sábado, 21 de fevereiro de 2015

Oliver Sacks publica carta comovente sobre a vida com câncer terminal

Escritor e neurologista fala sobre seu legado e como vai viver os poucos meses que lhe restam. ‘Não posso fingir que não tenho medo. Mas meu sentimento predominante é de gratidão’

O professor e escritor Oliver Sacks
O professor e escritor Oliver Sacks (Getty Images/VEJA)


Oliver Sacks, escritor, neurologista e professor do curso de medicina da Universidade de Nova York, publicou uma carta aberta no jornal americano The New York Times sobre seus últimos meses de vida. Diagnosticado com câncer em fase de metástase, Sacks, de 81 anos, conta que se sentia bem e com saúde, até descobrir a disseminação do tumor pelo seu corpo. “Há nove anos fui diagnosticado com um tumor raro no olho, um melanoma ocular. A radiação e a cirurgia que removeu o tumor me deixaram cego daquele olho, porém, em casos raros ele se torna uma metástase. Eu estou entre os 2% desafortunados”, diz no início do texto.
Apesar da doença terminal, Sacks se mostra grato pela vida e fez de sua carta um comovente texto de despedida. “Eu me sinto feliz por ter usufruído mais nove anos de boa saúde e produtividade desde o diagnóstico original, mas agora estou face a face com a morte. O câncer ocupa um terço do meu fígado, e mesmo que ele avance devagar, este tipo da doença não pode ser parado.”
“Agora, cabe a mim escolher como viver os anos que me restam. Tenho que viver da maneira mais rica, intensa e produtiva possível”, diz Sacks antes de citar o filósofo David Hume, que ao descobrir que morreria aos 65 anos, escreveu sua autobiografia em um dia, em 1776. O escritor se diz sortudo por ter vivido mais de 80 anos, tendo trabalhado no que amava e sendo produtivo. “Nos últimos 15 anos publiquei cinco livros e terminei minha autobiografia (um pouco maior que as poucas páginas de Hume) que será publicada este ano. Também tenho diversos outros livros quase finalizados.”
“Nos últimos dias, pude ver minha vida de outro ângulo, como uma paisagem, e com um forte senso de conexão entre as partes. Isso não significa que me entreguei. Pelo contrário, me sinto intensamente vivo, e eu quero e espero, no tempo que me resta, aprofundar minhas amizades, me despedir das pessoas que amo, escrever mais, viajar se eu tiver forças, e alcançar novos conhecimentos. Mas também haverá tempo para um pouco de diversão (e até algumas tolices).”
“Tenho um novo senso de perspectiva. Não há tempo para o que é trivial. Tenho que focar em mim, no meu trabalho e nos meus amigos”, diz o escritor que promete ficar distante do noticiário, da política e dos problemas ambientais em seus últimos meses de vida. “Isto não é indiferença, mas desapego — ainda me importo com o Oriente Médio, com o aquecimento global, com a igualdade, mas estas coisas não são mais para mim, elas pertencem ao futuro. E eu fico feliz de ver jovens talentosos — como o que diagnosticou minha metástase. Sinto que o futuro está em boas mãos.”
“Não posso fingir que não tenho medo. Mas meu sentimento predominante é a gratidão. Eu amei e fui amado; doei-me e muito me foi dado; eu li, viajei, pensei e escrevi. Eu me relacionei com o mundo, o relacionamento especial entre escritores e leitores. Acima de tudo, eu fui um ser humano ciente, um animal pensante, neste belo planeta, e só isso já foi um enorme privilégio e aventura”, finaliza o escritor.
Sacks é autor de importantes obras literárias, entre elas EnxaquecaO Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu e Tempo de Despertar, texto que inspirou o filme homônimo estrelado por Robert De Niro e Robin Williams, indicado a três estatuetas no Oscar. 
Fonte: Veja.

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