Mulheres que fazem tratamentos para câncer de mama, com radiação com ou sem quimioterapia, apresentaram mais problemas de raciocínio e memória poucos anos depois de os procedimento terminarem do que mulheres que nunca tiveram a doença, mostra um novo estudo realizado no Moffitt Cancer Center em Tampa, na Flórida, e publicado na revista "Cancer".
A pesquisa sugere que algumas mulheres sofrem de nebulosidade mental, apelidado de "cérebro químico", durante e logo depois do tratamento com quimioterapia. E um estudo recente descobriu evidências de mudanças na atividade de certas regiões do cérebro em mulheres que passaram por quimioterapia.
Mas alguns especialistas questionaram se esses problemas são causados por alguma droga específica, ou se pelo próprio câncer. No novo relatório, sobreviventes de câncer de mama apresentaram certos déficits mentais, independentemente de terem sido submetidos a quimioterapia.
- É uma coisa muito, muito sutil. Não estamos falando de pacientes que deliram, sofrem de demência ou amnésia - disse Barbara Collins, neuropsicóloga que estuda mudanças cognitivas relacionadas com a quimioterapia no Ottawa Hospital, em Ontário, no Canadá, mas não participou deste estudo.
— Estamos falando de um grupo de pessoas que estão dizendo "eu sou perfeitamente capaz de desempenhar esta função, mas considero mais difícil... não vem com facilidade, e não consigo mais fazer tantas coisas ao mesmo tempo.
O atual estudo envolveu 129 sobreviventes de câncer de mama na faixa dos 50 anos. Cerca de metade delas foi tratada com radiação e quimioterapia, enquanto as outras mulheres apenas receberam a radiação.
Em dois momentos (seis meses depois de terminar o tratamento, e depois de três anos), as mulheres passaram por uma série de testes de memória. Seus resultados foram comparados com as performances de 184 mulheres que nunca tiveram câncer, mas tinham a mesma faixa etária e eram da mesma região.
Em três de cinco modelos de testes de memória, mulheres que passaram pelos dois tipos de tratamento tiveram os mesmos resultados que o grupo de voluntárias que não tiveram câncer. Mas em dois exames, suas performances foram notavelmente mais baixas.
Nos dois momentos (seis meses e três anos depois do tratamento), as sobreviventes da doença pontuaram menos nos testes de "funcionamento executivo", que incluía nomear palavras que começavam com uma letra em particular. E em exames de velocidade de processamento, que incluíam marcar números específicos em listas de letras e números aleatórios, para medir velocidade e concentração, mulheres que receberam apenas a terapia com radiação, ou quimioterapia e a radiação tiveram pontuações mais baixas do que mulheres sem histórico de câncer.
Uma limitação de usar testes para medir a cognição é que eles não deixam claro como exatamente como eles se aplicam à vida cotidiana, disse Paul Jacobsen, do Moffitt Cancer Center e seus colegas escreveram na revista "Cancer" nesta segunda-feira.
Os pesquisadores também não tiveram acesso às habilidades de memória e raciocínio antes de serem diagnosticadas ou tratadas do câncer. As pacientes tratadas com radiação mas sem quimioterapia tiveram a mesma pontuação sobre todas as medidas de habilidade mental que as que foram tratadas com radiação e quimioterapia.
Isso desafia a noção de que a quimioterapia é a causadora de mudanças mentais em pacientes que sobreviveram ao câncer de mama, disseram os pesquisadores.
— As pessoas falam de "cérebro químico", e há uma compreensão generalizada de que se elas têm problemas cognitivo depois de tratarem um câncer é devido ao fato de que passaram por uma quimioterapia — disse Jacobsen. — Nós fornecemos as evidências mais definitivas até agora para os especialistas suspeitarem que a quimioterapia não é a única a contribuir para problemas cognitivos após o câncer de mama.
O que exatamente pode ser a causa, ou causas, ainda está em debate.
— Muito provavelmente tem alguma coisa a ver com o fato de ter câncer, que já afeta a função cognitiva — disse Barbara. — O que é? Pode ser estresse? Pode ser ansiedade? Pode ser depressão? É uma possibilidade.
Pode ser também que a resposta do sistema imunológico ao câncer afete o cérebro, ela disse. Barbara disse que a maioria dos dados aponta para algum efeito mental da quimioterapia em certos pacientes, mas que pequenas diferenças entre os grupos de tratamento poderiam ter sido perdidas nessa análise.
Ainda, ela disse, "não podemos ser muito rápidos para concluir, mesmo que encontremos algumas coisas sutis, que elas são todas devido à quimioterapia. Temos que ser muito cautelosos aqui em termos de compreender quais são os fatores reais.
Ela disse que as mulheres devem saber que lapsos de memória e raciocínio após o tratamento contra câncer de mama tendem a melhorar com o tempo. Muitas mulheres sequer notam qualquer alteração, acrescentou Jacobsen.
Fonte: ZERO HORA.
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