Segunda-feira aconteceu o primeiro evento da Semana da Mulher da CliniOnco. Na ocasião, uma das doutoras que participava do bate papo – a geriatra Elizabeth Luz – citou o livro Em Busca de Sentido, do doutor Viktor Frankl. Já o indiquei aqui no blog, e sou entusiasta da logoterapia – apesar de ser completamente leiga, me interesso pelo assunto!
Viktor Frankl ( 1905-1997)
Pois bem, quando li o livro Em Busca de Sentido – em 2012, época em que eu estava em remissão, me sentindo saudável e feliz – por diversas vezes associei o sofrimento de estar em um campo de concentração com o sofrimento de se estar com câncer. Ter um inimigo “invisível”, que nos odeia e quer nos destruir – e nós não sabermos o que fizemos à ele para receber tanto ódio, é um sentimento comum tanto para quem sofreu um ataque nazista quanto para quem vê suas células se rebelarem e saírem por aí criando tumores! É impossível não pensar: O que eu fiz para merecer isso? A fragilidade física e a perda dos cabelos é uma questão comum nas duas situações, além da dúvida constante “Será que eu vou sobreviver?“.
Quando descobri que estava novamente com linfoma – em fevereiro de 2013 – lembrei imediatamente de vários trechos do livro, em especial um – que intitula esse post e que transcrevo abaixo.
O SENTIDO DO SOFRIMENTO
Não devemos esquecer nunca que também podemos encontrar sentido na vida quando nos confrontamos com uma situação sem esperança, quando enfrentamos uma fatalidade que não pode ser mudada. Porque o que importa, então, é dar testemunho do potencial especificamente humano no que ele tem de mais elevado, e que consiste em transformar uma tragédia pessoal num triunfo, em converter nosso sofrimento numa conquista humana. Quando já não somos capazes de mudar uma situação – podemos pensar numa doença incurável, como um câncer que não se pode mais operar – somos desafiados a mudar a nós próprios.
Quero citar um exemplo bem claro. Certa vez um clínico geral de mais idade veio consultar-me por causa de uma depressão muito profunda. Ele não conseguia superar a perda de sua mulher, que falecera fazia dois anos e a qual ele amara acima de tudo. Bem, como poderia eu ajudá-lo? Que poderia lhe dizer? Abstive-me de lhe dizer qualquer coisa e, ao invés, confrontei-o com a pergunta: “Que teria acontecido, doutor, se o senhor tivesse falecido primeiro e sua esposa tivesse que lhe sobreviver?”
Quero citar um exemplo bem claro. Certa vez um clínico geral de mais idade veio consultar-me por causa de uma depressão muito profunda. Ele não conseguia superar a perda de sua mulher, que falecera fazia dois anos e a qual ele amara acima de tudo. Bem, como poderia eu ajudá-lo? Que poderia lhe dizer? Abstive-me de lhe dizer qualquer coisa e, ao invés, confrontei-o com a pergunta: “Que teria acontecido, doutor, se o senhor tivesse falecido primeiro e sua esposa tivesse que lhe sobreviver?”
– “Ah,” disse ele, “isso teria sido terrível para ela; ela teria sofrido muito!” Ao que retruquei: “Veja bem, doutor, ela foi poupada deste sofrimento e foi o senhor que a poupou dele; mas agora o senhor precisa pagar por isso sobrevivendo a ela e chorando a sua morte.” Ele não disse uma palavra, apertou a minha mão e calmamente deixou meu consultório. Sofrimento de certo modo deixa de ser sofrimento no instante em que encontra um sentido, como o sentido de um sacrifício.
É claro que esta não foi propriamente uma terapia, uma vez que, em primeiro lugar, o seu desespero não era nenhuma doença; em segundo, eu não podia alterar a sua sina, não podia ressuscitar a sua esposa. Mas o que eu consegui naquele momento foi mudar a sua atitude frente ao destino inalterável, visto que a partir daquela ocasião ele pelo menos podia ver um sentido em seu sofrimento. Um dos princípios fundamentais da logoterapia está em que a principal preocupação da pessoa humana não consiste em obter prazer ou evitar a dor, mas antes em ver um sentido em sua vida. Esta é a razão por que o ser humano está pronto até a sofrer, sob a condição, é claro, de que o seu sofrimento tenha um sentido.
(…)
Existem situações em que se está impedido de trabalhar ou de gozar a vida; o que, porém, jamais pode ser excluído é a inevitabilidade do sofrimento. Ao aceitar esse desafio de sofrer com bravura, a vida recebe um sentido até o seu derradeiro instante, mantendo este sentido literalmente até o fim. Em outras palavras, o sentido da vida é um sentido incondicional, por incluir até o sentido potencial do sofrimento inevitável.
(…)
Lembro-me que pouco depois me pareceu que eu morreria em futuro próximo. Dentro dessa situação crítica, entretanto, eu tinha uma preocupação diferente da maioria dos meus companheiros. A pergunta deles era: “Será que vou sair com vida do campo de concentração? Caso contrário, todo esse sofrimento não tem sentido.” A pergunta que atormentava a mim era: “Será que tem sentido todo esse sofrimento, toda essa morte ao nosso redor? Caso contrário, em última análise não faz sentido sobreviver; uma vida cujo sentido depende de semelhante eventualidade – escapar ou não escapar – em última análise nem valeria a pena ser vivida.”
Tudo isso pode ser resumido em uma frase que aparece no mesmo livro :
“ Tudo na vida pode ser tirado de você, exceto uma coisa: a liberdade de escolher como você vai responder à situação. Isso é o que vai determinar a qualidade da vida que você vive.
Em uma cena do filme 50/50, a terapeuta diz “Você não pode mudar sua situação, a única coisa que você pode mudar é como você escolhe lidar com ela”. Soa familiar?
Fonte: Além do Cabelo
As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
É muito importante (sempre) procurar mais informações sobre os assuntos
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