segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Ter fé é o melhor remédio para viver melhor

Não se trata de religião nem de acreditar em milagre. Cultivar o otimismo e a fé na vida ajuda a prevenir doenças, acelera a cura e é garantia de viver melhor. A medicina assina embaixo

Por Marcia Kedouk Fotos Ilustração Marília dos Santos Reis

Deus, energia, otimismo, força do pensamento, esperança. Não importa que nome você dá àquilo que traz conforto, disposição, alegria e segurança nos momentos difíceis. O fato é que quem consegue mentalizar o bem mesmo quando as coisas vão mal e acredita que, no fim, tudo vai dar certo vive melhor. Não se trata de autoajuda barata nem de discurso de Poliana; a ciência e a medicina assinam embaixo e cada vez mais se debruçam sobre o assunto.

O maior estudo já realizado sobre a influência das emoções na saúde saiu da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Para os pesquisadores, satisfação e felicidade teriam a mesma relevância na prevenção de ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (os derrames) do que fatores como idade, peso, tabagismo e condição socioeconômica. Trocando em miúdos, os riscos de alguém que tem fé na vida desenvolver doenças são muito menores do que quem não crê que tudo pode acabar bem. Tem mais: a progressão de uma doença já instalada é mais lenta em quem encara a vida pelo lado bom. Uma das explicações dos cientistas é que indivíduos positivos e comprometidos com o bem-estar costumam ter hábitos mais saudáveis e, por isso, tendem a apresentar pressão sanguínea mais baixa e menos gordura no sangue.

Outra pesquisa, da Universidade de Kentucky, também nos Estados Unidos, chegou a uma conclusão semelhante. Nela, os participantes responderam um questionário para mensurar o grau de otimismo e, na etapa seguinte, receberam uma injeção com antígenos (moléculas que estimulam uma resposta das células do sistema imune). O resultado? Aqueles que apresentaram a pior reação imunológica foram justamente os que avaliaram a si mesmos como pessimistas diante da vida.

A nova saúde


A ciência tem se dedicado tanto a estudar a influência das emoções e das crenças na vida das pessoas que a medicina vem adaptando suas práticas na prevenção e no tratamento de doenças. Desde a década de 1970, importantes hospitais e centros médicos nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e em Israel começaram a criar departamentos que colocam em prática ações que consideram o indivíduo como ser integral, a chamada medicina integrativa. Por exemplo, quando se trata a obesidade, não é apenas o sistema endócrino ou o estômago que estão em questão, mas o ser humano por trás deles, seus medos e anseios, suas dúvidas e certezas. O foco deixa de ser a doença e passa a ser o paciente. “O sintoma é só a ponta do iceberg, são os 10% que ficam para fora da água que encobre algo bem maior”, define o endocrinologista Filippo Pedrinola, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e certificado pelo programa Harvard Body & Mind.

Desde 2006, a medicina integrativa está presente nos hospitais públicos e privados brasileiros incentivando o uso de técnicas como acupuntura, ioga, meditação, exercícios de respiração e massagem como tratamentos paralelos para diversos problemas de saúde. O médico Paulo de Tarso Lima, autor do livro Medicina Integrativa – A Cura pelo Equilíbrio, e responsável pelo grupo de medicina integrativa do Instituto de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, comenta que o país é líder na presença de terapias integrativas no sistema público, mas ainda precisa avançar para conectá- las à medicina tradicional, isto é, saber aplicá-las a fim de tornar o tratamento médico mais suave e confortável para o paciente. Na universidade americana Stanford, que também tem um centro de medicina integrativa, 90% dos mais de 6 mil pacientes com câncer que passaram por sessões de ioga, massagem e outras terapias relataram melhora na disposição e no sono, redução da dor e do stress.

Efeito placebo


O princípio básico dessa mudança na forma de entender o que é ser saudável está na definição da Organização Mundial da Saúde: saúde não implica só na ausência da doença, mas na presença de bemestar físico, mental e social. “Às vezes, a pessoa tem saúde, mas não bem-estar, enquanto há doentes que se sentem muito bem”, compara Tarso Lima.

Um indicador de que a cura não está só nas mãos dos médicos é o efeito placebo. A maioria dos estudos com pessoas que recebem comprimidos sem substâncias ativas mostra bons resultados. Por acreditarem que aquilo faz bem, conseguem melhorar como se estivessem ingerindo a droga. “Trabalhos com ressonância magnética mostram que a atitude positiva interfere na atividade dos neurotransmissores reduzindo o stress e ajudando o corpo a liberar hormônios do bem-estar”, fala Pedrinola.
 Fonte: Boa Forma.

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