Era fevereiro de 1998, noite de domingo, assim como todos os outros, até então. Doraci Resner, estava em casa, com a sua família, quando passou pelo corredor e se espreguiçou. De imediato, estranhou, pois teve uma sensação diferente. Sentiu algo em seu seio que nunca havia sentido antes. Doraci não tinha o hábito de se auto-examinar. Na manhã seguinte, procurou um médico que fez o exame de ultrassom e concluiu que não era uma enfermidade grave. “Mas meu instinto dizia, que deveria procurar outro médico e realizar mais exames” comenta.
Fez um novo exame que constatou algo, mas precisava de exames mais completos.
Após exames de mamografia e outros procedimentos, Doraci recebeu a notícia mais difícil de sua vida. Estava com câncer. “Perdi o chão, foi barra pesada, tanto para mim quanto para minha família” diz emocionada.
Em abril, fez a cirurgia para retirada de ¼ da mama que havia o tumor, em seguida, teve que fazer longas sessões de quimio e radioterapia. “Lembro como se fosse ontem, das palavras do médico, quando fui diagnosticada com câncer: ‘Você não é a primeira e nem vai ser a última. Vamos te ajudar com 20% os outros 80% cabe à senhora lutar.’ Realmente fui muito forte, pensava em Deus e na minha família” diz.
A cirurgia que retirou o tumor, foi um sucesso. Doraci batalhou muito, nunca parou de trabalhar, mesmo estando aposentada e fazendo as sessões de tratamento contra o câncer. “Tinha muito medo de perder cabelo, mas isso não aconteceu, não precisei raspar o cabelo mesmo com todo o tratamento”.
No ano de 2003, teve que fazer um exame de Raio-x do tórax, era procedimento normal. Foi quando ela recebeu mais uma notícia avassaladora. Foi detectado metástase, que é a formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra, mas sem continuidade entre as duas. As células cancerígenas se desprendem do tumor primário, vão para outro local e se instalam formando um novo tumor. Devido esta metástase, Doraci teve cinco novos tumores, desta vez nos pulmões. Três de um lado e dois do outro. “Começou tudo de novo, achei que iria morrer.” revela.
Teve que reiniciar as sessões de quimioterapia, semanalmente, durante seis meses. Nessa época, Doraci cursava ensino superior em Letras, com especialização em Alemão. Desta vez, as sessões eram mais fortes e a deixavam mais cansada. “Como os sintomas de mal estar apareciam três dias depois das sessões de quimioterapia, eu me programava para que ficasse debilitada apenas nos finais de semana, assim poderia trabalhar e ir a aula os demais dias” relata.
Nesta segunda batalha, Doraci procurou ajuda e fortalecimento em Florianópolis, no CAPC – Centro de Apoio ao Paciente com Câncer. O Centro auxilia no tratamento psicológico do paciente diagnosticado com câncer. Doraci comenta que fez muito bem a ela, tanto que frequenta até hoje.
Ela se emociona ao contar que, durante a luta contra os novos tumores, recebeu a notícia que seria avó. “Foi isso que me deu ainda mais forças, pois precisava conhecer a minha neta.” Após algumas sessões de tratamento, foi detectado que alguns tumores foram desaparecendo de forma gradativa. Hoje em dia, Doraci ainda convive com dois tumores nos pulmões, porém os mesmos se encontram inalterados, não tiveram avanços desde aquela época.
E quando acreditavam que tudo estava controlado, estavam seguindo com todo tratamento para apenas controlar os tumores com os quais Doraci convivia, após um novo exame, em 2009, encontraram um novo tumor. Um novo choque para ela e para a família, afinal, era o terceiro câncer. “Me lembro quando chegava em casa todo dia após as sessões de tratamento, sempre pensava que iria morrer, nunca quis falar nada para ninguém, porque achava que as pessoas teriam pena de mim.” conta.
O câncer era um novo tumor, não era metástase, porém havia se alojado na mesma mama que surgiu o primeiro câncer. Após as injeções, sessões fortes de quimioterapia e radioterapia, Doraci teve que retirar a mama por completo. “Foi complicado lidar com isso, mas estava numa fase que para mim, o mais importante era sobreviver. A estética, já não era o principal”.
Desde então, Doraci faz um tratamento com aplicações de injeção com intervalo de três semanas e exames regulares completos de seis em seis meses. “No fim já me acostumei com a situação. Mas o resultado do exame sempre é um tormento, quando pego os exames na clínica, vou para o banheiro para ver o diagnostico”.
Ela revela, muito emocionada, que todas essas situações fizeram com que ela desse mais valor a pequenas coisas. Que só se percebe a falta que algo faz, quando se perde aquilo. Que ter saúde, é algo normal, mas só quando a enfermidade aparece, que valoriza-se a vida.
Atualmente, Doraci tem 57 anos, trabalha em casa, ajudando na empresa da família, cuidando dos netos e da casa. Participa informalmente como voluntária na Rede Feminina de Combate ao Câncer de Pomerode.
Por fim, depois de todo o sofrimento, ela ainda deixa um recado: “Fazer o auto-exame é fundamental, o câncer pode ser curado quando diagnosticado com antecedência. As chances de se curar são grandes. Depois de tudo, me tornei uma pessoa mais humana. Agradeço a Deus todos os dias, por me fazer forte, por não ter aceitado a sentença de morte que o destino traçava. Eu tinha duas opções, fraquejar perante a dificuldade, ou ir à luta e vencer. Graças a minha fé, ao marido maravilhoso que tenho e as forças que criei junto da minha família, posso dizer em alto e bom tom, eu venci!”