O Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP) vem realizando pesquisas em seres humanos para a criação de um medicamento contra o câncer, produzido a partir de uma erva da Amazônia chamada Avelós.
Trata-se de um estudo inédito no Brasil com pesquisas de erva da flora amazônica cujo objetivo é criar uma nova opção para o tratamento do câncer. O estudo entrará na fase 2, ou seja, somente os pacientes que já estão participando das pesquisas continuarão a ser avaliados até a conclusão do trabalho. Este estudo é realizado em pessoas pela primeira vez no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), instituição com um dos mais avançados centros oncológicos da América Latina.
A planta Avelós (Euphorbia tirucalli), típica das regiões norte e nordeste do País, produz uma seiva semelhante ao látex e já foi estudada por meio da análise de sua ação em células em cultura e em animais.
A erva é utilizada na cultura popular há décadas como planta medicinal, mas sem comprovação científica como benéfica ao tratamento do câncer em humanos. Isso levou à realização de estudos laboratoriais que, de fato, comprovaram uma atividade anti-tumoral de substâncias presentes na Avelós.
"Caso os resultados iniciais sejam positivos, estudos mais aprofundados da ação da Avelós em tumores poderão revelar uma nova geração de medicamentos para o câncer", explica dr. Auro Del Giglio, Gerente do Programa Integrado de Oncologia do Einstein e um dos coordenadores do estudo.
O novo medicamento poderá ser disponibilizado ao mercado depois de avaliada sua eficiência e grau de toxidade, o que será feito após novos estudos que comprovem sua eficácia e sua aprovação pelas instituições responsáveis.
A pesquisa é realizada por meio da parceria entre o IIEP e a PHC Pharma Consulting – empresa de consultoria e assessoria científica, especializada no segmento industrial farmacêutico.
A eficácia do ginseng vermelho está sendo avaliada em laboratório e será testada no próximo ano em pacientes.
Um novo agente foi testado contra o câncer de mama, o mais incidente entre mulheres no Brasil. A substância é feita a partir da Danshen (salvia miltiorrhiza), uma planta da família da Sálvia, também conhecida como Ginseng Vermelho. A molécula inibe o crescimento de células de câncer de mama, conforme revelam experimentos em laboratório. Agora, estudos complementares são conduzidos em animais para que, em 2015, a substância seja testada em pacientes.
Essa pesquisa está sendo co-liderada pelo oncologista Dr. Gilberto Lopes, responsável pelo HCor Onco e professor da Universidade Johns Hopkins, junto a professora Kathy Luo, da Universidade Nanyang (Cingapura). Os primeiros resultados já foram publicados online no periódico científico Cancer Letters, em que o novo agente tem sua funcionalidade descrita. “Os estudos demonstram que essa molécula derivada de medicina tradicional chinesa tem atividade contra o câncer de mama”, afirma o oncologista.
O câncer de mama é o mais comum entre mulheres, respondendo por 22% dos casos novos a cada ano, segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer). A mortalidade da doença continua elevada no Brasil principalmente porque os diagnósticos são feitos apenas quando o câncer já está avançado. Na população mundial, a sobrevida média após cinco anos é de 61%. Neste ano, o INCA estima que mais de 57 mil novos casos sejam diagnosticados. Muitas das medidas preventivas, contudo, são simples de serem adotadas e podem trazer benefícios amplos para a saúde, inclusive para o coração. Em pacientes de alto risco, aquelas com história familiar sugestiva ou risco aumentado segundo ferramentas de análise de risco, o tratamento hormonal pode ser uma alternativa de prevenção ao câncer.
“Novos estudos mostraram que não só o tamoxifeno e o raloxifeno podem ajudar, mas também os inibidores da aromatase, como exemestane e o anastrozol. Controle de peso, dieta saudável e exercícios regulares ajudam na prevenção”, afirma Dr. Lopes.
Embora bem estabelecida com resultados positivos mostrando redução do risco de câncer de mama em vários estudos clínicos, a opção de usar medicamentos preventivamente ainda é pouco conhecida e utilizada. Para o Dr. Gilberto, ela pode ser levada em consideração quando fatores de risco são detectados. “Esses incluem a primeira menstruação em idade jovem, menopausa tardia, primeiro filho em idade mais avançada, história familiar, entre outros. Uma avaliação adequada com especialista e o uso de ferramentas de cálculo de risco podem ajudar a escolher pacientes que poderiam se beneficiar desses medicamentos”, esclarece Dr. Gilberto.
Câncer não é uma doença simples. Cada tipo de tumor tem diversas subclassificações, que requerem estratégias terapêuticas distintas. Para ser eficiente, o tratamento envolve profissionais de diferentes áreas da saúde e isso representa hoje um dos maiores desafios da oncologia.
A partir da glândula que produz a saliva, cientistas desenvolveram em laboratório uma proteína que mata células cancerígenas. Se tratamento for considerado seguro, testes em humanos serão liberados.
Pesquisadores do Instituto Butantan em São Paulo apresentaram um ajudante no combate a alguns tipos de câncer, o carrapato.
Engordados no laboratório e colados na mesa. É assim que os carrapatos produzem saliva para os pesquisadores. O bicho que se alimenta de sangue e pode transmitir doenças graves é estudado no mundo inteiro porque a saliva dele não deixa o sangue coagular.
No Instituto Butantan, os cientistas fizeram uma nova descoberta. A partir da glândula que produz a saliva, eles desenvolveram em laboratório a Amblyomin-X, uma proteína que mata células cancerígenas.
Os testes foram feitos em dois grupos de camundongos com melanoma, o tipo mais grave de câncer de pele. Os que não foram tratados morreram em um mês. No grupo que recebeu a proteína durante 42 dias, o melanoma desapareceu.
Em outro teste, depois de 15 dias, os tumores se espalharam pelo pulmão do animal que não recebeu o tratamento e praticamente não atingiram o pulmão do que foi tratado.
A proteína só mata as células doentes.
“Quando nós fazemos tratamentos, ou regride a massa tumoral ou cura o animal. Além disso, todo o resto do organismo normal se mantém preservado e o animal fica saudável”, aponta a pesquisadora do Instituto Butantan Ana Marisa Chudzinski.
Uma nova etapa da pesquisa vai começar agora. Por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, os pesquisadores vão fazer mais uma rodada de testes em animais, seguindo padrões internacionais, para avaliar, por exemplo, a dose ideal para o tratamento. Essa nova fase deve durar um ano. Se o tratamento for considerado seguro, os testes em humanos serão liberados.
Os pesquisadores estão otimistas porque testes de laboratório em células humanas com tumores de mama, pele e pâncreas já deram bons resultados.
O bicho que surgiu há 60 milhões de anos pode dar um novo rumo à indústria de medicamentos no Brasil.
“Seria a primeira vez que o Brasil passaria a desenvolver uma molécula desde a sua descoberta até a produção industrial. Então acho que para o Brasil é um marco, muda de patamar”, ressalta Chudzinski.
Em uma experiência com ratos, células-tronco foram geneticamente modificadas para produzir toxinas que podem matar tumores no cérebro sem matar as células saudáveis.
Células-tronco geneticamente modificadas podem produzir toxina que 'mata' tumores (Foto: Science Photo/Library)
Cientistas da Escola de Medicina de Harvard descobriram um jeito de transformar células-tronco em "máquinas" para lutar contra o câncer cerebral. Em uma experiência com ratos, as células-tronco foram geneticamente modificadas para produzir toxinas que podem matar tumores no cérebro sem matar as células normais.
Pesquisadores dizem que o próximo passo seria testar esse processo em seres humanos. "Depois de fazer toda a análise molecular e de imagem para controlar a inibição da síntese de proteínas dentro de tumores cerebrais, nós vimos as toxinas matarem as células cancerígenas", explicou Khalid Shah, principal autor da pesquisa e diretor do Laboratório de Neuroterapia no Hospital de Massachusetts e na Escola de Medicina de Harvard.
"Toxinas para matar o câncer têm sido utilizadas com grande sucesso em uma variedade de tumores sanguíneos, mas eles não funcionam bem em tumores sólidos, porque os tumores não são tão acessíveis e as toxinas têm uma vida curta."
Mas geneticamente, a manipulação de células-tronco pode ter mudado tudo isso, segundo Khalid Shah. "Agora, temos células-tronco resistentes a toxinas que podem fazer e liberar essas drogas que matam o câncer", explicou.
Estudo O estudo, publicado no jornal científico "Células-tronco", foi resultado de um trabalho de cientistas do Hospital de Massachusetts e do Instituto de Células-Tronco de Harvard.
Eles passaram muitos anos estudando uma terapia com células-tronco que pudesse curar o câncer – a ideia seria que as células-tronco produzissem algo capaz de matar células cancerígenas, mas que não tivesse efeitos negativos sobre as células normais – ou seja, as células saudáveis não teriam risco algum de serem atingidas pela toxina.
Os cientistas, então, modificaram geneticamente as células-tronco para conseguir fazer isso.
Nos testes em animais, as células-tronco foram colocadas no gel e depois em um tumor cerebral depois de ele ter sido retirado. As células cancerígenas morreram na hora, como se elas não tivessem nenhum tipo de defesa contra a toxina.
Cautela Para Nell Barrie, cientista do Instituto de Pesquisa de Câncer do Reino Unido, o estudo teve resultados excelentes, mas é preciso ter cautela porque ele traz uma "abordagem engenhosa". "Precisamos urgentemente de melhores tratamentos para tumores cerebrais e isso pode ajudar em um tratamento direto exatamente onde ele é necessário."
"Mas até agora a técnica só foi testada em ratos e em células cancerígenas em laboratório. Muito trabalho ainda precisa ser feito antes de nós afirmarmos se esse tratamento é eficiente e pode ajudar os pacientes com tumores cerebrais", completou.
Nell reiterou que esse tipo de pesquisa poderia ajudar a aumentar as taxas de sobrevivência e trazer progresso muito importante para a cura do câncer cerebral. Já Chris Mason, professor de medicina regenerativa na Universidade de Londres, disse que esse estudo é "bastante inteligente e indica que há uma nova onda de tratamentos contra o câncer surgindo".
"Isso mostra que podemos atacar tumores sólidos colocando mini-farmácias dentro do paciente que liberam as toxinas diretamente no tumor." "Essas células-tronco podem fazer tanta coisa. É assim que o futuro será."
Substância de planta encontrada em floresta deu ótimos resultados em testes com animais.
Semente pode ser a chave para a cura do câncerReprodução/ DailyMail
Cientistas australianos acreditam que a semente de um planta encontrada em floresta tropical pode ser a chave para a cura do câncer. Testes iniciais realizados em células cancerosas com a substância EBC-46 (composto extraído do fruto da árvore Blushwood) foi eficaz em 70% dos casos.
De acordo com informações do site DailyMail, os cientistas da QIMR Berghofer Medical Research Institute descobriram que uma única injeção da droga EBC-46 causou uma decomposição rápida de tumores em uma variedade de modelos de tumores.
Glen Boyle, líder do estudo, afirma que os resultados dos testes sugerem que a droga poderia ser eficaz em pacientes humanos.
― Obtemos resultados muito fortes ao injetar o EBC-46 diretamente em amostras de melanoma, cânceres de cabeça, pescoço e colo.
Cinco cariocas, de idades variadas e diferentes partes da cidade, contam como enfrentaram – e venceram – a doença.
Segundo tipo mais frequente no mundo, o câncer de mama é o que mais acomete as mulheres, respondendo por 22% dos novos casos da doença a cada ano. Relativamente raro antes dos 35 anos, acima desta faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente. Apesar de as taxas de mortalidade ainda serem altas no Brasil, o diagnosticado precoce e o tratamento oportuno podem salvar a vida de muitas pacientes. Por isso, é essencial que as mulheres estejam sempre atentas ao próprio corpo e não deixem de fazer os exames de rotina. Neste mês, em que todo o mundo se une em torno desta causa por meio da campanha Outubro Rosa - que tem o objetivo de promover a conscientização e a prevenção da doença - reunimos as histórias de cinco cariocas que podem falar, orgulhosas, "eu venci!". Moradoras de diferentes bairros da cidade e com profissões bem distintas, todas encararam as dificuldades sem fraquejar e enfrentaram, não só o câncer, mas a depressão, o medo, a surpesa de uma gravidez inesperada e mais. Leia seus relatos e inspire-se!
ANA CLÁUDIA FERREIRA, 50 anos
Profissão: dentista - Bairro: Leblon
Como recebeu a notícia de que estava com câncer?
Foi há três anos, eu estava com 47 anos e vivendo plenamente, cuidando dos meus filhos, trabalhando em uma profissão que amo, fazendo diariamente minhas corridas de 8km, namorando... Quando minha médica ginecologista, num exame de rotina, identificou um nódulo na mama esquerda e me orientou a fazer uma biópsia. Demorei três meses até tomar coragem de fazer o exame, com medo do resultado – o que hoje eu sei que foi um grande erro da minha parte, pois quanto antes iniciamos o tratamento, maior é a chance de cura.
E como sua família encarou a notícia?
Na minha família houve outros casos de câncer de mama - minha mãe e uma tia – e, portanto, eu fazia parte do grupo de risco. Desde os 40 anos, realizava anualmente exames de mamografia e ultrassonografia. Com o resultado positivo nas mãos, fui para casa conversar com os meus filhos e planejar como enfrentar o temporal. Uma das primeiras coisas que pensei, sinceramente, foi em terminar o namoro, pois além de ter mais tempo para ficar com meus filhos, sem um outro olhar sobre o meu corpo, ficaria mais fácil de encarar o tratamento. Mas meus filhos sabiamente me alertaram de que justamente naquele momento eu precisava de amor e que eu não terminasse de jeito nenhum. Nesse dia vi meus filhos amadurecerem em questão de segundos bem ali na minha frente.
Qual foi o momento mais difícil do tratamento?
O momento mais difícil é o do desconhecido. As horas que passei com meus próprios pensamentos, momentos de dúvidas, sobre como ficaria após a cirurgia, se os cabelos iam cair durante a quimioterapia ou até mesmo de quanto tempo ainda teria de vida e o que ainda precisava fazer antes de partir.
De onde tirou forças para seguir a luta?
Durante o tratamento, com os cuidados e informações de toda a equipe médica, os pensamentos duvidosos vão dando lugar a uma determinação em direção à cura. Já que tinha de passar por isso, escolhi dar um bom exemplo aos meus filhos. Sem o suporte espiritual, físico e financeiro da família e de amigos queridos, eu não teria, apesar de tudo, boas lembranças de um momento muito difícil e delicado. Eles iam me visitar ou telefonavam sempre com uma palavra de carinho e força, e ainda ajudaram a pagar as contas nos cinco meses em que fiquei sem trabalhar! Parei de pensar no amanhã e comecei a viver o hoje, com Deus no controle.
Como encarou a questão da vaidade?
Li num livro do filósofo Nietzsche, uma frase que me chamou atenção e nunca mais esqueci. Ela diz: "a vaidade é a pele da alma". Assim como, sem a pele, nossos órgãos ficariam expostos e não conseguiríamos nos olhar, sem a vaidade, nossos sentimentos bons ou ruins também ficam expostos, e a vaidade serve como um filtro para o nosso comportamento. Talvez seja isso que uma mulher com câncer de mama sinta, uma exposição sem filtro. Ter um órgão ligado à sua feminilidade alterado, seus cabelos deixando de definir o seu rosto e tendo de lidar com a vaidade de uma maneira tão diferente com um lenço, com novos cabelos, com um novo modelo de sutiã ou biquíni, com uma prótese ou duas... Felizmente, não precisei tirar toda a mama e, como meu tumor foi detectado no início, não fiz quimio, só radioterapia. Por cinco anos tenho de fazer um tratamento de hormonioterapia e visitar o médico oncologista com frequência. Mas quando vou lá, faço questão de ir bem bonita.
O que você pode dizer a outras mulheres que estão enfrentando a mesma doença?
Um amigo me apresentou um versículo bíblico (Isaias 43:2 ) que me deu muita força e eu repetia para os meus pensamentos negativos: "Quando passares pelas águas, Eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando caminhares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti". Portanto, querida parceira e amiga do peito, quando olhar para a cicatriz no seu seio, não veja doença, veja o fechamento de uma etapa, a possibilidade de cura. Ganhamos uma marca nova, uma tatuagem de alguém que passou pela vida.
ANA PAULA MACHADO, 49 anos
Profissão: nutricionista - Bairro: Riachuelo
Como recebeu a notícia de que estava com câncer?
Eu tinha acabado de passar por um período muito complicado. Engravidei e perdi, na primeira vez. Na segunda, engravidei de gêmeos e perdi um dos bebês no terceiro mês. Segui com a gravidez e meu filho nasceu, saudável. Quando ele estava com um ano e nove meses, eu estava tomando banho e realizando o autoexame, quando identifiquei um caroço. Fui à médica do meu trabalho e ela disse que era quase impossível ser câncer, porque eu não tinha histórico familiar e eu fazia exames anualmente e no último deles, alguns meses antes, não tinha aparecido nada. Ainda assim, ela pediu um ultrassom da mama. Fiz e apareceram dois caroços, um em cada mama. Ela pediu, então, a mamografia, que confirmou o primeiro exame. Para ter certeza de que era um tumor, ela pediu uma biópsia e o resultado foi positivo para uma das mamas. Fui ao meu ginecologista, contei tudo o que aconteceu, apresentei os exames e ele confirmou, era câncer. Ele disse que eu tinha duas opções: tratar ou não acompanhar o crescimento do meu filho. É claro que eu sabia que precisava tratar. O ginecologista me indicou um mastologista, que me apresentou um oncologista do Grupo COI. Precisei fazer a mastectomia de uma das mamas e um mês depois iniciei a quimioterapia.
E como sua família encarou a notícia?
Meu marido me apoiou, disse que ficaria ao meu lado o tempo todo, que ia me acompanhar nas sessões. A minha mãe ficava muito com meu filho, mas não se sentia bem de ir ao medico comigo. Mas me deu apoio, me ajudou, cuidava de mim. Meu marido ficou do meu lado até a segunda reconstrução mamária, quando, após 15 dias da operação, ele me disse que estava saindo de casa. Meu filho estava com três anos e meio, eu estava de licença médica e em depressão porque estava me sentindo muito mal. Achava que nada ia dar certo. Neste momento, tirei forças nem sei de onde, mas tive que levantar, sacudir a poeira e voltar a trabalhar e cuidar do meu filho.
Qual foi o momento mais difícil do tratamento?
Tive dois momentos muito difíceis: a mastectomia foi o primeiro. Até o momento em que entrei na sala de cirurgia, o mastologista disse que tentaria não retirar toda a mama. Quando acordei, vi que a mama precisou ser retirada por inteiro e desabei. Eu tinha esperança, achava que seria possível. Isso mexeu muito comigo. O segundo momento muito difícil foi a minha última sessão de quimioterapia. Já era muito difícil encontrar veia, eu sofria muito com essa procura e não queria ir. Meu marido e minha mãe me obrigaram. Foi tão difícil que eles chegaram e pensar em colocar um cateter, mas no fim não foi preciso. Imagine, só. Na última sessão...
Como encarou a questão da vaidade?
A queda do cabelo também me incomodou muito. Os médicos não têm a preocupação com este tipo de coisa, para eles são detalhes. Eu fui à consulta e depois da primeira conversa eu perguntei como eram os sintomas da quimio. A enfermeira disse que logo na primeira sessão cai o cabelo e sugeriu que eu cortasse bem curtinho para não ter muito choque. Cortei chanel e mesmo assim ainda foi um baque. Eu procurava não pentear muito. Mas um dia, antes de dormir, ele simplesmente começou a cair muito, eu me olhei no espelho com as marcas da cirurgia, o cabelo curto, caindo, fiquei abalada. Então resolvi que ia usar peruca, não tive coragem de ficar sem. Quando o tratamento havia terminado, depois da segunda construção da mama, era verão e eu resolvi que precisava tocar a bola para frente. Abandonei a peruca, dei um corte no meu cabelo, pintei, comprei roupas novas, fiz um curso de automaquiagem e segui em frente.
O que você pode dizer a outras mulheres que estão enfrentando a mesma doença?
O conselho que eu daria é: não desista. Pode ser muito difícil, tente tudo, desde a medicina alternativa até o mais pesado dos tratamentos. O que der, porque não é só por filho, por marido, é por você, para você se dar outra chance. Deus te deu uma chance porque alguma coisa tem lá na frente. Ele quer que você veja a vida por outro ângulo.
Qual a sensação de poder dizer "eu venci"?
No meu trabalho, algumas pessoas conhecem a minha história e minhas amigas também. Essas pessoas me dizem sempre: “você é muito forte, você é uma guerreira”. Eu não me vejo assim. Até gostaria de ter essa visão, mas digo que eu não tive escolha. Eu não pude escolher entre lutar ou não lutar. Eu só tinha um caminho à minha frente, que era lutar e vencer.
Comecei sentir meu peito enrijecido e mudando de cor, então fui a uma mastologista e o que era pra ser uma simples consulta se tornou a confirmação de câncer de mama e de uma gravidez. Fiquei sem chão, não queria acreditar que aquilo era comigo, queria acordar daquele pesadelo.
E como sua família encarou a notícia?
Meus pais já se foram e só tenho uma irmã, que mora na Paraíba. Mas meus amigos ficaram a todo momento ao meu lado, são minha família de coração.
Qual foi o momento mais difícil do tratamento?
O tempo todo foi difícil, a começar pela quimioterapia. O que mais me preocupava era não ter a certeza se tudo ia da certo, se eu tinha feito a escolha a certa... Eram tantas dúvidas, pois outros médicos tinham me dito que o correto seria tirar o bebê. Eu tomei a decisão de não seguir essa opção. Durante muitas noites, perdia o sono pensando se minha escolha teria sido realmente a melhor, mas de qualquer forma a opção do aborto não resolveria o meu problema. Eu queria muito ter meu filho e no momento isso se tornou mais importante que a doença, mais até do que minha própria vida.
De onde tirou forças para seguir a luta?
A minha maior força foi a minha fé em Deus, e a vontade de viver pra ver o futuro dos meus dois filhos.
Como encarou a questão da vaidade?
A minha vaidade foi abalada, é claro, eu tinha os cabelos imensos e de repente perdê-los... E ainda mais uma mama também... Mas era preciso seguir para poder obter a cura, então procurei conviver com isso de uma forma resignada.
O que você pode dizer a outras mulheres que estão enfrentando a mesma doença?
Eu lhes digo: assim como com tanta dificuldade eu venci, vocês também vencerão, sejam fortes, tenham fé e autoestima, pois de qualquer maneira sempre seremos o sexo mais bonito e forte, desistir jamais.
Qual a sensação de poder dizer "eu venci"?
Hoje é maravilhoso dizer que eu venci, ver meu filho crescendo cada vez mais forte e agora poder afirmar que eu fiz, sim, a escolha certa. É sensacional viver tudo isso agora. Agradeço muito a Deus e a um anjo que ele colocou em minha vida: o Dr. Luiz Guilherme Pinheiro Branco.
THAÍSA LEITE, 30 anos
Profissão: museóloga - Bairro: Cachambi
Como recebeu a notícia de que estava com câncer?
Perceber que há algo diferente com seu organismo e receber a notícia que está com câncer não é fácil. Não pensei em morte, minha pergunta para a médica foi: o que preciso fazer para resolver? É claro que chorei e senti o peso do tratamento. Tinha completado 25 anos poucos meses antes. Posso dizer que foi um momento difícil, em que foi necessário fazer uma opção e eu escolhi me tratar e fazer o que fosse preciso para ficar bem.
E como sua família encarou a notícia?
Minha família me deu um suporte imprescindível para encarar bem o diagnóstico e o tratamento. Minha mãe, irmãs, sobrinhos e namorado estavam sempre presentes. Imagino que ninguém queira ver um ente querido passando por um tratamento desses, mas encararem o processo com tranquilidade e buscando trazer momentos de descontração para a rotina foi fundamental – estávamos sempre passeando e cada vez era um roteiro e atividade diferente. Eles foram a força extra de que eu precisava. Respeitaram o tempo de cada etapa de tratamento com a dose certa de união e companheirismo e estavam sempre por perto.
Qual foi o momento mais difícil do tratamento?
Confesso que quando a médica me perguntou se eu queria ter filhos foi um momento complicado, pois ter filhos não era uma questão na época para mim e nunca tinha pensado sobre o assunto. Optei por fazer o tratamento de fertilidade antes da quimioterapia, mas o mesmo não foi tão bem sucedido e não poderia repetir, pois teria que adiar o início da medicação. Hoje continuo sem saber se terei filhos ou não, mas aprendi a dar tempo ao tempo.
De onde tirou forças para seguir a luta?
O ano de 2010 foi muito difícil, quando passei pelos tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Ao mesmo tempo, a vontade de viver e ficar bem foram motores e precisava pensar no que faria nos próximos anos. Estava recém-formada, com o mestrado trancado por conta do tratamento, mas quando surgiu a oportunidade de prestar um concurso para minha área de formação, estudei e fiz a prova. Hoje tenho estabilidade financeira e condições de realizar sonhos de viagens que tanto amo. Afinal, a vida não para, só anda num ritmo diferente. É claro que não é fácil passar por um tratamento de câncer, seja ele qual for. Não desejo para ninguém. Mas aprendi que tudo na vida vem num momento e por um motivo que, apesar de fugir ao nosso controle, devemos respeitar e descobrir a melhor forma de vivenciá-lo. Não fiz nenhum tipo de terapia em grupo, bem como não participo de grupos de apoio ou faço trabalho voluntário. Acredito que cada mulher descobre sua própria forma de viver o câncer de mama.
Como encarou a questão da vaidade?
Trato do meu corpo e as mudanças que ele teve com o tratamento de forma muito natural. Pode não estar dentro dos padrões de beleza estabelecidos, mas é o que tenho e me sinto bem e confortável. Vou à praia e exibo minhas cicatrizes sem problemas. Não me sinto uma pessoa tão vaidosa, nem acho que o tratamento tenha alterado muito isso.
O que você pode dizer a outras mulheres que estão enfrentando a mesma doença?
O importante é ter muita paciência, esperança e vontade de ficar bem por mais que apareçam novos obstáculos no seu caminho. Vamos encarar tudo como experiência e oportunidade de melhorar nossa vida. Boa sorte para você que começa ou que está trilhando esse caminho.
Qual a sensação de poder dizer "eu venci"?
Difícil responder a essa pergunta. Ainda tenho mais seis anos de tratamento com tamoxifeno pela frente, faço exames periodicamente e tenho consultas com a oncologista e com a mastologista e, finalmente esse ano, começaram os intervalos de seis meses. Mas, perceber que os momentos mais complicados ficaram para trás e que cada dia de vida é o mais importante na sua vida, é especial. De tudo que aconteceu em minha vida nos últimos anos tenho sempre comigo uma tatuagem com o símbolo do combate ao câncer de mama e um trevo da sorte por ter a certeza de que passar por um tratamento desses é dar mais valor ao que se vive na vida.
ANA MARIA FERNANDES, 51 anos
Profissão: Empresária - Bairro: Lagoa
Como recebeu a notícia de que estava com câncer?
O chão abriu, foi muito difícil, não imagina que um dia isso fosse acontecer comigo, recebi com muita tristeza. Achei que ia morrer.
E como sua família encarou a notícia?
Em primeiro lugar, todos tomaram um susto, mas a família foi tentando entender o que estava acontecendo ao longo do tempo.
Qual foi o momento mais difícil do tratamento?
O momento mais difícil foi quando comecei a perder o cabelo, porque foi nesse momento que a ficha caiu de que eu estava realmente doente e que estava encarando um tratamento difícil.
De onde tirou forças para seguir a luta?
Primeiro, do meu bom humor e segundo, dos meus filhos. Eu olhava para eles e pensava que não podia deixá-los sozinhos naquele momento e que eu tinha a obrigação de me curar.
Como encarou a questão da vaidade?
Antes da queda de cabelo, eu já tinha preparado um kit de sobrevivência. A primeira providência foi mandar fazer uma peruca com a cor e o comprimento do meu cabelo. Mas eu queria tanto estar curada que isso não teve tanta importância, não me preocupei tanto com o fator vaidade, porque tudo se reconstrói. Mas é claro, que eu não andava sem peruca e sem lenço na rua, até para evitar um sentimento de pena nas pessoas.
O que você pode dizer a outras mulheres que estão enfrentando a mesma doença?
Que tudo passa e que elas tomem isso como lição de vida, que deem importância ao que realmente vale a pena, que acreditem na cura, e que façam um diagnóstico precoce, principalmente, porque a chance de cura é sempre maior.
Qual a sensação de poder dizer "eu venci"?
Nem sei dizer qual é a sensação, porque foi bom demais.
Como psicóloga, Elza Fonseca estava acostumada a lidar com as dores do outro. Ao receber o diagnóstico de câncer, passou por várias fases até vencer a depressão
A vida de Elza Fonseca, 58 anos, mudou para sempre em 17 de setembro de 2010. A data marca a cirurgia para a retirada da mama, comprometida por um tumor maligno. A descoberta da doença, em agosto do mesmo ano, foi o ponto de partida de uma odisseia que ainda não acabou, mas que se encaminha para um final feliz. “Sentia muita insegurança e medo. Não sabia se ia conseguir sair dessa”, descreve a psicóloga. Assim como Elza, pacientes com câncer precisam aprender a lidar com a frustração, o medo e o assombro — além do exaustivo tratamento. Por isso, alterações de humor durante o tratamento são comuns: irritabilidade, depressão, tristeza e outros sentimentos negativos podem passar a fazer parte da rotina. O segredo, de acordo com especialistas, é não deixar o desânimo fincar raízes.
No caso de Elza, a tristeza quase conseguiu fixar morada. Acostumada a lidar com problemas de outras pessoas, a psicóloga se viu em um paradoxo: não conseguia controlar os próprios sentimentos. “Comecei a pensar que seria melhor não ter conhecimento nenhum”, desabafa. A insegurança foi, aos poucos, dando lugar à depressão. Angustiada, Elza encontrou na família e nos amigos também psicólogos o amparo emocional que precisava. “Tentei uma consulta com a psicóloga hospitalar, não me identifiquei com ela. Mas o importante é poder falar.”
Externar sentimentos é uma maneira de evitar que a raiva, a tristeza, a angústia ou o estresse evoluam para um quadro depressivo, um transtorno psiquiátrico comum em pacientes oncológicos e que atinge de 22% a 29% deles, de acordo com Cristina Perez, psicóloga e consultora da Fundação do Câncer. “Partindo do princípio de que nossos pensamentos geram nossos sentimentos e, consequentemente, a forma como lidamos com as situações difíceis, o suporte psicológico possibilita ao paciente entendê-los melhor e, assim, aprender a lidar com eles.”
Antidepressivos, técnicas de relaxamento, terapia individual e em grupo são algumas estratégias usadas para prevenir o desenvolvimento da depressão, segundo Cristina. Para pacientes com câncer, a terapia é altamente recomendada no tratamento, embora não seja obrigatória. “É importante que o paciente se sinta à vontade, concorde com a psicoterapia e entenda a sua importância”, reforça.
Era na conversa com os amigos que Elza Fonseca conseguia chorar. “O mais complicado é o olhar do outro. Quando você fala ‘estou com câncer’, é como se estivesse assinando um atestado de óbito.” Quando contou a uma pessoa a quem ela atende que estava doente, por exemplo, foi Elza que precisou consolá-la. O mesmo aconteceu quando foi à cabeleireira raspar os já esparços fios de cabelo remanescentes da quimioterapia. Toda a projeção emocional alheia fez com que seus próprios sentimentos se tornassem ainda mais pesados.
A reviravolta começou quando Elza passou a encarar o problema. Ao se assumir doente e em processo de cura, a confiança reapareceu — trazendo, de lambuja, o bom humor. Ajudar um paciente oncológico a recuperar a vontade de lutar é a prioridade de quem acompanha a doença de perto. Mas nem sempre boas intenções têm resultados positivos. “Quando me falavam que eu tiraria de letra, ficava arrasada”, exemplifica. “Isso não permitia que eu sofresse, não me ajudava a enfrentar a doença com realidade.”
"Por mais que a família esteja presente, o paciente passa pela doença de maneira solitária” - Mônica Marchese, psicóloga
"É comum o paciente dizer que não quer dar trabalho, pois está vendo o familiar cansado, adiando compromissos. Essas coisas precisam ser conversadas. É preciso ter liberdade para dizer ‘hoje eu não posso, mas amanhã estarei com você’” - Raquel França, psicóloga
Pensamento positivo e terapias ocupacionais foram aliados para Rosangélica Thomaz Maya vencer o câncer
Futuro em modo de espera Se doses cavalares de medicamentos e seus efeitos colaterais já não fossem suficientes para alterar o humor de alguém, some a isso procedimentos cirúrgicos e a mudança radical na rotina. Planos adiados ou cancelados por tempo indeterminado também não ajudam a manter o astral lá no alto. Mônica Marchese, psicóloga do Hospital do Câncer 1 do Instituto Nacional de Câncer (Inca), explica que a ansiedade é o sentimento campeão entre os pacientes. A nova organização da vida, segundo a especialista, é uma ruptura traumática. “Receber um diagnóstico de uma doença que muitos ainda associam à morte faz com que aconteça uma bagunça psicológica.”
Nos consultórios, Marchese diz que o medo de não conseguir realizar projetos de vida é uma preocupação recorrente. “É o medo da morte, quando a pessoa se depara com a possibilidade de uma finitude. É comum os pacientes dizerem que não planejam mais o futuro, que querem viver um dia de cada vez. Mas todos precisamos da fantasia de que tem algum sentido viver, como ir para o trabalho, fazer planos”, justifica a psicóloga.
Outra fonte de angústia são os efeitos colaterais, que são erroneamente interpretados como um sinal de que o tratamento não está dando certo. Quanto mais efeitos colaterais, mais apreensão; quanto mais apreensão, piores os efeitos colaterais. “É comum pacientes falarem que da outra vez não enjoaram tanto, que agora nada para no estômago, e começarem uma autopressão”, completa Raquel França, psicóloga e especialista em psicologia da saúde e hospitalar. O que ocorre é que a quimioterapia intoxica o organismo. Muitas vezes, o corpo não teve tempo de se recuperar da última sessão e fica mais fraco.
O empoderamento psicológico é uma parte importante do tratamento. Segundo Raquel França, a psico-oncologia (especialidade que cuida do aspecto emocional do câncer) defende que tratar dos pensamentos também tem efeitos no sistema imunológico — é uma ajuda efetiva no tratamento contra o câncer. “Fazemos um processo psicológico de aceitação da doença, para que o paciente pense sobre o que significa o processo, qual o tratamento e quais suas chances reais”, detalha França. Diferentemente da terapia convencional, em que o paciente aborda os conflitos da vida, a psico-oncologia foca na doença e em como enfrentar o problema da melhor forma possível.
O pensamento positivo foi um dos aliados de Rosangélica Thomaz Maya, 47 anos. Há cinco anos, a servidora pública fez 18 meses de quimioterapia e, atualmente, é considerada curada do câncer de mama. Quando descobriu o nódulo no seio, a primeira reação foi de espanto. A notícia de que teria que passar pela químio e pela radioterapia a fez desabar. Antes do tratamento, seria preciso uma cirurgia de mastectomia total, ou seja, retirar todo o seio. “Foi muito difícil para mim, mas nunca me perguntei por que estava acontecendo comigo. Foi algo que aceitei.”
Para manter o astral elevado, Rosangélica praticava arteterapia na clínica em que se tratava. A atividade a motivava e a ajudava a se manter mais serena. “Eu dormia durante a quimio, de tanto que me sentia acolhida e protegida”, completa. “Conviver com outros pacientes me deu força.” Um curso de meditação fez com que Rosangélica descobrisse outra válvula de escape.
A assistência da família também ajudou no processo. Mesmo assim, o desânimo e a depressão, às vezes, apareciam. “Eu pensava no meu filho, com 8 anos, e me perguntava como seria se eu não ficasse curada.”
"Eu dormia durante a químio, de tanto que me sentia acolhida e protegida. Conviver com outros pacientes me deu força” Rosangélica Thomaz Maya, servidora pública.
Ajuda consciente O câncer não atinge apenas quem recebe o diagnóstico. Para os cuidadores, conviver com a doença e administrar as alterações de humor (do paciente e deles próprios) é tarefa delicada, que exige sensibilidade e paciência. Cristina Perez, psicóloga e consultora da Fundação do Câncer, explica que conhecer a doença já é um bom começo. Entender o tratamento ajuda a ter uma ideia do que o paciente está enfrentando. Mas é preciso cuidado para não tratar o paciente exclusivamente como doente. Colocar-se disponível para conversas, passeios e planos futuros alavanca a autoestima.
A vida de quem cuida do paciente se modifica, e o sentimento de impotência diante dos efeitos da doença é comum. Raquel França, psicóloga e especialista em psicologia da saúde e hospitalar, explica que a intervenção psicólogica em cuidadores é importante para ativar a crítica de que “o acontecimento é mais um acontecimento”, ou seja: a vida não precisa nem deve parar por conta da doença. “É importante que eles arrumem mecanismos, defesas para continuar suas atividades, além de perceber que a rotina demandará uma energia maior”, resume.
Para que o paciente fique bem, é importante que os cuidadores estejam bem. “É comum o paciente dizer que não quer dar trabalho, pois está vendo o familiar cansado, adiando compromissos”, completa Raquel França. “Essas coisas precisam ser conversadas. É preciso ter liberdade para dizer ‘hoje eu não posso, mas amanhã estarei com você’.” Muitas vezes, os cuidadores sentem-se cansados, isolados, estressados ou ansiosos. Todos esses sentimentos são legítimos, mas não ajudam em nada o paciente. “Os cuidadores são menos propensos a procurar apoio. Enquanto um familiar está ajudando o seu ente querido, ele também deve cuidar de si mesmo”, reforça Cristina Perez. “Cuidadores informados e apoiados podem gerenciar melhor os momentos mais difíceis e são mais capazes de verem melhor o valor do cuidado prestado.”
Mônica Marchese, psicóloga do Hospital do Câncer 1 do Instituto Nacional de Câncer (Inca), frisa que estar junto não quer dizer estar misturado. O suporte é importante, porém só o paciente sabe pelo que está passando. “Por mais que a família esteja presente, o paciente passa pela doença de maneira solitária”, reforça. Entender que o tempo do doente é diferente do tempo do cuidador é essencial para não sufocar o paciente. “É importante valorizar essa vivência como uma coisa singular. Cada um vive o câncer de um jeito.”
Fonte: Saúde Plena. Gláucia Chaves - Revista do CB.