domingo, 23 de outubro de 2016

Amizade, leveza e bom humor na luta contra o câncer de mama

À frente do Força Gurias, as gaúchas Dani Israel e Ana Ávila defendem a importância da autoestima e do empoderamento no combate à doença.

Outubro Rosa: Força Gurias (Foto: Gurias Bacannas)
Projeto é movido pelo sentimento de compreensão mútua.


Foi na sala de espera de um consultório médico que as gaúchas Dani Israel, 29, e Ana Ávila, 35, se conheceram. As duas estavam ali para lutar contra o câncer de mama – ambas tinham recebido o diagnóstico dois meses antes, em janeiro, e se preparavam para o início da quimioterapia. Conversando, descobriram que tinham muito mais coisas em comum e encontraram, uma na outra, um apoio extremamente valioso. “Claro que a gente tem amigos, família, faz terapia... Mas também precisa ter alguém que fale a mesma língua, com dores parecidas”, comenta Ana.

É esse sentimento de compreensão mútua que elas querem levar a outras mulheres com câncer de mama por meio do Força Gurias. Na página do projeto no Facebook, que tem mais de 3,5 mil likes, predomina o bom humor, com posts que abordam desde a duração da radioterapia até mudanças na alimentação e looks com turbantes.

Neste mês, elas colocaram no ar um canal no YouTube. Às terças, quem fala é a Dani, que é cineasta e produtora executiva na Bactéria Filmes, além de professora universitária. Seus vídeos são mais voltados a aspectos médicos – por exemplo, o que é e para que serve um dreno após a realização da cirurgia. Às quintas, é a vez da Ana, que tem um blog de moda, o Gurias Bacannas. Em seus vídeos, ela retoma o assunto abordado por Dani, mas com foco em moda e comportamento – se o tema é dreno, ela explica que tipo de roupa ajuda a disfarçá-lo. Uma vez por mês, o canal trará entrevistas com especialistas sobre temas como cirurgia, fisioterapia e quimio.

A ideia surgiu a partir da própria demanda delas por fontes de informação que tratassem do câncer de mama de forma leve e que ajudassem a lidar com os desafios mais mundanos que afetam a vida das pacientes. “Que é traumático, todo mundo já sabe. A gente queria informações sobre como lidar com problemas do dia a dia, que tivessem um astral mais leve, e não encontrava”, diz Ana.

Para Dani, esse quadro pode estar relacionado à questão etária: como o câncer de mama geralmente se manifesta em mulheres mais velhas, os sites voltados à questão acabam não contemplando as pacientes mais jovens, como ela. “Outra coisa importante é o lugar de fala, ou seja, quem está falando para quem. Na internet, encontramos informações ou de médicos, ou de ONGS, ou seja, com um discurso institucional. E a gente queria se enxergar lá também”, destaca a cineasta.

Outubro Rosa: Força Gurias (Foto: Gurias Bacannas)
Ao promover um espaço para a interação entre as próprias mulheres, onde a informação circula de forma horizontal, e não de cima para baixo, Dani e Ana tentam incentivar o empoderamento e a autoestima. E esse fortalecimento emocional faz diferença na hora de enfrentar os desafios impostos pela doença. Pelo menos, é isso que constatam a partir da própria experiência e da troca com outras pacientes. “Ao receber o diagnóstico, eu decidi que queria viver e ia enfrentar essa barra da melhor forma que podia. E qual é a minha melhor forma? Quem é a Dani nessa nova fase? Ao lutar, a gente vai descobrindo o que tem de belo e de bom. Minha autoestima veio dessa redescoberta de quem eu sou”, comenta Dani.

“Eu me preparava para as sessões de quimioterapia como se fosse para uma festa. Eu me maquiava, colocava roupa nova e dizia: ‘estou indo para a minha cura, para algo que me ajuda a viver’. Essa postura me ajudou muito”, acrescenta Ana. Claro que nem sempre é fácil manter o astral lá no alto. Ana viveu um verdadeiro luto ao ter que raspar a cabeça e sabe como a mudança de visual pode ser simbólica e dolorosa para quem tem câncer. Com o tempo, porém, não só aprendeu a curtir as perucas – “com ela, a gente pode brincar de ser quem quiser” –, como descobriu que também é bonita careca.

Essa aprendizagem se materializou num ensaio fotográfico em seu blog. Ela repetiu uma série de retratos que tinha feito antes do diagnóstico, usando as mesmas roupas e adotando as mesmas poses. O resultado você pode ver nas imagens abaixo. “Foi lindo. Eu me senti muito empoderada.”

A busca por ajudar outras mulheres com o Força Gurias acabou tendo um efeito terapêutico para elas mesmas. Segundo Dani, entrar em contato com as histórias de outras pacientes permitiu que descobrissem novas formas de lidar com o problema e desenvolvessem ainda mais o poder de empatia – a capacidade de se identificar com o sentimento de outra pessoa. “Ao falar para elas, também estamos falando para nós mesmas. E, como dizia Freud, a fala cura”, reflete Dani.

Fonte: Galileu.


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