do sangue pelo coração que foi estimulado pelo exercício.
Em pacientes em quimioterapia isto tem um enorme valor em minimizar a disfunção da medula óssea que é a principal produtora de células sanguíneas, as quais por terem um ciclo celular curto são as mais afetadas pelos efeitos tóxicos da quimioterapia e desta forma morrem facilmente, o que gera a necessidade da medula óssea em produzir novas células sanguíneas rapidamente para viabilizar um adequado carreamento de oxigênio pelas hemácias, adequada defesa orgânica pelos leucócitos ou mesmo uma adequada estagnação do sangue pelas plaquetas, ou seja, os exercícios aeróbicos podem prevenir complicações como anemia, infecções e sangramentos que podem ser motivo da interrupção do tratamento de quimioterapia que poderá ter impacto no resultado do plano terapêutico em busca da cura.
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A avaliação fisioterápica previa ao início do tratamento oncológico também permite ao fisioterapeuta identificar disfunções que podem ser tratadas precocemente ou podem servir de parâmetro para o grau máximo de melhora possível com a fisioterapia, como acontece com as disfunções de ombro comuns no pós-operatório de câncer de mama com linfadenectomia, uma vez que com a retirada dos linfonodos axilares é retirado o panículo adiposo responsável pelo adequado deslizamento das estruturas moles adjacentes (pele, tendões, nervos, vasos…) que somado ao estímulo de restrição da mobilidade nos primeiros dias após a cirurgia podem ser o suficiente para gerar fibroses locais que limitarão os movimentos do ombro. Desta forma orientar a paciente sobre o que vai acontecer durante e após a cirurgia, os cuidados com o membro e como será realizado o acompanhamento fisioterápico poderá minimizar a chance de disfunção do ombro e outras como linfedema que discutiremos em outro momento.
Contudo a área de maior reconhecimento atual da fisioterapia em oncologia está na reabilitação de disfunções e/ou sequelas geradas pelo tratamento oncológico ou mesmo pelo crescimento e disseminação tumoral. Como em toda área da saúde, reabilitar precocemente permite um melhor prognóstico com os resultados da reabilitação, uma vez que criar novos caminhos neurais para reconhecer os padrões normais de funcionamento orgânico, em casos crônicos, será sempre um desafio para as ciências da saúde.
A reabilitação física em oncologia realizada pela fisioterapia tem diferentes focos a depender da região onde o(s) tumor(es) está(ão) localizado(s), o tipo de tratamento oncológico e a forma de oferta do tratamento oncológico, internação ou ambulatorial. Desta forma descreverei nos próximos posts algumas disfunções comuns de serem tratadas pela fisioterapia a depender da localização do tumor.
Fonte: Vital
As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
É muito importante (sempre) procurar mais informações sobre os assuntos
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