sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Empodere-se!


O papel de vítima não precisa ser seu, a menos que você queira!

Hoje vim contar algumas particularidades da minha vida que sempre geram comentários e especulações, com certeza muitas de vocês vão se identificar. Tenho um pouco de dificuldade de entender por que as pessoas acham que tenho que ser e agir "diferente”  só por conviver com o câncer de mama metastático.
TENHO QUE ser diferente do que, cara pálida?
Por que, exatamente, ter uma doença crônica me obriga a ser outra pessoa? Eu sou melhor ou pior que alguém? Não né! Então considere a coluna desse mês um manifesto de todas as mulheres que, como eu, só querem o direito de continuar sendo quem são... com ou sem doença.  

Sim, eu vou sozinha nos médicos, nos exames, nas medicações. Vou dirigindo e cantando, com a mesma animação que você vai para o churrasco do pessoal do clube. Médicos e exames fazem parte da minha rotina. Vou sozinha porque posso, porque gosto e porque acho que não preciso ocupar o tempo de ninguém com algo que eu tenho absoluta capacidade de resolver sozinha. Quando quero, ou preciso de companhia para qualquer coisa relacionada ao tratamento eu PEÇO ajuda. Sempre fui assim, sagitariana independente. Já dei muito trabalho para os meus pais porque na adolescência eu tinha pressa de "não dar satisfação”. Então quero deixar bem claro:  não sou sozinha, as pessoas não são omissas, não estou me isolando e nem escondendo algo. Apenas estou sendo eu!  


Sim, sou festeira e adoro uma balada. Sou movida à música e se tem uma coisa que amo nesta vida é dançar loucamente como se não houvesse amanhã. Irresponsável? Inconsequente? Essa é uma opinião sua. Eu sou adulta, vacinada, pago minhas contas e adivinha só: sei exatamente o que é bom pra mim ou não. "Ela não se cuida, não está  nem aí, jogou tudo para o alto”. Não meu amooor! É justamente o contrário... tudo o que faço é para me trazer mais vida, mais alegria, mais energia.

Nunca me cuidei tanto e jamais me colocaria em risco, afinal, já basta o fantasma da metástase cafungando no meu cangote.  E não, não é fuga... é só juventude mesmo e eu curto a minha "com força”.

A maior parte do tempo eu nem lembro que estou doente. O que não significa que eu esteja "me escondendo da realidade”. A gente é o que a gente pensa e a minha cabeça me diz que sou saudável. Por que então eu deveria viver por aí anunciando meu diagnóstico  e com uma plaquinha  pendurada no pescoço? Eu não! Tô fora.  Acho super normal e respeito quem "vive” a doença o tempo todo e posta cada exame e ida ao hospital como se fosse um evento. Acredito que, para essa pessoa, isso seja importante e combine com sua personalidade. Comigo não  funciona assim e não me sinto obrigada  a falar de câncer o tempo todo só pra você achar que estou "lidando bem com a doença”.  Sim, eu lido muito bem, vivendo normalmente, falando de diversos outros assuntos e sendo eu mesma!


"Tá se fazendo de forte!”

Esse é um clássico do universo oncológico. Se a pessoa tá caidinha, chorosa, postando fotos no melhor estilo "quantos curtir essa guerreira merece” aí tudo bem... combina com a doença. Eu posto foto de minissaia branca indo pra balada dois dias depois da medicação e pronto, cai o mundo... além de inconsequente, tô me fazendo de forte. Aiai... tão difícil agradar né!? Não me acho forte, nem sobrenatural. Só estou sendo uma mulher, jovem,  agitada, que gosta de sair com as amigas, viajar e curtir a vida... como qualquer outra da minha idade.

Decidi escrever sobre isso porque tenho conhecido muitas mulheres que se incomodam com essa vitimização que o câncer impõe.  A verdade nua e crua é que as pessoas (uma grande parte) gosta mesmo é de história triste daquelas que se espremer sai sangue ou lágrimas. Agir diferente do perfil esperado assusta e até faz com que minimizem as dores que passamos.  


Sim, eu sofro, eu tenho medo, eu choro, eu preciso de 2 horas de terapia por semana pra equilibrar tudo o que sinto aqui dentro e tenho uns efeitos colaterais horríveis quando faço determinadas medicações. Mas, não é isso que resume minha vida, essa é só uma parte dela. Então, pare de  julgar quem não "parece” estar doente ou quem quer distância do papel de vítima. Felizmente, a medicina evoluiu muito e, hoje, em muitos casos, é possível levar uma vida absolutamente normal  a maior parte do tempo.

Portanto meninas, não sintam remorso por ser quem são e tratarem a doença da forma que quiserem. 

Empodere-se! 

Se você já é dramática por natureza, continue até ganhar um Oscar.

Se gosta de ser mimada, derrame-se.

Se prefere ser discreta, não se sinta obrigada a anunciar seu diagnóstico.

Mas se você gosta mesmo é de ligar o botão de f* e só lembra do câncer nos dias de compromisso médico... então,  "mode on”!

Seja você! Preocupe-se com a SUA vontade! O que as pessoas pensam e acham é um problema delas e não seu.

A vida (com ou sem doença) é curta demais para vivê-la em função de rótulos e do que os outros acreditam ser o certo para você.  Coloque-se em primeiro lugar! Tome posse da sua vida, das suas escolhas, da sua personalidade, do seu caminho. Só você pode dar ao câncer o espaço que ele merece. Pode ser muito ou quase nada, o que não pode é você deixar de ser você por causa de uma doença.

E eu vou continuar por aqui... cantando alto, de saia curta, viajando, dando virote (com água rs) na balada e fazendo piada da minha situação. Pode não combinar com o câncer (segundo dizem)... Mas combina comigo! E da liberdade de ser eu mesma eu não vou abrir mão! NUNCA!

Beijos,
AnaMi
Crédito das imagens: Acervo pessoal

Fonte: Oncoguia. 






 

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