Imagine que, por um momento, você consegue ver seu corpo a partir da perspectiva de um terceiro. Esse incrível fenômeno tem uma explicação em nosso funcionamento cerebral. É sobre esse tema que falaremos neste artigo.
As experiências fora do corpo incluem um conjunto de fenômenos tão fantásticos quanto complexos. Imagine ver seu corpo de fora ou ter a sensação de flutuar. Essas são algumas das sensações que compõem esse fenômeno.
No entanto, apesar de por muito tempo as explicações terem sido tribais e místicas, hoje em dia sabemos que a causa está em nosso cérebro.
As experiências fora do corpo são fenômenos perceptivos que incluem experiências de movimento ilusório. Entre elas, podemos destacar: voar, cair, flutuar e ver a si mesmo de fora.
Essas experiências dissociativas estão relacionadas com fatores neurológicos e psicológicos, que ocorrem tanto em indivíduos saudáveis quanto em indivíduos que apresentam alguma patologia.
Tipos de experiências fora do corpo
O fenômeno pode se dividir em dois tipos de experiência com características bem definidas:
- Experiências sensoriais: as sensações de cair ou flutuar representam uma ruptura na união das sensações corporais que envolvem o sistema vestibular e motor.
- Experiências autoscópicas: essas experiências consistem em perceber o próprio corpo na visão de um terceiro.
Como as experiências fora do corpo ocorrem?
As experiências fora do corpo costumam se associar a estados alterados de consciência. Muitos autores comparam o fenômeno com estados característicos dos sonhos, com um grande componente de imaginação.
Além disso, é um processo de integração multissensorial anômala na qual o indivíduo está consciente da situação. Por conseguinte, os sistemas vestibular, motor e sensorial são fundamentais para lidar com isso.
Sistemas que participam do fenômeno
- Vestibular: esse sistema tem receptores no ouvido interno que são responsáveis por conservar uma imagem estável na retina, habilidade fundamental para manter o equilíbrio.
- Motor: durante as experiências, apesar de não ocorrerem fisicamente, o cérebro executa os programas de movimento correspondentes em um plano dissociativo.
- Sensorial: assim como o motor, está localizado no lobo parietal. Muitos autores teorizam que aquilo que se projeta é a imagem autopercebida do corpo.
Transtornos e fenômenos vinculados às experiências fora do corpo
Quando algum dos sistemas mencionados está alterado, a predisposição para que ocorra uma experiência fora do corpo é maior. Transtornos vinculados ao sono, ao consumo de entorpecentes e às lesões cerebrais podem criar as condições ideais para esses fenômenos.
Entre os fenômenos associados ao sono, podemos destacar:
- Alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas: são experiências de percepção vívidas e confusas que ocorrem no início e no final do sono.
- Paralisia do sono: a dessincronização entre as extremidades e o motor de execução altera o processamento multissensorial do corpo e, por conseguinte, a autopercepção, provocando a sensação de flutuar ou de ter experiências fora do corpo.
- Sonhos lúcidos: consistem na recuperação da consciência durante o sono. O indivíduo é capaz de dirigir parcialmente um sono que se apresenta com características muito nítidas e detalhes bastante precisos.
- Sonho de Movimento Ocular Rápido: nessa fase do sono ocorrem devaneios, dado que o cérebro apresenta uma grande atividade (similar à vigília). Graças a estudos eletrofisiológicos, foi possível descobrir que as três situações anteriores ocorrem durante essa fase do sono.
É possível induzir uma experiência fora do corpo?
Durante séculos, essas experiências foram vinculadas ao paranormal. Isso não é estranho, pois nossos ancestrais não possuíam ferramentas adequadas para estudá-las.
Hoje em dia, sabemos que esse fenômeno é causado por uma distorção da própria imagem corporal, na qual estão envolvidos processos cognitivos como a memória, a autopercepção e a imaginação.
Experiências fora do corpo e fantasia
Assim como essa experiência tem um fundamento de caráter orgânico, também há fatores psicológicos estreitamente vinculados ao fenômeno. Entre eles, o que mais se destaca é a personalidade.
Vários estudos demonstraram que essas experiências são mais frequentes em indivíduos que têm um alto grau de fantasia e abertura à experiência. Essa relação coloca em evidência que as experiências também podem ser fomentadas pela sugestão e por características da personalidade.
Indução artificial
O fenômeno também pode ser induzido artificialmente, o que constitui uma das maiores evidências da sua causa cerebral. As técnicas mais eficazes são:
- Indução de frequências cerebrais: por meio das batidas binaurais, é possível induzir no cérebro uma atividade de onda Theta (4 – 7,5 Hz), característica dos estados entre o sono e a vigília.
- Estimulação Magnética Transcraniana: por meio da estimulação dos lobos temporais, como no experimento de Persinger. A hiperconectividade gerada entre lobos provoca uma intrusão do sentido espacial do “eu” (hemisfério direito) no sentido linguístico do “eu” (hemisfério esquerdo).
- Estimulação direta: em alguns experimentos foi possível promover essas experiências por meio da estimulação direta do córtex vestibular e motor.
- Estimulação elétrica da junção temporoparietal: como no experimento de Arzy, a estimulação dessa área de grande processamento multissensorial provoca erros de autopercepção.
- Privação sensorial: ao eliminar as referências de espaço e tempo, a desorientação pode provocar estados alterados de consciência nos quais as imagens mentais recebem um realismo excessivo.
Experiências fora do corpo e meditação
Esse fenômeno costuma ocorrer em estados nos quais a atividade cerebral é similar à do sono, mas nos quais o indivíduo conserva a consciência.
Pessoas que meditam com regularidade podem reproduzir com maior facilidade essas experiências, as quais alguns chamam de “viagens astrais”. Consequentemente, as ondas Theta costumam se proliferar em estados de relaxamento extremos, como a meditação.
A participação dos neurônios-espelho
Os autores Jalal e Ramachandran propõem que o sistema de neurônios-espelho está tão conectado que permite uma visão virtual em terceira pessoa.
Os neurônios espelho são acionados simplesmente ao ver a outra pessoa realizar uma ação, conectando-se com os centros superiores para antecipá-la ou imitá-la simbolicamente.
A conexão desses neurônios com o córtex cerebral e as vias aferentes permitiria “separar-se do corpo” em condições de alteração sensorial.
Um fenômeno psicobiológico
As experiências fora do corpo envolvem o sistema nervoso e motor, as funções cognitivas e os traços de personalidade. Paralelamente, é um fenômeno que, apesar de ocorrer de forma natural sob certas circunstâncias, também pode ser patológico.
Por conseguinte, provocar essas experiências não é necessariamente saudável e pode representar um perigo, pois elas também estão associadas a crises psicóticas.
Dado que este é um fenômeno associado ao paranormal, por muitos anos as pessoas se negaram a consultar um especialista por medo de serem consideradas loucas. Entretanto, entender as verdadeiras causas do fenômeno é um grande primeiro passo para tratá-lo corretamente.
Fonte: Mente Maravilhosa
As informações e sugestões contidas neste blog são meramente informativas e não devem substituir consultas com médicos especialistas.
É muito importante (sempre) procurar mais informações sobre os assuntos.
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