Embora eu tenha nascido no Dia de Finados (sim, acreditem!), nunca foi muito íntima da morte. Quando eu era criança, ficava doente quase sempre no dia do aniversário. Sempre tive medo de ver espíritos e fugi, enquanto pude, dos velórios e enterros.
Quando me tornei jornalista, tive que aprender a lidar com o assunto. Especialmente no período em que fui repórter do Jornal Agora e correspondente da Zero Hora em Rio Grande, foram incontáveis matérias de acidentes, homicídios e latrocínios que fiz, cenas trágicas que visitei. Cobri até a morte de dois prefeitos, o de Rio Grande, Wilson Mattos Branco, em 2000, e o de Jaguarão, Vitor Hugo Rosa, em 2003.
Em 2001, a morte me olhou de frente. Levou minha única irmã, aos 18 anos, vítima de um câncer. No ano passado, meu pai também morreu vítima da mesma doença. O trauma ajudou a entender que não tem muito jeito e que morrer não é uma escolha. Sarcasticamente, a morte faz parte da vida.
Com o tempo, passei a conviver melhor com o assunto mas confesso que, com onascimento da Marina, a coisa degringolou. Não consigo mais ler matérias de acidentes trágicos e não lido bem com as perdas. Mas, mais do que isso, não suporto a ideia de ficar doente e deixar minha filha prematuramente, ou de perdê-la.
Sei que o tema é meio down, mas só falo sobre ele aqui porque a notícia é boa. Aliás, esse foi o assunto do e-mail que hoje pela manhã enviei para a minha mãe e para três amigas próximas para contar que o resultado de um exame que fiz tinha sido positivo (na verdade, negativo, mas com efeito positivo).
No início do mês de maio, fiz a minha primeira mamografia, acompanhada de uma ecografia. Tenho 35 anos e a ideia era apenas um exame de rotina, para servir de parâmetro para os futuros. Mas a médica identificou que eu tinha um nódulo de aparência estranha no seio.
Vivi por semanas a angústia de estar doente. Noites sem dormir, uma montanha-russa de sentimentos. Pensava na Marina, pensava na minha mãe. E pensava até na Angelina Jolie.
A biópsia feita na última quinta-feira indicou que meu nódulo de aparência esquisita é benigno, comum, provavelmente me acompanha há bastante tempo. Um alívio enorme tomou conta de mim de repente. E é por isso que estou contando a história aqui, para celebrar. E é também para aconselhar as mamães que estão me lendo a fazerem seus exames periodicamente.
Saibam vocês que infelizmente nós, as gaúchas, estamos entre as brasileiras com maior risco de desenvolver câncer de mama. Porto Alegre é a capital de mais proporção de casos novos em relação à população feminina, e o Rio Grande do Sul é o segundo Estado em incidência desse tipo de tumor. Fatores como o perfil da população e hábitos nocivos como o tabagismo estão entre as hipóteses para a situação, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Com base em estimativas para o ano de 2012, o Inca aponta incidência de 81 casos para cada 100 mil gaúchas - taxa 54% superior à média nacional de 52,5. Entre as capitais, Porto Alegre assume larga e preocupante vantagem - 125,6 registros por 100 mil mulheres, o que representa 61% a mais do que a média verificada entre essas cidades. Saiba mais sobre o assunto na seção Bem-Estar.
Graças aos avanços da medicina, o câncer de mama tem um percentual muito elevado de cura, se detectado prematuramente. Também há medidas que ajudam a prevenir a doença. Fiquem ligadas e informadas.
Saúde para ver nossos filhos crescerem é o que desejo a todas nós.
Fonte: Zero Hora ClicRBS.