sábado, 19 de outubro de 2019

“Células assassinas” derivadas de células-tronco são usadas em terapia contra o câncer

Em estudo inédito, paciente com câncer em estágio avançado recebe tratamento à base de células imunológicas obtidas a partir de células-tronco pluripotentes induzidas. Testes clínicos estão sendo realizados em hospital na cidade americana de San Diego, na Califórnia.

As chamadas “Natural Killer cells” (NKs) são células do sistema imunológico com um papel muito importante no combate a infecções virais e a células tumorais. Tipicamente, as células imunológicas do organismo reconhecem proteínas na superfície de células “estranhas” e isso ativa a resposta imune (relembre aqui neste post como funciona este processo). As NKs, no entanto, têm a capacidade de reconhecer células estranhas mesmo que estas não apresentem os marcadores de superfície específicos que permitem sua detecção, destruindo ameaças que não são normalmente eliminadas por outras células do sistema imune, como os linfócitos T. Logo, a resposta imune gerada pelas NKs é muito mais rápida e por isso elas ficaram conhecidas como “células assassinas naturais”.
As NKs podem ser isoladas do sangue de pacientes, porém, esta abordagem não fornece o número de células suficiente para ser usado em terapias. A empresa americana Fate Therapeutics, em parceria com a equipe do Dr. Dan Kaufman, do hospital vinculado à Universidade de San Diego (UC San Diego Health), desenvolveu um método para produzir NKs a partir de células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs). A técnica permite obter NKs em grande quantidade e a um custo relativamente baixo, tornando possíveis suas aplicações terapêuticas. A equipe demonstrou em testes pré-clínicos que as NKs derivadas de iPSCs foramcapazes de destruir células tumorais tanto in vitro (em células cancerígenas cultivadas em laboratório) como in vivo (em ratos com câncer).
Uma grande vantagem do uso destas células contra o câncer é que elas podem estar disponíveis de forma imediata quando necessário. Isto significa que elas não precisam ser personalizadas para cada paciente e, portanto, podem ser produzidas, “estocadas” (podem ser congeladas) e utilizadas à medida que for preciso. A terapia desenvolvida pela Fate Therapeutics à base de NKs derivadas de iPSCs recebeu o nome de “FT500”.
Em novembro do ano passado, a FDA (agência regulatória americana) liberou testes clínicos com o FT500. Em fevereiro deste ano, um homem com câncer avançado no cólon, chamado Derek Ruff, foi o primeiro paciente a receber as doses do produto. O procedimento é marcado por ser a primeira vez que uma terapia à base de células derivadas de iPSCs é administrada a um paciente nos Estados Unidos.
Durante a primeira fase dos testes clínicos, Derek recebeu três doses (uma por semana) do FT500. Após 28 dias do início do estudo, nenhum efeito adverso foi observado. Dois outros pacientes também receberam doses equivalentes e estão ainda em período de observação. Nesta primeira fase de testes, o objetivo é avaliar a segurança das doses administradas aos pacientes. O tratamento será feito de duas formas: exclusivamente com o FT500 ou combinando esta terapia com outras já convencionalmente utilizadas (terapias à base de “inibidores de controle imunológico” chamados nivolumab, pembrolizumab e atezolizumab – saiba mais aqui). Os pacientes envolvidos nos testes são pessoas com câncer em estágio avançado, que já tentaram outras terapias, mas não obtiveram bons resultados e que confirmaram a progressão da doença mesmo após o tratamento com inibidores de controle imunológico. Os pacientes que completarem os 28 dias iniciais de observação e permanecerem estáveis receberão mais doses do FT500. No total, 64 pessoas participarão dos testes. Para mais informações sobre este estudo clínico, acesse o website do hospital clicando aqui.
De acordo com o Dr. Kaufman, outros produtos de imunoterapia à base de células NK derivadas de iPSCs para o tratamento do câncer serão lançados em parceria com a Fate Therapeutics e poderão ter a Fase 1 de testes iniciada ainda em 2019.

Fonte: Tudo sobre células tronco


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