sexta-feira, 2 de novembro de 2018

"O medo nunca foi da morte, era do desconhecido", diz joinvilense que venceu o câncer de mama


Professora conta como teve forças para encarar a doença que acomete ao menos 59 mil mulheres por ano no Brasil; Desafio foi vencido ao longo de um ano

Janaina Guiguer, 43 anos / Foto: Salmo Duarte / A Notícia
             
Em 2017, a professora de história Janaina Guiguer, 43 anos, sentia que havia chegado ao melhor momento da vida. Havia recém-concluído o mestrado em educação, realizado uma viagem pelas ilhas do Caribe, estava feliz no amor e na família. Foi nesta hora que o anúncio chegou, pronto para tornar cinza uma vida que estava tão colorida: a inflamação encontrada no seio direito, uma íngua que apareceu do dia para a noite, era mesmo um câncer de mama.

A doença enfrentada por Janaina é a que mais acomete as mulheres brasileiras. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa é de que em 2019, 59,7 mil novos casos sejam descobertos, uma média de mil novos casos por ano.
A história de Janaina é a primeira de uma série de três reportagens que serão publicadas pelo "AN" nas próximas sexta-feiras em alusão ao Outubro Rosa, mês de combate ao câncer de mama e que reforça a importância do auto-exame e descoberta precoce da doença.
Ao se deparar com o diagnóstico, Janaina logo perguntou:
— O que faremos agora?
O que viria a seguir era uma série de exames, consultas, sessões de quimioterapia, cirurgia e sessões de radioterapia. Quando o médico informou sobre o diagnóstico, ofereceu também um prazo para tudo acabar: nove meses de tratamento e a rotina normal de volta em menos de um ano. Nem Janaina, nem as pessoas que a rodeavam estavam dispostas a deixar que a doença se tornasse mais importante do que a vida, mesmo que apenas por um ano.
— Nunca deixei de fazer nada por causa do câncer. De sair para jantar, de encontrar minhas amigas. É claro que, depois que recebi a notícia, fui para casa e chorei. Mas o medo nunca foi da morte, era do desconhecido — afirma ela.
Janaina não conseguiu manter o ânimo sozinha. Havia momentos de insegurança e de "medos bobos", mas também a surpresa de receber atenção e carinho até de amigos que já não eram tão próximos. Ela subverteu a velha lógica de que quem está doente não deve ser incomodado: a presença das pessoas garantiu que ela se sentisse acolhida em tempo integral, e nem na hora mais crítica - aquela de colocar a cabeça no travesseiro à noite e refletir sobre o dia - ela tinha preocupações.
— As pessoas me paparicavam, chamavam para cafés. Tinha uma amiga que me ligava todos os dias. Das 16 sessões de quimioterapia, só fui sozinha em uma, por vontade de ir sozinha. Então, quando ia dormir, só conseguia pensar em tudo de bom que aconteceu durante o dia — recorda.
Mais atenção ao corpo e às emoções
A professora nunca foi radical em nada: não é "rata de academia", mas é acostumada a praticar caminhadas; não faz dietas restritivas, mas sempre se alimentou de forma equilibrada. Quando o diagnóstico de câncer de mama veio, ela questionou o oncologista o que teria levado justamente ela a ter a doença.
— Eu não tinha histórico familiar, não fumava, não bebia — diz.
Ela aprendeu dessa forma que, segundo estudos do Inca, em cada 10 casos de câncer de mama, três estão relacionados ao estilo de vida que a pessoa leva, e apenas um é relacionado ao fator genético. Há estudos que apontam que hábitos como tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo, obesidade - principalmente adquirida na fase adulta - e a exposição excessiva ao sol aumentam as chances de incidência da doença.
Exatamente um ano depois que descobriu a inflamação que a levou a buscar o diagnóstico, Janaina encerrou o tratamento. A doença a levou a prestar mais atenção a si mesma, ao corpo e às emoções, e a estar pronta para viver todos os momentos sem se deixar abalar.
Fonte: Cláudia Morriesen

Fonte: AN / Cláudia Morriesen

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